domingo, 24 de março de 2013

Nunca Fomos Tão Felizes



Enquanto a cidade dorme vou escrevendo essas linhas, não sei exatamente a razão, mas conheço muito bem a sem razão que faz com que minha vida tenha se tornado um débil retrato do passado.
Mas como se pode viver no passado se ele, efetivamente, já passou? Passou, mas se em regra as memórias são esvanecentes ou enevoantes, há delas que são pedra, rocha, impossível de se intimidar com as intempéries do tempo.
Ligo rádio e ouço mais uma música onde a letra fala de alguém que ama demais, e sabe que a pessoa amada, que partiu, jamais terá um sentimento tão profundo e intenso como o dele. Ah! Um dia esse e tantos outros pobres diabos descobrirão que não adianta achar que ama, que é intenso, especial e único, se tudo isso é sentido e vivido...sozinho. Um dia, vai também aprender que as promessas e juras feitas no passado não foram pura ilusão, apenas mentiras verdadeiras, talvez, naqueles exatos momentos, tais juras tenham saído como verdades, mas o tempo amigas, o tempo adora trair tudo que somos, ou pretendíamos ser.
Ainda é preciso aprender que lá no fundo a única coisa que faz com que alguém permaneça ligada a outra pessoa é o interesse, quando ele acaba, acaba. É uma verdade tão....Simples. Mas criamos um enorme labirinto de razões e sem razões para sustentar uma esperança, quase sempre falsa, que no final das contas, foi e é especial, único, perfeito e jamais será como naquele dia que tudo se foi. Como diria a poetisa " nunca fomos tão felizes".
Enquanto a cidade dorme vou lembrando o dia em que rasguei todas as cartas, queimei o album de casamento, deletei toda e qualque informação que tinha dele no meu computador, e de novo, tenho a certeza que tudo que tentei apagar parece até mais nítido e claro dentro de mim, pois a rocha da memória torna a falta dele algo presente. E eis que o passado se fixa, louca, tento levar minha mente rumo ao futuro, mas quando penso no agora, sinto-me como se vivesse apenas num sonho, ou será um pesadelo, arremedo de vida que tenho que viver, afinal, ainda respiro, respiro?
A cidade dorme, e estou aqui acordada, divagando, de novo, porque você foi embora? Porque você não sai de dentro de mim? Por que sou tão fraca? O que nos faz tão fortes a ponto dos anos apenas esconder-nos dentro de mim. Penso que provavelmente você, que nem estará me lendo, nem lembra do meu sorriso que desapareceu no seu.
Enquanto a cidade repousa, tranquila, minhas mãos, úmidas, tocam o teclado sangrento. Fecho a porta, ela abre. Não tenho escapatória, vou parar de escrever e tentar dormir, quem sabe sonhar, e por Deus, estúpida, quero sonhar com ele e depois, desaparecer.

by Adriano Cabral.