sábado, 26 de dezembro de 2009

FILOSOFANDO SOBRE OS ANOS NOVOS



     
E lá se foi mais um ano, provavelmente o mais difícil da minha existência. Mas como dizia uma antiga amiga sumida no mundo: Quem manda querer viver? Ela talvez tivesse razão,  é provável que o melhor fazer seria, ao invéz de ser protagonista virar mero expectador no espetáculo da vida.
E neste ano, mais do que protagonista, redescobri minha função de aprendiz e a única promessa que faço para o ano vindouro é que ele terá alguém mais maduro e preparado para realmente fazer diferente. Não, não, às lágrimas não deixaram-me em definitivo. Se não se monstram escandalosamente em minhas pálpebras, com certeza ainda jorram lá no fundo de minha alma. Quem manda não ter um coração leviano?
Se é pra ser mero expectador e ter um coração leviano prefiro pagar o alto preço de ser quem eu sou.
Dito isto, vai abaixo minha mensagem de ano novo, velha conhecida do ano passado, mas tão atual e mecânica como o ato de ano a ano, nós, membros do grande rebanho de condenados esperando pacificamente o abate desejamos: Feliz Ano Novo.

Feliz ano novo pra todos. Dito isto, desejo muita saúde, pois, no final das contas, não é comum ver alguém feliz doente. Contudo, é forçoso desejar que todos adoeçam, ao menos uma vez por ano, haja vista que, as nossas chagas farão felizes nossos valorosos médicos. Assim todos sorriem, nós com a cura, e os médicos com os honorários. Desta forma, fiquemos enfermos sim, mas que todos se recuperem loguinho mas... Mas se desejo felicidade a todo mundo, desejo também que alguns, mesmo que poucos, morram, porque é preciso fazer a felicidade do cemitério, agente funerário, padres e pastores que vendem a vida eterna, e porque não, de alguma carpideira que choraria muito se a imortalidade chegasse a terra.

Por isso tenho que desejar muito dinheiro no bolso de todos...porque dinheiro não traz só felicidade...mas também COMPRA...Afinal, é com dinheiro que pagamos os analistas, psiquiatras e adquirimos os prozacs da vida não?

Mas se é para felicidade de todos, desejo que alguns fiquem sem dinheiro, assim poderão fazer a alegria dos bancos (se sufocando no cheque especial ou pedindo empréstimos) ou dos empresários (aceitando subempregos e remuneração baixa). Desejo paz na terra e violência zero...Mas a felicidade de Bush, Blair e tantos outros ditadores depende de muitas guerras e muitas armas vendidas... Então,que seja, que hajam guerras, mas que ao menos o resto do mundo se livre da violência... No entanto, se algum desvairado matar por fome de dinheiro, de poder ou pela "honra" ao menos ele fará feliz algum advogado, juiz e promotor, todos dependentes da imoral e maus costumes sociais.
Enfim, desejo a todos é felicidade mesmo....Seja ela qual for, mesmo aquela que de repente se esconda na dor alheia ou na desgraça total.

Mas antes de tudo, desejo a todos coragem para lutar e ser feliz...ou melhor, lutar para colher os memoráveis momentos, instantes, que são a felicidade nessa vida tão marcada pela tristeza...mas...

Se lhe convém não lutar e chorar baixinho em algum canto escuro, e, se essas lágrimas de alguma forma te martirizem e te faça sentir um ser especial, mesmo que apenas na sua mente... chore, cale-se, enfim feliz ano novo.

By Adriano Cabral

sábado, 19 de dezembro de 2009

É NATAL




Houve um tempo em que as palavras tinham significado. Não que elas tenham perdido sentido, continuam com seu poder, grande poder, força pra construir castelos e destruir Estados. Mas, havia àquelas palavras que só eram proferidas em determinados momentos, momentos quase sagrados. Mas eis aí uma palavra em desuso... Sagrado. Hoje esta palavra é sinônimo de limitado, atrasado ou anacrônico.
‘O essencial é invisível aos olhos’, esta linda frase é só mais uma frase bonita, que entra nos ouvidos, no máximo, rouba-nos um sorriso e se perde no grande mar da retórica ou das consolações inúteis das horas desesperadas. O invisível aos olhos não é mais sentido, quiçá visto. Hoje meu amor é qualquer pessoa que encontramos na esquina, hoje odiamos qualquer um que passe por nós e não diz boa tarde.
A única palavra realmente reinante é o banal. Todas às palavras perderam significados, nos causam meras sensações que duram um segundo, são utilizadas a qualquer momento e cuspidas em qualquer lugar. Toda a palavra que expressa sentimentos está rastejando em algum charco imundo, e quando emerge só pode ser objeto de escarninho desse maravilhoso mundo do pragmático.

É natal e mecanicamente ficamos felizes por uns segundos (ou horas) após a meia-noite para logo esquecermos tudo, inclusive que é natal.

É natal e só se tem na mente que alguém, que não sei bem quem é, diz que eu tenho que dar presentes sorrir muito e não chorar, nem que seja só por hoje.

É natal e o amor, a paz, a esperança, o carinho, a honestidade viraram palavras vazias, desprovidas de sentido, assim como nossas vidas...

É natal, porque é, não porque se acredita em algo, porque não há esperança pra acreditar em algo, porque não há esperança pra acreditar em mais nada.

É natal... E como presente, talvez, uma criança dentro de mim pedisse que as palavras mais uma vez tivessem sentido. Assim o essencial voltava a ser visto apenas nos olhos de alguém que amamos...Ou, no invisível.

By -Adriano Cabral

ANIVERSÁRIO DO BLOG





      Pois é, parece mentira, mas faz exatamente um ano que resolvi abrir este espaço. As razões de sua criação estão lá no capítulo um aqui, coisa de quixote mesmo. Confesso que fiquei um pouco surpreso com a receptividade que tive, até porque meus textos, como diz um amigo meu "não são adequados para blog", geralmente são muito grandes e a linguagem nem sempre é amigável. Uma leitora me disse que quando posto ficção raramente o final é feliz (mais um ponto contra mim, risos).
Um programa monitora o blog, o Google Analytics mostra que foram visitas de 36 países, há obviedades como Portugal e surpresas como Omã, Japão, Arábia Saudita. Depois do Brasil há mais visitas de Portugal, França, Canadá, Estados Unidos, Espanha e Itália.
No Brasil são mais de 148 cidades, ás cinco primeiras em número de visitas são essas abaixo:
1-Recife- 34,50%
2. Belém- 9,47%
3. Sao Paulo -8,58%
4. Rio de Janeiro-7,37%
5. Belo Horizonte 5,27%
Cada vez me encanto mais com minha ignorância do que é o Brasil. Nos últimos meses muita gente de cidades que não tinha idéia que existiam como Porto Real e Apucarana visitaram o blog e já estão na lista das vinte cidades que mais frequentam esse espaço. Toda vez que topo com uma cidade desconhecida assim, minha curiosidade acaba me levando a uma pesquisa, mais uma descoberta e mais aprendizado.
Agradeço de coração neste aniversário a todas às pessoas que conseguiram ver algo de bom nos meus textos, vieram e retornaram, e mais ainda, para aqueles que se dispuserem a comentar. Eu adoro ler os comentários, inclusive os não elogiosos. Mas tenho que citar minha gratidão especial há algumas pessoas que durante esse período me motivaram não só a escrever, mas continuar e até me inspirar e produzir muito mais.
Portanto, valeu grande Sayuri, uma das minhas grandes musas inspiradoras, cada vez que você comenta aqui e cada vez que leio teus textos me lembro porque eu preciso e devo continuar, não só a escrever como compartilhar a riqueza de sentimentos e experiências que o mundo vem me trazendo. Muito obrigado a Mara, minha primeira seguidora que sumiu no mundo, Josy, provavelmente minha leitora mais fiel e grande amiga. Anala, Lívia, Tássio, Thomas, Juliane, Marília e Amanda mineirinha, ler vocês realmente é uma grande fonte de prazer e aprendizado, e indubitavelmente o blog fica mais inteligente quando vocês deixam seus valiosos comentários aqui.
Abaixo vai a lista dos dez textos mais lidos dentre os 48 postados. Vou manter durante um tempo uma enquete para quem quiser e puder, votarem qual foi o melhor texto do ano, dentre os cinco mais lidos. Acima, vai uma velha mensagem de natal que redigi há muito tempo, mas creio que não deixa de ficar atual.
      Muito obrigado de coração a todos, inclusive a você quem me inspirou a escrever o texto provavelmente mais romântico, mais lido, e um dos mais belos que escrevi (Ao menos é o que dizem) Uma das muitas coisas que tenho aprendido é respeitar não só o que sinto agora, mas o que senti profundamente um dia. Sentimentos profundos são raros, e não importa o tamanho da dor que por ventura venha a ser sentida. Algumas histórias, alguns poemas, simplesmente não podem ser apagados.

