sábado, 26 de dezembro de 2009

FILOSOFANDO SOBRE OS ANOS NOVOS



     
E lá se foi mais um ano, provavelmente o mais difícil da minha existência. Mas como dizia uma antiga amiga sumida no mundo: Quem manda querer viver? Ela talvez tivesse razão,  é provável que o melhor fazer seria, ao invéz de ser protagonista virar mero expectador no espetáculo da vida.
E neste ano, mais do que protagonista, redescobri minha função de aprendiz e a única promessa que faço para o ano vindouro é que ele terá alguém mais maduro e preparado para realmente fazer diferente. Não, não, às lágrimas não deixaram-me em definitivo. Se não se monstram escandalosamente em minhas pálpebras, com certeza ainda jorram lá no fundo de minha alma. Quem manda não ter um coração leviano?
Se é pra ser mero expectador e ter um coração leviano prefiro pagar o alto preço de ser quem eu sou.
Dito isto, vai abaixo minha mensagem de ano novo, velha conhecida do ano passado, mas tão atual e mecânica como o ato de ano a ano, nós, membros do grande rebanho de condenados esperando pacificamente o abate desejamos: Feliz Ano Novo.

Feliz ano novo pra todos. Dito isto, desejo muita saúde, pois, no final das contas, não é comum ver alguém feliz doente. Contudo, é forçoso desejar que todos adoeçam, ao menos uma vez por ano, haja vista que, as nossas chagas farão felizes nossos valorosos médicos. Assim todos sorriem, nós com a cura, e os médicos com os honorários. Desta forma, fiquemos enfermos sim, mas que todos se recuperem loguinho mas... Mas se desejo felicidade a todo mundo, desejo também que alguns, mesmo que poucos, morram, porque é preciso fazer a felicidade do cemitério, agente funerário, padres e pastores que vendem a vida eterna, e porque não, de alguma carpideira que choraria muito se a imortalidade chegasse a terra.

Por isso tenho que desejar muito dinheiro no bolso de todos...porque dinheiro não traz só felicidade...mas também COMPRA...Afinal, é com dinheiro que pagamos os analistas, psiquiatras e adquirimos os prozacs da vida não?

Mas se é para felicidade de todos, desejo que alguns fiquem sem dinheiro, assim poderão fazer a alegria dos bancos (se sufocando no cheque especial ou pedindo empréstimos) ou dos empresários (aceitando subempregos e remuneração baixa). Desejo paz na terra e violência zero...Mas a felicidade de Bush, Blair e tantos outros ditadores depende de muitas guerras e muitas armas vendidas... Então,que seja, que hajam guerras, mas que ao menos o resto do mundo se livre da violência... No entanto, se algum desvairado matar por fome de dinheiro, de poder ou pela "honra" ao menos ele fará feliz algum advogado, juiz e promotor, todos dependentes da imoral e maus costumes sociais.
Enfim, desejo a todos é felicidade mesmo....Seja ela qual for, mesmo aquela que de repente se esconda na dor alheia ou na desgraça total.

Mas antes de tudo, desejo a todos coragem para lutar e ser feliz...ou melhor, lutar para colher os memoráveis momentos, instantes, que são a felicidade nessa vida tão marcada pela tristeza...mas...

Se lhe convém não lutar e chorar baixinho em algum canto escuro, e, se essas lágrimas de alguma forma te martirizem e te faça sentir um ser especial, mesmo que apenas na sua mente... chore, cale-se, enfim feliz ano novo.

By Adriano Cabral

sábado, 19 de dezembro de 2009

É NATAL




Houve um tempo em que as palavras tinham significado. Não que elas tenham perdido sentido, continuam com seu poder, grande poder, força pra construir castelos e destruir Estados. Mas, havia àquelas palavras que só eram proferidas em determinados momentos, momentos quase sagrados. Mas eis aí uma palavra em desuso... Sagrado. Hoje esta palavra é sinônimo de limitado, atrasado ou anacrônico.
‘O essencial é invisível aos olhos’, esta linda frase é só mais uma frase bonita, que entra nos ouvidos, no máximo, rouba-nos um sorriso e se perde no grande mar da retórica ou das consolações inúteis das horas desesperadas. O invisível aos olhos não é mais sentido, quiçá visto. Hoje meu amor é qualquer pessoa que encontramos na esquina, hoje odiamos qualquer um que passe por nós e não diz boa tarde.
A única palavra realmente reinante é o banal. Todas às palavras perderam significados, nos causam meras sensações que duram um segundo, são utilizadas a qualquer momento e cuspidas em qualquer lugar. Toda a palavra que expressa sentimentos está rastejando em algum charco imundo, e quando emerge só pode ser objeto de escarninho desse maravilhoso mundo do pragmático.

É natal e mecanicamente ficamos felizes por uns segundos (ou horas) após a meia-noite para logo esquecermos tudo, inclusive que é natal.

É natal e só se tem na mente que alguém, que não sei bem quem é, diz que eu tenho que dar presentes sorrir muito e não chorar, nem que seja só por hoje.

