segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Aos 40, É Cedo ou Tarde Demais...





Neste final de semana tive uma daquelas raras atitudes impulsivas e decidi que tinha que ver o show da banda de rock (ou da idade do rock) Titãs.

Por infinitos motivos que não vem ao caso falar agora, raramento saio de casa para ir  aum show, ainda mais num "arroubo" impensado. Isso de ir a show, acontece uma ou duas vezes por ano, e quase sempre, é fruto de ponderação e longo planejamento. A apresentação era no sábado, e na sexta-feira decidi que iria. Encarreguei minha belíssima amada de procurar ingressos enquanto fui trabalhar. A noite para meu espanto, ela me informou pesarosa: já foram todos vendidos.

Seres humanos e suas necessidades, desde as mais básicas como comer e respirar, quanto as mais complexas como de ir a um espetáculo de rock. Como assim? O entretenimento não é necessidade? É sim, ela existe mesmo se for nascida de um impulso. Talvez essa seja a maior diferença do humano e do animal, o primeiro pode inventar necessidades e o segundo vive e morre apenas em função dela.

O fato que necessidades, mesmo as frívolas, podem ser brindadas com a sorte, acaso, destino ou presente piedoso para um ser, como eu, que passou no meio do caminho da vida e já consegue, sem muito esforço, divisar o fim que se aproxima. E a sorte me brindou com um telefonema da minha irmã me convidando para ir a apresentação que tanto queria ir, ela fazia parte da equipe de produção e tinha conseguido dois ingressos. Melhor que realizar uma necessidade impulsiva é realizá-la de graça.

E lá estava eu no meio da multidão de cinquentões e quarentões e algumas centenas de adolescentes. Yes, pra quem não sabe ainda (e provavelmente não vive neste planeta) Titãs é tipo aquela banda que insiste em sobreviver como um grupo de música "jovem" mas já está na estrada há muitos anos, tanto que na ocasião, estavam festejando trinta anos de sucesso.

O fato é que, quando a música explodiu com os membros  da banda pra lá de cinquentões saltando no palco animados, quando vi aqueles velhos jovens remexendo e pulando com uma energia dissonante das velhas carcaças presentes, acabei juntando-me a turba e acabei voltando no tempo. Tinha agora vinte anos e gritava, pulava pateticamente feliz com toda aquela barulheira infernal.  Deixei-me levar, mergulhei e me embriaguei nas músicas, no som, nos gritos e na sofreguidão desesperadas, tão comum para aqueles que dizem"vamos lá tudo bem, eu só quero me divertir, me esquecer dessa noite ter um lugar legal pra ir". Era rock na vêia.

E hoje, aos 40 anos de idade me vi de volta aos vinte, ouvindo a mesma banda que retumbava os meus ouividos no velho vinil de capa grande. As vezes a lucidez retornava e me via apenas como mais um, na fila do rebanho de condenados, ansiosos para se distrair. Mas no final da noite, aos 40, com vigor de vinte, tive algo bem diferente do que tinha nos velhos tempo, minha amada, uma jovem com menos de 30, em meus braços, sorrindo, repetindo pra mim " relaxa amor, somos tão jovens..."

E nesse momento, enquanto ela me beijava, pensei: "não foi tempo perdido..."

By Adriano Cabral