Lista dos Dez Textos mais Lidos do Primeiro ano do Blog, ao lado, o número de visitas que cada texto teve individualmente:
1- O QUE É PRECISO PARA VIVER UM GRANDE AMOR -845
2-O ESTRANHO -370
3-AMOR ANTES DA PRIMEIRA VISTA -345
4-SÓ, AS VEZES-277
5-A MORTE DO SANTO -247
6-ME DÁ UM BISCOITO-242
7-FORÇAS DO DESTINO-228
8-AMAR NOVAMENTE 226
9-QUASE NADA-221
10-UM BEIJO -200

by- Adriano Cabral

domingo, 13 de dezembro de 2009

UM DIA QUIS SER POETA: SOLIDÃO

     
      Na minha sede insaciável de leitura andei descobrindo blogs muito bons, e curiosamente os que mais gosto ultimamente são os de jovens escritores, com certeza não escrevia, e provavelmente ainda não produzo textos tão bons quanto os que leio hoje em dia. Inspirado neles,fui lá no meu baú e resolvi publicar duas relíquias. São poemas na minha opinião de estilo tosco e provavelmente sem grandes qualidades técnicas, no entanto, o que falta disso há de ter muito sentimento. E vai abaixo dois exemplos do tempo que eu acreditava que podia ser um poeta...




Dor da solidão
Atroz divina
Coração despedaçado
Busca de um amor

Ruínas
Trevas invadem, tomam minha alma
Lágrimas rolaram
Quando ouvi uma canção de amor


O tempo
Corre lentamente
A angústia crescente
O vazio, um sonho ruim
A mais tênue esperança surge
Quando ao longe desponta o brilho de um olhar.

Mares
Decepções, sonhos partidos
Sentimentos degredados pelo fútil
Rejeição, agonia, separação
Vaidade sem sentido
Estou só novamente.

Melancolia
Tudo que resta
Recordações lúgubres, desditosa vida
Espero o fim que o bom Deus destinou-me
Um novo dia nasce afinal, e talvez
A morte acabe para sempre
A dor da solidão.



SÓ MAR

É difícil olhar a imensidão do mar
E não encontrar um ente querido
Mergulhar nas suas entranhas, buscar alguém, não encontrar ninguém
E ficar sozinho, perscrutando as trevas em busca de uma luz para apenas
Ser envolvido pela escuridão erma das águas.

Nadar em desespero, por todos os oceanos
Sentindo o vento gélido como única companhia
A vida perdendo sentido
Torpezas, dor, agonia.

As ondas traem-me
Trazendo-me esperança de boa ventura
Mas ao aproximarem-se, afogam-me na angústia.
É tão difícil olhar a imensidão do mar
Ver e estar entre tantos, e mesmo assim, sentir-se tão só.

By- Adriano Cabral

ps: Textos escritos entre os 14 a 17 anos.

domingo, 6 de dezembro de 2009

AMARO MORREU.



    
      Dr. Gustavo acordou sobressaltado com o barulho de alguém batendo na porta. Era a enfermeira comunicando a chegada de mais um paciente, olhou o relógio, eram duas da manhã. No meio tempo em que recobrou a consciência até chegar á maca, já topou com o paciente morto. O corpo era de um homem com cerca de vinte e cinco anos, estava de bermuda surrada, camiseta e sandálias havaianas. Não portava nenhum documento, fora vítima de atropelamento.

- Deve ter sido algum pinguço que não soube atravessar a rua, falou com desdém o doutor para enfermeira, esta, começou subitamente a chorar. Ta maluca mulher, agora vamos chorar pelos cachaceiros que morrem no plantão? Dito isto, a enfermeira estendeu-lhe um saco plástico, e disse entre soluços que era do defunto. Estupefato com a atitude da colega, Gustavo olhou o conteúdo do pacote: fraldas descartáveis.
Diante daquilo, o doutor tornou-se sério, deu a volta e caminhou em silêncio para o repouso. Talvez se ainda houve lágrimas naquelas pálpebras tão fatigadas de chagas e desgraças humanas do dia-a-dia, talvez ele chorasse.

      Assim como o personagem que ilustra a introdução deste texto, ontem, não sei bem que horas, Amaro morreu vítima de atropelamento. Ligaram-me três vezes para informarem do óbito ou para dar detalhes do funeral. Ao telefone, cada uma expressava um espanto, um constrangimento e um terror. Eu, como quase todo ser humano normal, não sabia muito bem o que dizer para meus interlocutores muito mais próximos ao homem que até antes de ontem existia.
Mas Amaro não existe mais, nem o chamam mais pelo nome, segundo Mônica, uma das que me ligou e reconheceu o amigo de faculdade, o policial e todos ao redor do defunto chamavam-no agora de "o corpo".
Amaro era um homem grave, voz contida, olhar duro, mas sempre educado desde o trajar, andar e falar. Tinha mais ou menos trinta anos, não sei ao certo. Só sei dessas poucas características e que foi meu aluno, sim, meu aluno. Mas confesso, um pouco constrangido, que geralmente ao ouvir notícias fúnebres as trato com certa indiferença. Coração duro, talvez para se proteger da dor infinita diante do fim. Mas neste caso, a notícia de sua morte automaticamente me pôs no lugar de seus amigos, parentes, amores, filhos e toda sorte de pessoas que ficarão órfãs a partir deste dia, e foi inevitável a emoção tomar conta de minha mente tão fatigada da desgraça e das chagas humanas do dia-a-dia.
A morte foi violenta, provavelmente Amaro será levado ao IML local e seu corpo será examinado. Os amigos trocarão histórias, alguns até sorrirão para disfarçar a dor relembrando momentos divertidos do passado. As lágrimas mais abundantes serão dos parentes. E durante muito tempo ele será relembrado até que, também, todos os seus conhecidos sumirão da face da terra.
É isso, Amaro morreu. Foi arrancado da terra, sem direito a recurso, discurso ou protesto, desapareceu. Agora é só um corpo inerte.
      Mas assim como o rapaz, pai de primeira viagem que saiu orgulhoso e apressado no meio da madrugada para comprar fraldas para o filho, Amaro deixou sua marca na terra, e se há realmente um gosto Amargo nos que ficaram, há sim a pungente lembrança de sua doçura que envolveu seus entes queridos.

By Adriano Cabral.

domingo, 29 de novembro de 2009

A Praga da Beleza e a Morte do Indivíduo



(Monalisa se fosse um zumbi da beleza dos dias de hoje)
-Feliz aniversário gata!Agora você vai ficar mais linda ainda! Dito isto, Eduardo estendeu um grande envelope vermelho com laços de fita.
-Jura, você comprou? Jura, jura, jura? Exclamou Ana saltitante.
Seis meses depois o namoro, que durou a eternidade de um ano (o que é muito para as relações amorosas hodiernas) o mesmo casal trava o curioso diálogo.
-Quero de volta!
-Não dou, você não pode tê-los de volta, já devolvi o anel, as flores, os livros, os discos e aquela manada idiota de bichos de pelúcia. Acabou, estou apaixonada pelo Roberto, já estou de aliança, olha!
-Quero meus peitos de volta! Não vou deixar qualquer vagabundo pegar no que é meu e paguei caro por isso. Gritou Eduardo.
Não, não é delírio deste que vos escreve, essa cena é real e aconteceu. É apenas um breve retrato do que tem acontecido nos últimos tempos na nossa zumbilândia. Sim, vivemos numa terra apinhada de zumbis não perceberam? Vou tentar explicar: A sociedade de massa elimina quase que completamente a possibilidade da raça humana de ter individualidade ditando-lhe o que comer, beber, vestir, o que ler, ver, e até mesmo a forma que você pode ou não ter.
Cria necessidades onde não há, constrói e reconstrói o que é belo através de violenta imposição de padrões de moda e beleza via a grande mídia, constrangendo, angustiando e levando pessoas de todas as idades à doentia busca de adequação, e como a objetivo é vender, a busca tem não tem fim. Nesse ponto, morre o indivíduo nasce o zumbi, e quem ousa ir contra a maré é hostilizado e não raro excluído.
Pessoas de todas as idades andam usando aparelhos dentários, jovens são vendidas pelos pais para passar fome e conseguiram "fama" sendo as esqueléticas modelos, agora se faz cirurgia plástica de verão, seres humanos se mutilando em nome da beleza.
A ditadura dos padrões elimina a indivíduo, mina sua personalidade e auto-estima deixam-se de se ter valor não pelo que você é, mas pelo que aparentas ser.
Bruce Willis já foi padrão de beleza dos anos oitenta e o homem sexy daquela década. Não obstante o ar canastrão, não teve escrúpulos de assumir o peso da idade, raspou o cabelo, deixou as rugas vir, e coroou essa "decadência" com muita dignidade no último filme, pouco visto, mas bem simbólico do que se tornou nossa sociedade: Os Substitutos. Nele, seres humanos de poder aquisitivo alto não saem mais de suas casas e se conectam a andróides que correspondem ao padrão de beleza vigente. Através deles os humanos trabalham, caminham e vivem "intensamente" a vida. Num dos trechos mais melancólicos do filme, o sessentão Willis implora a sua mulher que deixe o andróide de lado, declara que sente falta de sua esposa, idosa, com rugas e, sobretudo humana. Ela, na pele do andróide, mesmo sofrendo por dentro, recusa, e deixa-se levar pelo hedonismo a assumir o peso dos anos a degradação do que se chama "belo".
Pois é,  mesmo os astros de cinema envelhecem e até mesmo morrem. Cuidar da saúde é bom, mas a obsessão pela beleza ditada pela mídia é doente, pobre e muito triste.
E cada vez mais deixamos de ser humanos, vivos, tornamo-nos zumbis, coisa.