É natal e o amor, a paz, a esperança, o carinho, a honestidade viraram palavras vazias, desprovidas de sentido, assim como nossas vidas...

É natal, porque é, não porque se acredita em algo, porque não há esperança pra acreditar em algo, porque não há esperança pra acreditar em mais nada.

É natal... E como presente, talvez, uma criança dentro de mim pedisse que as palavras mais uma vez tivessem sentido. Assim o essencial voltava a ser visto apenas nos olhos de alguém que amamos...Ou, no invisível.

By -Adriano Cabral

ANIVERSÁRIO DO BLOG





      Pois é, parece mentira, mas faz exatamente um ano que resolvi abrir este espaço. As razões de sua criação estão lá no capítulo um aqui, coisa de quixote mesmo. Confesso que fiquei um pouco surpreso com a receptividade que tive, até porque meus textos, como diz um amigo meu "não são adequados para blog", geralmente são muito grandes e a linguagem nem sempre é amigável. Uma leitora me disse que quando posto ficção raramente o final é feliz (mais um ponto contra mim, risos).
Um programa monitora o blog, o Google Analytics mostra que foram visitas de 36 países, há obviedades como Portugal e surpresas como Omã, Japão, Arábia Saudita. Depois do Brasil há mais visitas de Portugal, França, Canadá, Estados Unidos, Espanha e Itália.
No Brasil são mais de 148 cidades, ás cinco primeiras em número de visitas são essas abaixo:
1-Recife- 34,50%
2. Belém- 9,47%
3. Sao Paulo -8,58%
4. Rio de Janeiro-7,37%
5. Belo Horizonte 5,27%
Cada vez me encanto mais com minha ignorância do que é o Brasil. Nos últimos meses muita gente de cidades que não tinha idéia que existiam como Porto Real e Apucarana visitaram o blog e já estão na lista das vinte cidades que mais frequentam esse espaço. Toda vez que topo com uma cidade desconhecida assim, minha curiosidade acaba me levando a uma pesquisa, mais uma descoberta e mais aprendizado.
Agradeço de coração neste aniversário a todas às pessoas que conseguiram ver algo de bom nos meus textos, vieram e retornaram, e mais ainda, para aqueles que se dispuserem a comentar. Eu adoro ler os comentários, inclusive os não elogiosos. Mas tenho que citar minha gratidão especial há algumas pessoas que durante esse período me motivaram não só a escrever, mas continuar e até me inspirar e produzir muito mais.
Portanto, valeu grande Sayuri, uma das minhas grandes musas inspiradoras, cada vez que você comenta aqui e cada vez que leio teus textos me lembro porque eu preciso e devo continuar, não só a escrever como compartilhar a riqueza de sentimentos e experiências que o mundo vem me trazendo. Muito obrigado a Mara, minha primeira seguidora que sumiu no mundo, Josy, provavelmente minha leitora mais fiel e grande amiga. Anala, Lívia, Tássio, Thomas, Juliane, Marília e Amanda mineirinha, ler vocês realmente é uma grande fonte de prazer e aprendizado, e indubitavelmente o blog fica mais inteligente quando vocês deixam seus valiosos comentários aqui.
Abaixo vai a lista dos dez textos mais lidos dentre os 48 postados. Vou manter durante um tempo uma enquete para quem quiser e puder, votarem qual foi o melhor texto do ano, dentre os cinco mais lidos. Acima, vai uma velha mensagem de natal que redigi há muito tempo, mas creio que não deixa de ficar atual.
      Muito obrigado de coração a todos, inclusive a você quem me inspirou a escrever o texto provavelmente mais romântico, mais lido, e um dos mais belos que escrevi (Ao menos é o que dizem) Uma das muitas coisas que tenho aprendido é respeitar não só o que sinto agora, mas o que senti profundamente um dia. Sentimentos profundos são raros, e não importa o tamanho da dor que por ventura venha a ser sentida. Algumas histórias, alguns poemas, simplesmente não podem ser apagados.

Lista dos Dez Textos mais Lidos do Primeiro ano do Blog, ao lado, o número de visitas que cada texto teve individualmente:
1- O QUE É PRECISO PARA VIVER UM GRANDE AMOR -845
2-O ESTRANHO -370
3-AMOR ANTES DA PRIMEIRA VISTA -345
4-SÓ, AS VEZES-277
5-A MORTE DO SANTO -247
6-ME DÁ UM BISCOITO-242
7-FORÇAS DO DESTINO-228
8-AMAR NOVAMENTE 226
9-QUASE NADA-221
10-UM BEIJO -200

by- Adriano Cabral

domingo, 13 de dezembro de 2009

UM DIA QUIS SER POETA: SOLIDÃO

     
      Na minha sede insaciável de leitura andei descobrindo blogs muito bons, e curiosamente os que mais gosto ultimamente são os de jovens escritores, com certeza não escrevia, e provavelmente ainda não produzo textos tão bons quanto os que leio hoje em dia. Inspirado neles,fui lá no meu baú e resolvi publicar duas relíquias. São poemas na minha opinião de estilo tosco e provavelmente sem grandes qualidades técnicas, no entanto, o que falta disso há de ter muito sentimento. E vai abaixo dois exemplos do tempo que eu acreditava que podia ser um poeta...




