sábado, 29 de agosto de 2009

Aprendendo: Pará





Quem me conhece sabe que viajar não é exatamente um passatempo que me atrai. Sou muito caseiro, quieto, mal saio de casa quanto mais do meu estado. Mas às vezes sou levado a me aventurar, seja por necessidade ou por motivo de força maior. Da última vez foram pelos dois motivos juntos que saí por esse mundo afora, e foi uma grata surpresa, porque da viagem em si não me arrependi e é um pouco dessa viagem que vou falar depois de tanto tempo sem postar no blog. Mas porque falar disso afinal? Porque é também uma homenagem ao segundo estado que possui o maior número de visitantes do meu blog (Em terceiro é São Paulo) e ao mesmo tempo é uma carinhosa despedida, haja visto que nos últimos dias e daqui em diante provavelmente não aparecerão tantos paraenses por essas bandas.
Antes de viajar geralmente pesquiso sobre a região, e nesse trabalho fui logo surpreendido ao descobrir a rica história que tem esse lugar tão pouco conhecido de nosso Brasil. Envergonhado pela minha ignorância, descobri que foi lá que houve uma das poucas rebeliões efetivamente populares que pregavam a independência do país, a Cabanada. (E eu achava que essas coisas só tinham em recife como a revolução pernambucana). Lá também, durante o ciclo da borracha, se criou uma elite poderosa que durante um bom tempo se firmou como uma das referências financeiras e culturais do país, a “Belle Époque” paraense. Hábitos sofisticados como ouvir música clássica e o gosto pela ópera até hoje faz parte da cultura do povo paraense.
Ainda enquanto estava no avião fiquei impressionado com a vastidão do rio cercado por uma verdejante mata. Já no aeroporto não pude deixar de admirar aquela gente morena, rosto de índio, cabelos lisos, rosto bem brasileiro. A cidade em si é como qualquer cidade pobre do norte e nordeste, simples. Mas o seu grande diferencial é como o povo se relaciona com o Rio, do rio vem gente, pois o transporte marítimo é muito forte lá, dele também vem toda uma cultura e indústria, tanto de pesca quanto de turismo. Eles têm até sereia de rio, princesa e reis. Quem for lá deve antes de tudo provar da deliciosa culinária, tucupi, tacacá, Jambu, açaí (que por incrível que pareça não cheguei a provar) e as frutas típicas tais como bacuri (pela qual me apaixonei e creio que combina com qualquer coisa que se possa comer) um bolinho de cupuaçu hummm!
Mangal das Garças, o forte, a moderníssima e aconchegante estação das docas, belas praças, o Teatro da Paz, o curioso mercado ver o peso, a casa das onze janelas, enfim, vários lugares bonitos de se olhar e fotografar. E quando se estiver cansado, nada melhor que tomar o delicioso sorvete da cairu.
Agora, se você quiser aproveitar mesmo a viagem vá á ilha do Marajó, sem dúvida nenhuma uma das melhores coisas que já fiz na vida. O lugar é idílico, belo, simples e com boa estrutura, vale tanto para um casal apaixonado quanto para os velhinhos que querem curtir seus últimos dias. Essa ilha tem belíssimas praias, bons hotéis e deve ser visitada de qualquer maneira para quem um dia se aventurar pelo Pará. Não fique na cama, tente assistir um show de Carimbó, onde gente simples, pobre, consegue nos mostrar muita beleza e felicidade tão pura que dá inveja a quem assiste e dá vontade também de dançar.
Por fim, posso falar do seu povo, primeiro agradeço muitíssimo aqueles paraenses que até hoje me deram a honra de freqüentar meu blog, segundo, achei muito bonito algumas pessoas defenderem tanto a terra, inclusive o guia de viagem que tentou me convencer que Belém era muito melhor que Recife. (RS) Mas eles têm que se orgulhar sim, é um povo guerreiro, primeiro formado de gente da mata, da floresta, de índios que sobreviveram á invasão branca, depois vem os nordestinos, outro povo forte que fincou os pés no norte e povoou a região e depois dos vários povos estrangeiros, como os franceses e japoneses (tem muito japa lá) que adotaram aquela terra como seu lar. Um povo sem dúvida de fé, muita fé.

Para termina vou postar abaixo trecho de uma cantiga do boi garantido, a ouvi de uma “típica índia do Pará” que cantou e fez a coreografia pra mim, essa música andou ecoando há dias na minha cabeça, creio que porque foi um dos momentos mais divertidos da viagem. Não, não, não foi uma viagem perfeita, mas sabe, estou cada vez mais otimista e só quero lembrar das coisas boas que a vida me trouxe e deixar pra lá o que não foi bom, afinal, o que vale mesmo é o aprendizado. E com essa viagem aprendi a valorizar mais ainda minha terra o meu Brasil.


Tribo das Andirás
Tribo dos Kaiapós
Tribo dos Carajás
Vamos acender a fogueira
E fazer valer o tratado de Paz
Somos filhos do Sol
Somos filhos da Mata
Nosso povo é de fé, de fé
Nossa gente é pacata
Somos do São José

by Adriano Cabral