Vai aqui o link de uma crônica com mesmo tema de autoria de Herbet Viana, vale muito a pena ler:http://bethribeiro.multiply.com/links/item/41
Eis um trecho:
sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem.
Imagem, estética, medidas, beleza.
Nada mais importa.
Não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa.
Não importa o outro, o coletivo.
Jovens não tem mais fé, nem idealismo, nem posição política.
Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada
By Adriano Cabral

sábado, 21 de novembro de 2009

Forças do Destino



      Acabei de ver um filme tolo chamado Forças do Destino. É aquela típica comédia romântica que traz um casal bonitinho demais, no caso específiico Ben Affleck e Sandra Bullock.
Na história, Ben é um homem fechado, tímido, contido em excesso, que está de casamento marcado mas em razão das "forças do destino" ele acaba fazendo uma longa viagem ao lado da espevitada e louca Sandra Bullock, que óbviamente, é o completo oposto dele. No decorrer do filme, como era de se esperar, eles se envolvem e pra "variar" Ben descobre com Sandra o "prazer das coisas simples e tolas", tais como tomar banho de chuva, cair na piscina com roupas e fazer tantas outras loucuras "românticas" que boa parte das pessoas se negam porque tem "gente olhando" ou porque não "quer se expor".
Enquanto Ben flerta com Sandra, sua noiva angustiada com a demora do futuro marido em chegar na cidade onde se casariam, acaba se envolvendo com um ex namorado. Parecia tudo certinho hein? No final Sandra ficaria com Ben e sua até então noiva com o ex.
Bem, quem não quiser saber o final do filme não leia as linhas seguintes. Surpreendentemente no final do filme, no meio de uma tempestade, Ben diz para noiva que a ama muito e que durante a viagem acabou encontrando alguém e ficou indeciso quanto ao seu casamento, no mesmo instante ela tenta explicar que acabou ficando com o ex namorado, no entanto ele interrompe alegando que no meio das dúvidas, percebeu que ele tinha uma visão utópica e tola do amor. Nesta visão boba, o simples fato de amar alguém criaria uma redoma indestrutível na qual ele ficaria totalmente protegido de sentir atração ou até se apaixonar por outra pessoa, no entanto ele se sentiu não só atraído como também apaixonado, mas a dúvida somente reforçou o sentimento superior que é o amor. Justamente ele aprendeu que essa bolha protetora não existe, e o milagre do amor é criar essa camada protetora através da luta diária e constante para manter dois seres unidos (Não exatamente com essas palavras). E em meio a tempestade eles se casam e logo após aparecem como "tolos" beijando-se na praia, na rua, ao sair do carro, enfim como dois "exibicionistas apaixonados" .
Ao terminar o filme confesso que me emocionei, ando mais sensível que o normal, e realmente cada vez tenho mais inveja dessas pessoas (mesmo as fictícias) que tenham alguém que aprecie a boboquice de amar e ser amado.

E quer saber? Já fui um idiota no pior sentido da palavra, despedacei corações e fui cruel com algumas pessoas que talvez não merecessem isso de mim. No processo acabei não só traindo a confiança de terceiros como acabei destruindo a melhor parte de mim mesmo, tudo porque um dia "tive meu coração partido".
Mas quer saber? Hoje me sinto limpo e com o coração puro, não vou mais lamentar pelo meu passado e vou lutar pelo meu futuro e por quem efetivamente queira participar dele.
No mundo dos contos de fadas as relações amorosas são perfeitas, ninguém erra, todo mundo é legal o tempo todo e ninguém magoa brutalmente ninguém. Por causa dessa ladainha imbecil que há tantas pessoas amargas e desencantadas com a vida a dois pois insistem em viver uma ilusão e obviamente o resultado é a desilusão. Aceitar a possibilidade de uma relação onde as pessoas erram, aprendem e se perdoam parece algo abominável demais quando se exige perfeição. Diante dessa insanidade perfeita, as relações tornam-se descartáveis, afinal, perfeição não comporta falhas. Mesmo amando, não estamos imunes a dúvidas, atrações ou até mesmo paixões, mas daí vem a capacidade do ser humano julgar o que é essencial. Conheci muita gente que não quis abrir mão de uma balada, uma viagem, uma paixão, e no processo acabou perdendo o grande amor de sua vida. Essas pessoas não sabiam dosar  que era necessário renunciar o que era efêmero, casual e comum para cultivar o que seria duradouro, profundo e raro.
O problema é que vivemos no auge do individualismo-covarde-emocional onde se prega o "desapego", não da forma budista e cristã, mas apenas como forma de reforçar o seu eu. Só que, cada vez estou mais convencido que o desejo mais secreto de todo ser humano é sentir-se livre o suficiente para se entregar de corpo e alma a alguém, esta sim é talvez a melhor forma de ser livre.
As pessoas, inclusive aparentemente adultas, vivem em função das "frases feitas. O amor não torna seres humanos Deuses impassíveis de falhas. Ao contrário, o amor é uma plantinha rara, mas como todas elas, é muito frágil e qualquer coisa pode sim destruí-lo. Existem talvez muitas pessoas boas por aí, mas pouquíssimas, ou pior,´comumente apenas uma vai inspirar este sentimento raro, e justamente por isso que ás vezes se luta contra o fogo e o tempo para manter essa pessoa conosco.
Quer saber? Sou um tolo romântico, impefeito, cheio de defeitos tal qual qualquer membro da raça humana, mas sei me doar e me dedicar como poucos, sei que sou uma pessoa que  merece o melhor que a vida pode oferecer.
No mundo adulto é apenas o casal que deve decidir e viver sua vida. A vida em comum depende só e únicamente de dois seres e fim.
Não são as forças do destino, os guias espirituais, a astrologia nem as frases feitas que devem guiar nossas vidas, não são os manuais, não são os sábios, não é o amor medieval que se estende até os nossos dias que vão pautar nossas vidas,apenas nós, nós mesmos que devemos viver e encontrar nossos caminhos.
Pense,  ou melhor sinta isso.

Adriano Cabral
Redigido no dia 19/07/2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

As Horas.



Resolvi republicar este "ensaio" sobre As Horas, seja por que pediram, seja porque de repente alguém aprecie sua leitura, afinal, a época que foi publicado o blog não tinha mil visitantes mensais(agradeço a generosidade de todos). Por fim, talvez tenha sido republicado para ajudar alguém a não viver apenas em função das horas.