Dor da solidão
Atroz divina
Coração despedaçado
Busca de um amor

Ruínas
Trevas invadem, tomam minha alma
Lágrimas rolaram
Quando ouvi uma canção de amor


O tempo
Corre lentamente
A angústia crescente
O vazio, um sonho ruim
A mais tênue esperança surge
Quando ao longe desponta o brilho de um olhar.

Mares
Decepções, sonhos partidos
Sentimentos degredados pelo fútil
Rejeição, agonia, separação
Vaidade sem sentido
Estou só novamente.

Melancolia
Tudo que resta
Recordações lúgubres, desditosa vida
Espero o fim que o bom Deus destinou-me
Um novo dia nasce afinal, e talvez
A morte acabe para sempre
A dor da solidão.



SÓ MAR

É difícil olhar a imensidão do mar
E não encontrar um ente querido
Mergulhar nas suas entranhas, buscar alguém, não encontrar ninguém
E ficar sozinho, perscrutando as trevas em busca de uma luz para apenas
Ser envolvido pela escuridão erma das águas.

Nadar em desespero, por todos os oceanos
Sentindo o vento gélido como única companhia
A vida perdendo sentido
Torpezas, dor, agonia.

As ondas traem-me
Trazendo-me esperança de boa ventura
Mas ao aproximarem-se, afogam-me na angústia.
É tão difícil olhar a imensidão do mar
Ver e estar entre tantos, e mesmo assim, sentir-se tão só.

By- Adriano Cabral

ps: Textos escritos entre os 14 a 17 anos.

domingo, 6 de dezembro de 2009

AMARO MORREU.



    
      Dr. Gustavo acordou sobressaltado com o barulho de alguém batendo na porta. Era a enfermeira comunicando a chegada de mais um paciente, olhou o relógio, eram duas da manhã. No meio tempo em que recobrou a consciência até chegar á maca, já topou com o paciente morto. O corpo era de um homem com cerca de vinte e cinco anos, estava de bermuda surrada, camiseta e sandálias havaianas. Não portava nenhum documento, fora vítima de atropelamento.

- Deve ter sido algum pinguço que não soube atravessar a rua, falou com desdém o doutor para enfermeira, esta, começou subitamente a chorar. Ta maluca mulher, agora vamos chorar pelos cachaceiros que morrem no plantão? Dito isto, a enfermeira estendeu-lhe um saco plástico, e disse entre soluços que era do defunto. Estupefato com a atitude da colega, Gustavo olhou o conteúdo do pacote: fraldas descartáveis.
Diante daquilo, o doutor tornou-se sério, deu a volta e caminhou em silêncio para o repouso. Talvez se ainda houve lágrimas naquelas pálpebras tão fatigadas de chagas e desgraças humanas do dia-a-dia, talvez ele chorasse.

      Assim como o personagem que ilustra a introdução deste texto, ontem, não sei bem que horas, Amaro morreu vítima de atropelamento. Ligaram-me três vezes para informarem do óbito ou para dar detalhes do funeral. Ao telefone, cada uma expressava um espanto, um constrangimento e um terror. Eu, como quase todo ser humano normal, não sabia muito bem o que dizer para meus interlocutores muito mais próximos ao homem que até antes de ontem existia.
Mas Amaro não existe mais, nem o chamam mais pelo nome, segundo Mônica, uma das que me ligou e reconheceu o amigo de faculdade, o policial e todos ao redor do defunto chamavam-no agora de "o corpo".
Amaro era um homem grave, voz contida, olhar duro, mas sempre educado desde o trajar, andar e falar. Tinha mais ou menos trinta anos, não sei ao certo. Só sei dessas poucas características e que foi meu aluno, sim, meu aluno. Mas confesso, um pouco constrangido, que geralmente ao ouvir notícias fúnebres as trato com certa indiferença. Coração duro, talvez para se proteger da dor infinita diante do fim. Mas neste caso, a notícia de sua morte automaticamente me pôs no lugar de seus amigos, parentes, amores, filhos e toda sorte de pessoas que ficarão órfãs a partir deste dia, e foi inevitável a emoção tomar conta de minha mente tão fatigada da desgraça e das chagas humanas do dia-a-dia.
A morte foi violenta, provavelmente Amaro será levado ao IML local e seu corpo será examinado. Os amigos trocarão histórias, alguns até sorrirão para disfarçar a dor relembrando momentos divertidos do passado. As lágrimas mais abundantes serão dos parentes. E durante muito tempo ele será relembrado até que, também, todos os seus conhecidos sumirão da face da terra.
É isso, Amaro morreu. Foi arrancado da terra, sem direito a recurso, discurso ou protesto, desapareceu. Agora é só um corpo inerte.
      Mas assim como o rapaz, pai de primeira viagem que saiu orgulhoso e apressado no meio da madrugada para comprar fraldas para o filho, Amaro deixou sua marca na terra, e se há realmente um gosto Amargo nos que ficaram, há sim a pungente lembrança de sua doçura que envolveu seus entes queridos.

By Adriano Cabral.