sábado, 15 de janeiro de 2011

Realidade Clandestina




- O que deseja meu anjo! Disse Ágape abraçando-a afetuosamente, em seguida pegou-lhe ambas as mãos, beijou-as e a conduziu até o confortável sofá.  Letícia estava ainda com os olhos úmidos, olheiras imensas, a voz rouca parecia fechar o desenho quase funério daquela mulher provavelmente em outros momentos muito bonita.
- Mestre preciso muito de sua ajuda!Tenho medo que ele não queira nada comigo, de fato, não queira nada...
- Por favor minha princesinha, não me chame de mestre, sou apenas um aprendiz, respire calmamente e fale de preferência do início.
- Tudo começou quando eu tinha 18 anos, estava no quarto período do curso de direito e fui estagiar num grande escritório de advocacia. Foi lá que conheci o Antero. Ele não era exatamente o mais bonito e talvez nem seja o mais inteligente. Mas foi tão atencioso, amoroso, educado, ao mesmo tempo tão encantador que em pouco tempo começou a fazer parte dos meus sonhos e logo acabei delirando de pra.... de amor em seus braços.
- Que bonito... Interrompeu Ágape num sorriso imponderável, ela continuava.
- E de repente me vi completamente apaixonada por ele, foi justamente neste momento que ele revelou que era casado com uma juíza do trabalho. Naquele momento, acredito que finalmente descobri o significado da palavra desespero. Dei um tempo na nossa relação várias vezes, tentei ficar com outros mas sempre estava dividida e não adiantava, eram meias tentivas,  sempre voltava, o agravante é que trabalhávamos no mesmo lugar, ele era meu "chefe" e aos poucos ele foi me convencendo que gostava realmente de mim, que não se separava porque tinha dois filhos pequenos e até então nunca havia encontrado uma mulher que realmente motivasse-o a mudar de vida. Eu acreditei nele e já se passaram dez anos. Sou advogada senior do escritório, os filhos dele são maiores de idade e agora ele me fala que não quer um escândalo para o escritório que resultuaria de sua separação e consequente união comigo. Não suporto mais essa situação, eu preciso saber se ele realmente me ama e quer assumir nosso amor. Sabe, eu quero ter filhos, quero ter uma família, quero ter uma vida normal, eu mereço isso. Eu não sou uma pessoa má entende? Ele vive me dizendo que não ama a esposa, que não tem nada com ela há anos, mas as poucas vezes que os vi pareciam tão odiosamente felizes... Eu preciso saber se todos esses anos foram pura perda de tempo, estou confusa. Ajude-me mestre.
-A resposta é muito simples meu amor! Basta que você ouça a história do Conquistador e da Sonhadora. Ouvirás com atenção? Letícia assentiu com gesto de cabeça e o guro Ágape começou a história....
"Era uma vez um Conquistador poderoso e terrível que varria corações femininos sem nenhum pingo de piedade, no entanto, certo dia ele encontrou  a mulher chamada de  Sonhadora tão poderosa e pura que ele pela primeira vez foi tomado de grande comoção, diante disso, mesmo após conquistar o coração da Sonhadora ele resolveu além de poupá-la advertir-lhe que ele era apenas um Conquistador sem alma que poderia destruir todo poder onírico da Sonhadora. Esta ficou furiosa com a suposta rejeição e partiu só reaparecendo meses depois diante do Conquistador para comunicar-lhe com desdém e remoque que havia encontrado há pouco mais de seis meses um homem maravilhoso que a amava acima de tudo e lhe prometia o céu noturno sempre com estrelas e luar, mar sempre calmo a cantarolar seus ouvidos a canção que repetia duas palavras: Te amo. Curioso, o Conquistador perguntou a Sonhadora se ela já havia visitado a habitação do seu amado, se já conhecia algum membro da família, se tinha ao menos seu endereço de correspondência, a todas as perguntas  a Sonhadora respondeu negativamente e estremeceu ao ouvir do Conquistador que o seu amado era casado. Indignada a Sonhadora partiu, não sem antes jogar toda sorte de impropérios ao Conquistador, lembrando-lhe que nem todos os homens eram maus e canalhas como ele. Mais um tempo se passou e a Sonhadora apareceu novamente diante do Conquistador, desta vez estava com olhar humilde e contrito, foi logo dizendo que ele tinha razão e gostaria muito de saber se seu Amado gostava de fato dela ou da esposa. Acrescentou que seu amado jurava que tinha profundo desprezo pela por sua cônjugue e só mantinha o casamento porque ela era louca, desequilibrada e provavelmente sua insanidade seria acentuada em razão do divórcio, orava todos os dias aos Deuses para livrar-se de tamanho estorvo. Ao ouvir tal relato o Conquistador sorriu e indagou a Sonhadora se ela realmente queria saber se seu amado gostava dela ou da esposa. Ela afirmou que faria tudo para ter tal resposta, diante da assertiva o Conquistador fez a seguinte sugestão: Diga ao seu amado que há um meio fácil de livrá-lo da esposa inconveniente sem nenhum problema pois você conhece o Conquistador mais poderoso destas terras e se seu amado autorizar expressamente, o Conquistador esta disposto a seduzir e tomar para si a esposa louca e não amada. Se seu amado autorizar, estará claro que ele te ama e quer contigo viver o restos dos dias caso contrário... Não preciso acrescentar. Ao ouvir o fabuloso plano do Conquistador a Sonhadora foi tomada de grande euforia e prometeu retornar na semana seguinte com a resposta de seu amado. A semana se passou, outras foram com ela e os meses foram se sucedendo e nunca mais  a Sonhadora pois os pés no palácio do Conquistador. Este um dia a encontrou por acaso a caminho do mercado, após as amenidades de praxe de pessoas que há muito não se vêem o Conquistador indagou qual fora o resultado da proposta. Depois de trinta longos segundos calada a Sonhadora  falou com a voz muda: Eu nunca tive coragem de propor o plano ao meu amado, pois fiquei aterrorizada em imaginar qual seria a sua resposta. Então, preferi ficar em silêncio, até troquei de nome, agora me chamo a Realidade. O Conquistador sorriu e pensou, só se for clandestina."  E assim termina a história, você entendeu?

- Sim mestre, entendi! Dito isto Letícia desabou numa grande tempestade de lágrimas, Àgape abraçou-a repetindo baixinho em seu ouvido que ela deveria chorar a vontade afim de que as lágrimas lavassem tudo e não restasse mais nada....

Ps:Quer ler outra aventura do Guru Àgape, clique aqui
by- Adriano Cabral