AS HORAS, comprei o dvd deste filme há mais de quatro anos e ainda estava plastificado. Porque então comprei? A resposta é simples, eu intuía que era um grande filme, afinal tinha boas atrizes e um roteiro inspirado numa renomada escritora Virginia Woolf. E porque demorei tanto para vê-lo? A resposta é mais básica ainda: eu tinha medo, calma, vou explicar. Eu tinha um conhecimento razoável da vida da escritora e concluí logo que o tema do filme seria pesado e sombrio. Provavelmente tocando em temas como o vazio da vida, suicídio e tantos outros temas nada amenos. Como eu andava fraco de espírito não ousei vê-lo, e se o vi agora, é porque finalmente sinto-me mais forte do que nos últimos quatro anos. Como podemos resumir o filme? Trata-se das histórias de três mulheres, Virginia (interpretada com dedicação por Nicole Kidman), Laura (a competente Julianne Moore) e finalmente Clarissa ( a deusa da interpretação Merly Streep). As três histórias têm como núcleo o livro Mrs. Dalloway (escrito em 1923, um dos primeiros livros a adotar o estilo “fluxo da consciência”). Virginia escreve o livro, Laura prepara uma festa para o marido e a todo instante pára para lê-lo se identificando com a personagem principal, por fim, Clarissa prepara uma homenagem para o ex-amante que costumava chamar-la carinhosamente pelo nome da personagem título do livro de Virginia.
          Virginia luta contra própria demência enquanto escreve desesperadamente seu livro. No ato de escrever, cada vez mais ela penetra no seu mundo criado, e afasta-se do mundo “real”. A doença, a solidão, a saudade de um passado e a necessidade de “viver a qualquer custo” vai movendo a personagem que, não obstante a doença, demonstra uma força incomum para lutar pelo, talvez, único bem que ser humano tem: a liberdade. Esta liberdade vai desde viver como deseja até partir da vida quando ela perde o sentido.
      Laura tem um lindo filho, está grávida, tem um marido doce, fiel, completamente apaixonado e dedicado, portanto, ela tem “tudo que uma mulher desejaria”. No entanto, a vida real não é um conto de fadas. A “sociedade” nos fornece “modelos” de felicidade e vida perfeita que, ou não são verossímeis ou pior, quando o são, simplesmente não garantem a tal “felicidade” até porque, por mais que se venda os “modelos” de sucesso, o ser humano é um complexo de indivíduos, e como tal, por mais que aparentemente “devesse” ser feliz, ele pode simplesmente aspirar mais, ou apenas desejar algo diferente. Laura é um desses indivíduos que mesmo com “tudo” de “bom” é uma mulher completamente infeliz e está determinada a por um fim na própria vida já que não sente forças para enfrentar os padrões sociais pré-estabelecidos e encontrar seu próprio caminho de felicidade.
      Clarissa mora com Sally, é uma mulher bem sucedida, inteligente, aparentemente feliz e na parte inicial do filme vemos esta mulher forte dedicando-se a preparar apaixonadamente uma homenagem ao amigo escritor Richard. No desenrolar do filme, mais uma vez, deparamo-nos com o confronto aparências x realidade. Clarissa vai se revelando uma mulher completamente apaixonada, não por Sally, e sim pelo amigo Richard (interpretado com brilhantismo por Ed Harris) que além de aidético, gay, abandonou-a há décadas para ficar com outro homem. O filme avança e percebemos que a única parte da vida de Clarissa que parece fazer sentido tange aos encontros com o moribundo escritor e as lembranças do grande “momento” que compartilharam no passado. Clarissa ama num típico transbordamento de amor, Richard, esquelético, cheio de feridas, trancado num quarto não quer mais viver, e vive apenas em função de Clarissa, e de alguma forma, Richard também a ama, tanto que, em seu momento final pede desculpas a ela por partir e diz que nunca houve um casal tão feliz quanto eles nem nunca haverá, mas estava na hora de ir, ele não podia viver apenas em função das horas...
      A constante entre os três personagens que no final da trama se entrelaçam umbilicalmente, é a “fome de viver”. Virginia não aceita a existência de uma alucinada que mais dá trabalho ao marido do que qualquer coisa, Laura opta pela morte à viver na casa “perfeita” onde era uma estranha, e finalmente Clarissa, não obstante todas as oportunidades que tinha na qualidade de mulher moderna muito bem sucedida, preferia priorizar um relacionamento totalmente longe de qualquer modelo, justamente por ele ser único tão único, tão perfeito, que ela não aceitava nada menos que isso.
      Ed Harris emociona e nos leva a refletir sobre o verdadeiro sentido da vida e do amor. A existência é experiência única, não comporta segundas chances nem repetições, logo, ela ao menos deve ser sugada até a última gota, com toda intensidade que ela pode nos oferecer. O amor não pode se limitar às convenções sociais, as limitações morais, deve ser livre, intenso e pleno. No amor, encontramos aqueles momentos quase “eternos” que nos marcam, nos moldam e acalentam as horas difíceis, até mesmo no último suspiro.
      Virginia teve uma vida plena e privilegiada, mas diante da inevitável invalidez decorrente da insanidade ela prefere a morte, porque fora isso só restariam...
      Laura tentou se adequar aos padrões, buscou agradar “todo mundo” mas era completamente infeliz pois sua vida toda até o momento que tenta o suicídio se resumia apenas....
      Clarissa teve o maior momento de sua vida com Richard, e as poucas vezes que se sentia viva era ao seu lado, por isso mesmo não abria mão desta convivência e dedicava-se a ele como poucas mulheres se dedicam ao marido ou filho porque fora os momentos que teve com ele, sua vida se resumia...

...às horas.

by  Adriano Cabral

sábado, 31 de outubro de 2009

A MORTE DO SANTO


O Santo estava só na cama. Tudo estava claro, mas ele sabia que em breve a escuridão iria tornar-se suprema e a vida deixaria de fazer sentido, pois ele deixaria de existir. Todos estavam orando na sala contígua ao quarto do Santo. Naquele momento, ele estava só. Chorava. Foi a primeira vez que tivera chance de chorar. Não queria que as pessoas que acreditavam nele o vissem daquele jeito, fraco diante do mistério, mistério que para ele muita vez parecera apenas mais uma porta aberta. Mas na sua hora as lágrimas jorraram, pois tinha medo. Sentiu a aproximação de alguém, enxugou as lágrimas rapidamente escondendo sua cabeça no lençol. Ao escutar a estranha voz feminina, ele deixou-se ver, ainda com olhos vermelhos.
— Não precisa mais chorar. Disse ela sorrindo com a voz terna.
Ela caminhou para mais perto e sentou-se numa cadeira ao lado da cama do Santo. Era uma menina ou mulher que aparentava ter cerca de vinte anos, tinha a pele muito alva, sobretudo a tez. Seus olhos eram negros, assim como os longos cabelos. Trajava uma calça jeans e uma camiseta azul com um nome rubro: Forever. Era muito bela a menina.
O Santo foi logo lhe dizendo que não estava chorando, perguntou-lhe quem era e como havia entrado ali. Sentiu que já a conhecia, aquele sorriso lhe era muito familiar. Ela parecia adivinhar-lhe os pensamentos e naquele exato momento assentiu com a cabeça sorrindo mais ainda como se concordasse com suas reflexões.
— Quem é você, criança?
— Ora, o senhor sabe muito bem quem sou. Já me viu várias vezes, falou de mim por tanto tempo que já me considero sua parenta.
— Sinto muito criança, mas jamais te vi. O que queres?
— Que decepção, tinha certeza que o senhor me reconheceria, mas... É a vida né? Dê-me a mão e vamos...
— Vamos? Para onde? Estais maluca criança, daqui não vou a lugar nenhum mesmo se quisesse. Não vês que meu corpo definha, que minhas carnes apodrecem mesmo quando ainda estou vivo, que jamais sairei desta cama com vida? Vieste zombar de mim? Queres que eu vá? Para onde? Disse o Santo quase conseguindo sorrir da proposta da menina.
— De onde vou te levar eu bem sei, mas para onde vais, até para mim é um mistério.
— Se esta é uma brincadeira, ela nasceu sem graça, quem és?
— Uma pergunta fácil, mas de tão difícil resposta. Não sei por que, me dão tantos nomes, mas podes me chamar de Letha. Vim levá-lo, mas, antes, quero conversar consigo.

A face do Santo se transmudou, ficou pálido. Ficou a refletir quem seria o autor de tão pérfida peça. Os pensamentos dele foram interrompidos pela voz da menina que disse:
— Não há perfidez em meus atos e não se trata de uma brincadeira. Diga-se de passagem, levo meu trabalho a sério, raramente falho, mas nem tudo depende de mim. Como eu sei o que você está pensando? Não, não sou nenhum demônio, na verdade nem sei se eles existem. Eu por exemplo nunca vi um. Olha, se o senhor se sentir melhor, pode falar, mas se não quiser pode só pensar mesmo, eu entenderei.
— Então é você mesma? Meu Deus! Como você é diferente. Eu queria fazer algumas perguntas á senhora...
— Por favor, senhor, nada de formalidades, não quero sentir-me velha. Podes me tratar por tu.
— Sangue de Cristo! A senho... Quer dizer... Você poderia deixar para depois? Deixar-me mais um tempinho aqui? Disse o Santo entre lágrimas.
— Mas meu senhor, por essa eu realmente não esperava. Mas não é o senhor que viveu sem pecado, foi bom filho, bom irmão, dedicou toda sua vida à caridade e ao perdão, realizou prodígios vários, como curar doentes, fez chover, multiplicou o pão assim como a nazareno. Não foi o senhor que sempre pregou a vitória sobre a morte e a vida eterna? Não foi o senhor que afirmava conversar com os mortos? E que já consolou tantos da dor da perda?
— Foi sim. Disse o Santo com a voz sumida entres soluços.
— E como agora fica desesperado? Chora como um descrente diante de mim? Como agora vem me implorar para que não o leve? Onde está sua fé agora?
— É que... O Santo não cessava de soluçar. É que... O Santo cerrava os punhos, deitado na cama, ansiava por ter forças para se ajoelhar. Eu, agora diante do fim, não tenho mais certeza de nada. Será que realmente fiz o que fiz? Será que realmente falei com os mortos? Até onde vai a realidade e o que apenas quis ver? As curas eram poder divino ou apenas a força de meus pensamentos? Passei a minha vida inteira crendo que sabia das coisas, que essa hora para mim seria serena, mas agora, diante disso tudo, tenho medo que tenha vivido numa lusão, que tudo que eu fiz tenha sido obra de minha mente que buscava acreditar na minha própria mentira.
A menina parecia confusa com as palavras do Santo e repensava que realmente por esta ela não esperava, o Santo continuava.
— Mas você pode me ajudar, você deve saber o que há do outro lado do mistério, por favor, pelo amor de Deus (se é que ele existe, pensou baixinho) dê-me um consolo, faça-me caminhar de peito aberto para Jesus. Diga-me: como Deus criou as coisas, por que há o mal, por que todos morrem, por que tanta dor?
Se isso é possível, ao escutar tal pergunta vinda do Santo, Letha ficou pálida de espanto e foi respondendo, mas as palavras saíam agora com dificuldade.
— Sinto lhe informar, mas não sei de nada, creio que sei menos que você.
— Mas isso é um absurdo, só através de você é possível se saber alguma coisa... Isso é uma loucura. Rosnou o Santo já em desespero.
— Absurdo? Você vem me falar em absurdo? Essa é boa! Eu venho aqui procurar um Santo e o que vejo? Um velho com medo de morrer... Não, meu caro, eu não sei de nada. Ignoro por que o mal existe e nem sei o que é o mal, nem tão pouco tenho noção do que venha ser o bem. Vocês humanos e, sobretudo, os senhores Santos é que deveriam saber distinguir bem o que são essas coisas e o porquê delas. A dor? Eu não sei o que é dor nem prazer. Talvez um não exista sem o outro... eu? Ah nem sei por que existo, só sei que há muito tempo, não sei o quanto, faço meu trabalho e sou temida por todos os seres vivos. Fazem uma péssima imagem de mim. Mas que culpa tenho? Não entendo por que existo nem sei se algo me criou, só sei que faço o meu trabalho e não consigo parar de fazê-lo. Estou em toda parte, nunca cesso, nem um segundo de descanso e ninguém tem dó de mim, mas tão somente terror ou ódio. Eu não sei de nada, só sei que existo e minha função é essa e dela não posso fugir, tenho apenas que conviver nesta solidão, nesta angústia eterna de nada saber, invejando vocês que têm a chance de partir enquanto eu estou condenada a trabalhar para todo sempre.
— Mas... E os milagres, e Jesus, você não conseguiu pegá-lo... Ele te venceu.
— Olha, para falar a verdade minha memória é péssima. Pense em quantos seres eu já vi e conheci. Mas é claro que deste em específico eu não posso me esquecer. Não me lembro bem o tempo. Só sei que na hora em que fui visitá-lo ele estava implorando pra que eu não o levasse, clamou para que fosse afastado dele o cálice do fim. Contudo, mesmo deixando-o por mais algum tempo, era inevitável chamá-lo, ele tinha ciência disso. E sabe o que ele fez na hora derradeira? Implorou novamente, estava na cruz e chorava copiosamente, dizendo que tinha medo, que o pai dele o havia abandonado. Sabe o que é pior? Eu também havia acreditado nele, pensei que ele era o filho de algum Deus, pensei que na hora em que fosse buscá-lo finalmente estaria alguém me sorrindo de braços abertos, pois ao menos este sabia que retornaria... Mas qual nada! Se ele retornou? Não sei, mas devo lhe adiantar que até hoje não houve ninguém que voltou. Ninguém mesmo, pelo menos que eu saiba. O Gautama, que vocês chamam Buda, quando me viu abraçou-me chorando convulsivamente, poderia ser medo, alívio, felicidade, jamais saberei por que ele nada disse nem pensou. Maomé, muito altivo, pediu-me gentilmente para levá-lo ao outro lado, mas eu não sei como ir para lá, tantos outros, mas... Nada. Nunca consigo lembrar onde os deixo. Gostaria muito de saber para onde vocês vão. Se é que existe algum lugar. Eu sei que você é uma pessoa especial, são poucos igual a você. Em todos eles busquei a resposta para minhas perguntas, mas nunca tive resposta.
— Mentira, você é uma mentirosa, você é uma demônio travestido. Veio aqui para enfraquecer a minha fé. Não, há sim outro lado, há luz, eu sei que há, tem que haver senão nada teria sentido...
— Já imaginou se a natureza quer que alguma coisa faça sentido? Já imaginou que talvez ela não se importe e que não temos a quem recorrer?
— Não acredito em ti. Vem, vem que agora não tenho medo. Vem... Completou o Santo entre lágrimas que agora eram abundantes.

Letha sorriu compassiva e estendeu a mão para o Santo dizendo:
— Você é um bem aventurado, sua fé é tão grande quanto o nosso senhor imaginava, esta foi á última provação da tua crença. Jamais vi fé tão grande e tão pura. Vem comigo que o senhor teu Deus te espera de braços abertos...
E sorrindo, o Santo morreu.
Letha permaneceu no quarto por algum tempo. Se ela tivesse lágrimas estaria chorando. Mais uma vez ela teria que ir, seguindo sem sentido, mas uma vez, ela iria sem resposta. Como todos os seres, ela não sabia para onde iria. Mas neste dia ela soube ao menos o significado da palavra: Piedade.


Adriano Cabral

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

NÃO É FÁCIL



Terminar uma história não é fácil

Não é fácil dizer adeus e pensar que esse adeus pode ser pra sempre
Não é fácil abandonar um sonho, uma semente

Não é fácil desaprender os gestos, as caras e bocas,
Calar as mais sinceras palavras
E não continuar a escrever o desejo do coração
E a história vai chegando ao fim
Não é fácil secar as flores
Não é fácil fingir um não
Não é fácil fechar o livro na metade
Não é fácil escutar a razão

Pra um coração que guarda infinitas esperanças
Um coração que vive e sonha
Acreditando na pureza, na grandeza do sentimento mais simples
Nas conquistas eternas
Nos dias claros e nos dias escuros
Nas noites frias e nas noites quentes

Um coração que vê vida em tudo
Um coração que desafia o mundo
E não tem medo de perder

Mesmo sabendo que não vai ganhar
Não é fácil arriscar o ultimo suspiro
Não é fácil encarar o mesmo sorriso
E não vê o que se via

E não sentir a mesma fantasia
Lembrar de preenchidos dias
E não continuar a escrever
Por que a história chega ao seu fim

Quando nosso coração cansa de lutar sozinho
Os sonhos vão esvaindo em solidão

Mesmo que não seja fácil
Não voltar atrás
Dizer nunca mais
Olhar no teu olhar e me ver indo embora

Deixarei o meu coração
Nos lugares que mesmo sem querer
Sempre me encontrarás
Assim como eu encontro você!

By- Julianne Melo

domingo, 25 de outubro de 2009

SEGREDOS DE UM SER ROBOTIZADO PARTE 1

Como sabes que o amo meu amigo?
Seriam as muitas estrelas que á noite em palestra contam tudo pra você?
Ou tens o dom de discernir meus sentidos que tanto ás vezes
Sufoco
Escondo
E nem ligo?

Como sabes que o amo? Como sabes meus segredos se eu nunca te contei?
Será que as muitas estrelas que á noite contigo conversam também te dizes que sou um ser robotizado?
E mesmo sendo robô também as entende?
Dizem-te que um ser robotizado também sofre, e sofre muito mais por sofrer calado?
E que nas noites, sozinho em seu quarto também verte lágrimas de ferrugem?

Será que as muitas estrelas também te dizem que eu sei que viver por viver assim sem tua presença a felicidade parece algo impossível?
Mesmo assim, eu te digo
Não me procure
Não me olhe
Não me ame
Não tente me entender.

Autora: Helena Souza

Quer descobrir como surgiu esse poema? leia a continuação logo abaixo.

SEGREDOS DE UM SER ROBOTIZADO PARTE 2



- O que você tem pra falar comigo?
- Poderíamos ir para um lugar mais...Privado?
- Eu não me lembro de ter absolutamente nada para falar contigo que exija privacidade. Ao dizer isso ela deu uma risada estrondosa que foi acompanhada por um pequeno grupo que a rodeava. Fiquei paralisado por alguns instantes, vergonha, medo, angústia, desespero, pegue tudo isso e ponha no liquidificador da impotência e então talvez você tenha uma vaga idéia do que estava sentindo.
- Você acha justo me tratar assim na frente de todo mundo? Indaguei com a voz trêmula, fraca que saiu da minha boca mais como um apelo do que uma pergunta. Ao ouvir-me ela voltou-se para mim com brasas nos olhos, mas a voz que saía dela era cruelmente plácida:
- Eu não tenho absolutamente nada para tratar com você. Pare de me fazer passar por ridícula diante de meus amigos. Pare de me perseguir, pare de me ligar, pare de ir á minha casa, enfim tenha o mínimo de vergonha na cara, dignidade e desapareça. Se existe alguma coisa dentro de você que ainda goste, não me dirija à palavra seu maluco.
Estas últimas palavras soaram para mim como uma sentença de morte, senti todos os meus membros se debilitarem, faltou-me ar, meus olhos ardiam e um líquido começou a brotar deles, as minhas cordas vocais não tiveram forças para dizer mais nada, apenas vi a pequena figura ir embora sorrindo com seu séqüito. Como é possível que as palavras possam ter um efeito tão esmagador sobre uma pessoa.
Parece que foi ontem, mas já se passaram meses quando eu e Helena estávamos numa festa. Ela praticamente foi “forçada” a ir diante dos meus insistentes convites. Adorava-a como amiga. Era evangélica, de uma dessas denominações que considera a maioria das coisas é pecado. A mãe morrera há alguns meses, residia com uma das irmãs, éramos vizinhos e seu pai morava em outro bairro distante. Naquela noite ficamos juntos o tempo todo, só nós. Ela tentou me beijar, eu recusei, porque? Contaminado pelo romantismo alencariano[1] só queria beijar a mulher da minha vida, nada mais, nada menos. Portanto, antes do primeiro beijo eu tinha que ter certeza que ela seria o amor de minha vida. Apenas nos abraçamos. Pela manhã acordei ouvindo pássaros, o dia estava mais bonito, senti-me abençoado pelo amor. À tarde fui a casa dela, queria beijá-la, no entanto ela partira para residência paterna deixando bem claro para irmã que não queria ser encontrada.
Helena voltou muitos meses depois enquanto eu alternava entre o desespero e euforia, sentindo-a hora longe hora bem distante apenas aguardando o reencontro. Mas a minha doce Helena não retornara, e sim uma mulher fria, dura, ácida, insolente e não raro mal educada.
Todas as minhas tentativas de aproximação foram vãs, ou eram ignoradas ou rechaçadas de forma dura. Todos no bairro já sabiam do rapaz “boboca” que era rejeitado pela irmã da assembléia de Deus. A minha mãe detestava Helena mesmo sem a conhecer, que mãe vai gostar de alguém que faz seu filho sofrer?
Chovia torrencialmente e eu acabara de bater bola com os amigos, estava enlameado da cabeça aos pés, mesmo com a dificuldade de enxergar por causa do dilúvio consegui ver na janela do primeira andar a figura de Helena que estava parada como presa a uma moldura. Não resisti e entrei em seu jardim oculto pela vegetação. Ela naquele momento lembrava a minha Helena, olhar plácido, doce e ousaria dizer que seus pensamentos estavam em mim. Enleado por esse momento comecei a declamar em voz alta o poema Via Láctea[2], ao ouvir minha voz seus olhos encontraram os meus e da sua boca soprou um sorriso, nele fui tragado para dentro dela e ela para dentro de mim e enquanto a chuva castigava a terra o céu era como um pálio aberto onde só se via estrelas ofuscadas por dois astros que cintilavam mais do que qualquer nova, nutridos pelo infinito poder do amor.
Mas o que te interessa é saber que estamos de volta ao momento em que fui morto pela até então minha adorada e amada Helena. Fiquei horas lá, parado, não sei se de pé ou sentado tentando encontrar o que restara de minha alma, e porque não, dignidade. Quando me ergui vi ao longe a maldita sentada no banco da praça sozinha, olhos baixos. Aproximei-me dela velozmente, queria também ferí-la tentaria dizer algo odioso, queria vê-la chorar, queria sentir ela sofrer tanto quanto eu, queria matá-la de dentro de mim, deveria odiá-la. Quando cheguei bem perto e gritei seu nome ela fuzilou-me e mais uma vez fui paralisado. Não, não foi ódio nem de desdém que encontrei naquele instante, e sim amor e dor. Numa ebulição de euforia, medo, dor, alegria e dúvida fiquei indagando repetidamente se ela me amava. Ela desviava o olhar sem cessar, cada pergunta parecia violá-la de alguma forma, parecia desnudá-la a força, ela tentava fugir do meu olhar e acabou efetivamente fugindo para o meu desespero. Mais tarde procurei amigos para me consolar, destacava todas as tintas ruins daquele “relacionamento” e eles obviamente faziam coro para eu deixá-la de lado. À noite, só no meu quarto, não pude conter as lágrimas. Minha mãe ouviu meu lamento, entrou no quarto e abraçou-me. Eu também a utilizei como suporte para me livrar daquele amor que doía tanto. Era mais fácil fazer com que os outros a odiassem e repetissem pra mim que ela não me merecia, afinal, quem realmente vai entender o que se passa entre um casal apaixonado a não ser eles mesmos? A campainha gritou, minha mãe foi atender, fiquei no quarto. Ela retornou gaguejando, dizendo que não era ninguém, insisti em saber, ela a contragosto disse que era a menina maluca que fazia seu filho sofrer, mostrou-me uma carta que acabara de ser entregue pela maluca estava assinada: Helena Souza. Na carta estava o poema.
Só tive notícias dela cinco anos depois. Alguém começou a ligar-me sem se identificar e dizia querer apenas ter o prazer de ouvir a minha voz. Com o tempo ela se revelou e disse que estava casada há quatro anos, contudo, jamais deixara de pensar em mim. Tentei entender o porque dela ter fugido e ela resumiu: Nunca acreditei que alguém pudesse me amar tanto e que eu merecesse ser tão feliz, por isso tive medo e fugi, claro que não era isso que dizia pra mim mesma na época, só tentava ver defeitos ou me apegar a mágoa de ter sido "rejeitada" por ti no início.
      Creio que deve ser muito triste passar uma vida inteira sem jamais ter encontrado um grande amor, mas tenho certeza que deve ser muito mais cruel encontrar e simplesmente deixá-lo ir, seja por insegurança, seja por pânico apegando-se desesperadamente as mágoas e nela encontrando forças para sufocar os bons sentimentos, sejá lá pelo motivo que for.
Ela deveria ter entendido as estrelas, deveria ter compreendido que no final das contas, alguns encontros são tão raros e valiosos que pouca coisa deveria ser capaz de causar o desencontro, e que, ficarmos efetivamente juntos era a única coisa que realmente importava. A única.
Desliguei o telefone e ficamos em silêncio.

[1] Referência ao escritor cearense José de Alencar, uma da figuras máximas do romantismo brasileiro.
[2] Poema de Olavo Bilac, fala de alguém que todas as noites se comunica com as estrelas por sentir e entender o amor. Nota-se que o poema “segredos de um ser robotizado” é inspirado no do poeta parnasiano.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

TWITTER - O QUE ESTÁ POR TRÁS DA FERRAMENTA, AGORA A PALAVRA DO CRIADOR



Há alguns dias postei um pequeno "artigo" especulativo do que estaria por trás da "nova onda do Twitter". Confesso que não obstante os dados apresentados tudo, até então, não passava de meras ilações deduzidas através de construções argumentativas lógicas depreendidas do meu ponto de vista. Isso gerou um certo debate, tanto aqui como em algumas comunidades de orkut, uns concordando, outros discordando completamente da idéia que o Twitter seria nada mais nada menos de que um instrumento de publicidade barata travestido de Rede Social ou mais um "inocente" modo de se expor desnecessariamente e "sinteticamente". Agora vai abaixo a palavra do criador do Twitter corroborando as minhas especulações. E você tem ou mantém o Twitter porque?

Internautas vão descobrir fórmula para ganhar dinheiro com Twitter, diz criador do site
Rodrigo Flores
Jack Dorsey, 32, é um homem de poucas palavras. Tímido e objetivo, na avaliação informal dos que puderam dividir jantares e mesas de bar com ele no último final de semana na Cidade do México, durante a segunda edição da Alliance of Youth Movements, evento que reúne especialistas em tecnologia e jovens engajados em causas sociais pelo mundo.
Das poucas palavras de Jack surgiu em 2006 o Twitter.com, um site que permite a publicação de mensagens com no máximo 140 caracteres. Três anos depois, o Twitter é um fenômeno mundial e a rede social que mais cresce no Brasil.
Jack Dorsey: "Uso muito os serviços por SMS. Sigo 25 pessoas pelo SMS, e recebo uma mensagem sempre que eles atualizam. Para todas as outras pessoas que eu sigo pela web ( 670), geralmente eu verifico atualizações a cada hora"
Mas Jack Dorsey tem muito a dizer. Pelo menos, é assim que pensam os seus mais de um milhão e trezentos mil seguidores no twitter. No mundo virtual que ele criou, Jack é mais popular que o ator e político Arnold Schwarzenegger, que o cantor Lenny Kravitz e que a tenista Serena Williams. E o número de seguidores cresce diariamente.
De olho na receita
Apesar da popularidade do serviço, Dorsey ainda persegue a fórmula que fará do Twitter um sucesso comercial. "A companhia está focada em fazer dinheiro. Nós precisamos pensar assim", afirmou. A solução, segundo ele, deve surgir da própria comunidade de usuários do serviço. "Queremos soluções que fortaleçam a comunidade e tragam mais pessoas."
De olho em formas de monetizar Twitter, Dorsey defendeu inclusive os usuários que recebem dinheiro de empresas para publicar mensagens, o chamado tweet pago. "Acho útil que as pessoas estejam fazendo isso", afirmou. Questionado sobre parcerias com operadoras de telefonia para dividir a receita obtida com SMS e outros serviços, ele argumentou que o modelo não se sustenta no longo prazo. "Não é o modelo que queremos. Depender das operadoras não é uma boa."

FONTE: UOL  LINK: http://tecnologia.uol.com.br/ultnot/2009/10/21/ult4213u863.jhtm

domingo, 18 de outubro de 2009

SÓ, AS VEZES.


Já faz séculos que a gente não se vê
Mas ainda, na calada da noite escuto sua voz no meu ouvido, então meu coração,
Só, às vezes, se comprime em meu peito.


Eu não ligo mais pra isso tudo,
Hoje o tudo é nada,
E nada vai fazer o tempo voltar pra trás.
E não é isso o que eu quero.
Já faz tempo que a gente não se fala
E quase esqueci daquele beijo...

Já houve outras, outras pessoas...

Mas quando eu passo naquele lugar, e está tudo vazio, lembro daquele momento em que num beijo quase fomos um, e

Só, às vezes sinto um pouco de saudade de você.

Já faz muito tempo que não passo o dia inteiro com você dentro de mim

Agora outra pessoa ocupa seu lugar. Mas às vezes fico na tolice em comparar e

Só, às vezes, lembro que nada foi tão divertido, intenso, marcante, insano e mágico como eu e você.

E talvez numa noite fria, trancada no meu quarto, bate uma angústia difícil de suportar,uma dor que eu todo dia tento pensar que foi esquecida, mas ela vem, forte e desespera, é a dor de não mais estar ao teu lado escrevendo novas histórias.

Então tento recordar de outras dores, das lágrimas, das palavras duras, das acusações, seleciono cuidadosamente tudo de ruim que fomos acrescento o que nem aconteceu, preciso desta dor, e ao sentí-la,

Só, às vezes isso me consola.

Já faz tanto tempo, que nem me lembro mais

Tudo coisa de criança, delírio de alguém que não sabia como andar,

Deixei as dúvidas para trás e caminho a passos largos para o futuro certo.

Só não entendo, se ainda depois de tanto tempo,

Só, só às vezes, sinto tanta vontade de chorar...
...e choro.

Adriano Cabral.

domingo, 11 de outubro de 2009

Twitter - O QUE PODE ESTAR POR TRÁS DESSA NOVA "MANIA"



Twitter, na tradução livre do inglês para o português, significa pronunciar uma série de pequenos sons, como um pássaro. É uma das novas "manias" da internet, a princípio uma inocente ferramente de comunicação onde as pessoas podem conversar umas com as outras limitando o papo a 140 caracteres. Lembra um pouco o blog, mas a limitação de números de caracteres diferencia-o bastante dele. Seria o blog dos preguiçosos de ler e escrever? Ou apenas uma versão "dinâmica" do orkut? Lembra muito os velhos bate papos, a exemplo do IRC, só que este não expunha tanto os usuários.
Eu não sei explicar a natureza da ferramenta, mas posso tentar explicar pra que ela exatamente serve. Praticamente todos os meios de comunicação falam do Twiitter, exaltam suas qualidades, apontam sua eficiência, exageram sua importância. Toda hora temos uma notícia falando do Twitter e sempre perguntando ao leitor ou ouvinte: Quando você vai aderir a "nova onda". Mas porque isso? Simples, o Twitter vem se tornando o meio mais barato e eficiente de propaganda das grandes empresas. Até 2008 36 das 100 maiores empresas dos Estados Unidos aderiram. Aqui no brasil "todo mundo" está tentando aproveitar a oportunidade de contato direto com o consumidor de forma barata e eficiente desnaturando sua função pura de ser mais uma rede social.
Pear Analytics instituto de pesquisa norte americano constatou que, não obstante as tentativas dos conglomerados de explorarem o Twitter, 40% do que é enviado na rede é classificada como bobagem, e apenas 8% como de alto valor.
O fato é que o Twitter, na minha opinião, é uma forma de exposição desnecessária da nossa intimidade e do dia a dia ou apenas um grande spam para grandes empresas. Mas o efeito manada continua, e a rede no brasil cresceu cerca de 900%.
Vivemos uma era onde as pessoas estão cada vez mais isoladas ocupadas com seus estudos e trabalhos sem fim e até mesmo grandes amigos resumem seu contato com o próximo através de sms ou Twittando. Selton Mello relatou que entrou em depressão de tanto viajar fazendo filmes, longe da família e de amigos. Provavelmente, se não fosse o testemunho do mesmo, todos só o veriam como uma figura exemplo de sucesso.
Você já aderiu ao Twiitter? Eu respondo por mim, não aderi ainda nem jamais vou aderir. A não ser que tenha algo para vender.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

AMOR ANTES DA PRIMEIRA VISTA




Descobri hoje que estou amando. Foi quando ao acordar, tive a invencível necessidade de ir até a janela em busca do mar azul ou verde que nunca contemplei, a não ser em meus sonhos. Foi quando na madrugada vazia, onde todos dormem, nós estávamos acordados, a sós, mas juntos, na solidão de nossos quartos falando palavras mudas, mas cheia de sentimentos que gritavam e tocavam nossa pele, entravam em nossas narinas.

E o que é o amor senão a luz invisível que está contida dentro de uma outra pessoa, luz só nós vemos. O que é o amor senão ansiar pela presença, se regozijar em sentir o sorrir da pessoa amada, mesmo que o sorriso às vezes seja de outro ...

Descobri hoje que amo. Foi na madrugada, quando OU-vi as lágrimas descerem do azul ou verde mar, queimar a face macia, e desaguar no chão estério. Foi quando ou-VI palavras mudas que me falavam da dor que é amar, do sofrer que é amar, da solidão que é amar. Estávamos sós, juntos, em comunhão, ligados por uma força desconhecida, mas não pude pegar em sua mão, confortá-la, só balbuciar algumas palavras sem poder conter o vulcão de lágrimas em chamas. Restou-me apenas sentir em minha pele sua alma que se desmanchava diante da janela...

O que é o amor senão o sofrer, o morrer, o caminhar ébrio para uma felicidade eterna que SEMPRE acaba? O que é o amor senão arrancar a pele, se despir da moral, da vaidade, de si mesmo, e se jogar num precipício sem fundo?


Descobri hoje o amor. Foi quando senti saudades de alguém que nunca vi, e provavelmente nunca verei. Foi quando busquei na janela seu olhar e só vi o frio, o plástico vidro metal. Mas ela estava ao meu lado, estava junto de mim, então eu pude naquele momento ser feliz.
O que é o amor senão o prazer de estar ao lado? A sensação de que alguém especial está ali com vc para sempre. Sentir que alguém que um dia alguém sonhou, alguém que veio ao mundo para me ver, só isso, está ao meu lado... eu não sei que amor está agora contido em meu peito só sei que amo.

Amo e descobri hoje, eu sei que ela vai estar lendo agora estas palavras e pensando, se será possível esse amor. Ele é possível e existe, só que está fadado a permanecer sozinho longe, longe... do seu lado.

Amo e não tenho coragem de olhar na face! na verdade não há face, não há o poderoso olhar...

Apenas vidro, metal e plástico. E um raio cruzando os oceanos agora só pra te dizer que te amo.

Olho e sempre estarei na janela, esperando tu aparecer... mesmo sem nunca te ver...

Vivo Na Ira de amar....

Adriano Cabral 1998

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CREPÚSCULO DOS DEUSES



Piedade após agonizar anos numa longa peregrinação cheia de hospitais, dor, esperança e desalento morreu em maio. Há um ano seu José, sertanejo, um forte, foi arrancado da vida literalmente, um choque. Elisa tinha apenas 18 anos quando sua cabeça começou a doer, duras horas depois ela estava morta. Ontem a boa professora Gilda morreu num violento infarto fulminante. Em algum lugar duas pessoas que pareciam ser eternas juntas se separaram da forma mais estúpida possível, assassinando dois seres em vida, o chamado crime perfeito que deixa suspeitos.
É a primeira vez que meus anos se passam e estou com essa espaçosinho ora pretencioso, ora "grandioso" mas que na verdade tem sido uma das poucas fontes de prazer que tenho tido nos últimos meses. Nesses momentos acho que é inevitável uma reflexão sobre o que foi sua vida, o que ela tem sido, e pra onde ela poderá ir afinal. O poderá é muito forte, afinal, a vida presente dado sem perguntas é retirada com a mesma cerimônia, nenhuma. E no limiar da jornada da existência eu tenho aproveitado a minha vida?
Bem, a primeira coisa que notei que o termo "aproveitar a vida" tem sido uma espécie de "maldição" modista, porque, dependendo da sua idade e condições financeiras já "determinam" como sua vida deve ser aproveitada. Se você é muito jovem tem que se perder em baladas, tem que ter muitas "experiências" nas ficadas, depois no meio da existência, tem que se enfurnar no trabalho, "vencer na vida", ser "valorizado" pelo que você pode ganhar e finalmente, quando você envelhece, aí sim, talvez você possa ser um ser humano que dá atenção aos amigos, parentes e seus amores. Mas peraí, nessa altura da vida a maioria sumiu ou morreu e de repente você se encontra só recebendo a visita piedosa de quem restou.
Eu definitivamente não acho que aproveitar a vida é se perder em festas e farras, pra mim, basta ir onde há pessoas que você gosta ou até ficar em casa batendo um papo. Que ninguém precisa da "experiência" de se agarrar com tantas pessoas se é possível abraçar e beijar alguém que pode ser o único amor de sua vida.
Eu definitivamente acho que não é aproveitar a vida você se perder no trabalho ignorando, filhos, maridos, esposas, só para ostentar uma enorme conta bancária e algumas pontes, não que ligam, mas safenas dentro do seu coração. Tenho mais firme certeza que aproveitar a vida é fazer o trabalho que gosta com o único fim de ter qualidade de vida e ter mais tempo para os entes queridos.

Enfim, sou um ser sem grandes ambições, gosto muito das pessoas e valorizo tão pouco coisas. Tenho um dom terrível que é a ótima memória e isso me impede de esquecer com facilidade as dores da vida ou as pessoas que passam e não voltam mais.

Passamos a maior parte da vida fugindo da morte, não falamos, não refletimos, não tentamos muito entender  e cada vez que ela chega, parece uma grande surpresa. "Ah ela só valorizou fulano depois que perdeu". Grandes casais e amigos se separam às vezes por coisas casuais ou por quase  nada, não tem noção do que é perder definitivamente laços afetivos tão importantes e arduamente construídos.

Por isso, lembrando do finado menestrel Renato Russo, posso dizer que quero de agora em diante aproveitar a vida...
Pois digam o que disseram, minha mãe e minha família esperam por mim....
Meus verdadeiros amigos, esses são muito poucos, por isso tão valiosos, também estão lá, esperando por mim...
E agora meu filho também espera por mim....
E tenho certeza que alguém do passado, ou do futuro...também espera por mim...

E se a vida passa e tudo acaba, vou fazer cada dia uma eternidade, vou fazer da vida finita o para sempre, pois vou viver intensamente cada dia, vou continuar vivendo lutando mais ainda para conquistar novos mundos e manter a todo custo os que já possuo,  e só vou descançar  quando for arrancado da vida, também.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A ESPERA



Nasrudrjin era um homem muito rico que repentinamente se viu quase pobre por não ser hábil nos negócios, teve que mudar para uma região mais humilde na periferia de Jerusalém. Ele se tornou muito rígido em cumprir as leis divinas. Mas diante do fracasso, não teve mais ânimo pra lutar de novo, e vivia agora em sua casa fingindo que tentava arranjar trabalho. Sorria para os amigos, gabava-se do passado e amaldiçoava os ricos. Resignou-se àquela vida, ficou esperando alguma coisa vir, um dia bancaria sua família novamente, que tivessem paciência! Bradava ele. Gritava com todo mundo, mas na hora de amar sua mulher e filhos, amava em silêncio...

Balla Cumaína era sua esposa. Desde a falência da família sustentava toda a casa vendendo especiarias aos homens brancos que vinham de longe. Casou com seu marido por amor, teve que romper com sua família de origem judia para ficar junto de seu grande amado. Contudo, o homem que ela admirava tornara-se um monstro. Sempre duro, só pensava em negócios seu marido, nenhum carinho nem afeto, nem para ela nem para os seus quatro filhos. Por vezes, mais constantemente depois da bancarrota, seu esposo batia nela. E já se passaram 30 anos de suplício, período este em que várias vezes pensou em sair de casa. Mas primeiro precisou esperar para ver se ele mudava, não mudou, depois, precisou ver os filhos crescidos, crescidos já estavam, mesmo assim não largou do marido, alegava a respeitável dona Balla Cumaína que tinha pena dele, esperaria que ele se acertasse financeiramente na vida a fim de que ela finalmente pudesse deixá-lo vivendo só, mas não na miséria absoluta. A Senhora Nasrudrjin também tinha paciência, esperaria algo acontecer. Enquanto isso ficava em silêncio...

Faiarrála e Ludibinara eram as filhas do casal acima. Todas muito religiosas e sempre fingindo não ver nem sentir as intermináveis brigas dos pais. Ambas eram infelizes, choravam cada uma escondida em suas tendas. Na verdade nem fé verdadeira possuíam, mas jamais se insurgiam. Muitas vezes pensaram em fugir com alguns dos belos mercadores brancos que compravam na tenda de sua mãe. Mas tinham medo. Esperariam o dia em que teriam coragem para romper com seus pais e aquele mundo tão fechado dentro de si mesmo. Não queriam viver daquele jeito, tinham certeza. Mas aquele mundo era tão restrito que nem elas mesmas sabiam como realmente queriam viver. Esperavam um sinal para decidirem seus destinos, aprenderam a vida toda a obedecer, enquanto isso permaneciam em silêncio...

Abdul Absála era o irmão mais velho das meninas acima. Desde jovem resolvera ser ermitão e pregar no deserto. Não dava importância às coisas materiais nem tão pouco da alma. Dizia ter pena de sua família, lamentava o fato deles viverem isolados naquele mundo tão restrito, havia muito mais do que ganhar o pão com o suor de seus rostos ou orar a deuses invisíveis. (um humanista o abdul) queria viver, gozar da vida assim com fazem os pássaros e as andorinhas. Queria muito ver o mar, mas jamais trabalhou, mesmo quando teve chance, e nunca tinha dinheiro, mas esperava um dia conseguir ver e viver no mar. Ele esperava alguma coisa enquanto isso, no meio do deserto, estava em silêncio...

Nasirajsdrin era o filho mais moço. Estudou com os sacerdotes as leis e a magia. Era o único que realmente parecia não se conformar com tudo aquilo. Por isso, sofria muito ao proteger a sua pobre mãe quando ocorria as intermináveis brigas. Sofria por seus irmãos, por toda a sua família que aceitava tudo como uma fatalidade do destino, que esperavam alguma coisa acontecer, nesta vida ou talvez noutra, como acreditavam os pagãos da Índia. Apesar de tê-la estudado a religião e os costumes, ele não se curvava a nada daquilo. Vivia sua vida, e já ganhava um bom dinheiro para alguém de sua idade vendendo e comprando camelos. Lia muito, era um sonhador. Sonhava em encontrar o amor de sua vida. Jamais se casaria por dote. E sim por amor. Passaram muitas mulheres na sua vida, mas nenhuma ele amara. Quando isso o acontecesse faria tudo por ela.

Até que um dia apareceu por lá a bela Fatira. E ao olhar nos seus olhos cor de mel Nasirajsdrin sentiu que era ela a dona de sua alma. E ela sentiu o mesmo. E os dois se amaram nas areias do deserto e caminharam de mãos dadas pelo oásis de Aljara Farral. Contudo, a família dela era nômade, beduínos que viviam viajando no deserto infinito. Logo seus pais se voltaram contra aquele amor. Não se via com bons olhos aqueles andarilhos sem raízes. Logo a família dela foi contra aquele amor, não gostavam daquele rapaz sonhador. O pai de Nasirajsdrin o amaldiçoou, sua mãe chorou, batendo nos peitos e arrancando os cabelos em grande aflição e disse que realmente era infeliz (isso deixou o pobre rapaz com o coração partido), sua irmãs apoiaram os pais, como não podia deixar de acontecer. E ele, ficou só, pois aprendera que não deveria se dar a seres estranhos da família, ele não tinha amigos com quem compartilhar suas dores mais íntimas, havia apenas os camelos.

Ao final do embate interior, mesmo depois de ter prometido atravessar o nebuloso Saara com sua amada ele pediu para que ela seguisse seu caminho nas areias frias do deserto sem ele, disse isso com lágrimas nos olhos que caíram abundantes e antes mesmo de tocarem o solo arenoso subiam para céu. Era ela quem tanto ele esperou, mas não podia largar tudo agora, já tinha feito muito para alguém da sua idade, mas havia muito a fazer e teria muito tempo para encontrar um novo amor ou quem sabe, reencontrá-la... Ao acaso... Com um dos seus camelos ela se foi.

Ele viveu sua vida esperando sua mãe se livrar de seu pai que a maltratava, esperando suas irmãs serem felizes, esperando seu irmão alcançar o mar. Esperando encontrar um outro amor, e dessa vez faria de tudo por ele, até fazer chorar sua mãe se preciso fosse. Ele esperava, pois sabia que o tempo tudo dá e tudo tira. Ele esperava alguma coisa acontecer. Enquanto isso, como um poderoso mago, fazia chover dolorosamente no deserto, pois antes de tudo, ele aprendera também a chorar em silêncio...



Adriano Cabral.