quinta-feira, 29 de julho de 2010

Notas de Amor 1



      Por este instrumento público, declaro aos devidos fins de fato e de direito e para toda posteridade ou seja lá para que sirvam as declarações, a morte de um amor. Este faleceu neste dia por falência múltipla dos órgãos, explico,  acabou-se pela mais pura ausência de reciprocidade. Diante de tal constatação retifico, mudo a declaração, o que houve na verdade foi o aborto de um amor haja visto o mesmo nem mesmo chegou a nescer, a ter sopro de vida. Para existir amor diz-se que é necessário o congresso de mais de uma pessoa em consonância e harmonia de sentimentos, como tal não houve, não se pode falar em morte do amor, pois este nem mesmo chegou a nascer... Mas refletindo melhor... Se não houve reciprocidade de sentimentos não houve morte nem mesmo aborto pois não posso afirmar que o mesmo chegou a ser concebido pois foi sentimento unilateral.
Diante disso, miseravelmente, venho por meio desta declarar que morreu uma grande afeição que era só e tão somente só minha, e se algo dela nasceu foi apenas a indiferença, a solidão, a frustração e a certeza que nem todos nasceram para serem felizes.

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Algum lugar, 09 de Setembro de 1996.

By Adriano Cabral

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Jean Charles Puxa Orelha de Sherlock Holmes

           
      Em que tipo de país um grande destacamento de policiais portando o que há  de mais moderno em armas e tecnologia assassina um cidadão com sete tiros na cabeça sob a suspeita que o mesmo seja um grande criminoso para logo depois perceberam que se tratava de um cidadão comum? Em que tipo de país o judicário além de não punir os tais policiais veda terminamente até mesmo a possíbilidade dos mesmos serem processados com apoio total do governo? Não, não estamos falando do Brasil amigos, estamos falando da Inglaterra. O leitor mais atento já tinha percebido que estávamos falando da terra do grande bardo e do agente que tem licença para matar. Dia 22 deste mês, faz exatamente cinco anos que Jean Charles de Menezes foi brutalmente assassinado por pessoas a serviçõ do governo britânico, e até hoje ninguém foi punido, sequer processado.
      Não é de hoje que a Scotland Yard  não inspira confiança nos súditos da rainha, no longínquo 1887 Sir Arthur Conan Doyle  foi obrigado a criar um detetive particular que humilhava a polícia britânica e seu inspetor Lestrade, sempre ressaltando como a resolução do crime na época era: Elementar. Holmes não tinha observação por satélite, nem câmeras espalhadas por cada viela de londres, nem tampouco possuía o infidável e variado arsenal que a polícia de hoje possue para prender os possíveis meliantes. No entanto, assim como o invariavelmente incompetente Lestrade, Ian Blair o chefe de polícia que ordenou a desastrosa operação policial não tinha idéia do que estava fazendo, não obstante, sua maior pena foi perder o cargo de chefe de polícia, isso porque ele quis, alegou que não estava tendo o devido apoio do prefeito.
          Enquanto os jornalões do nosso país ridicularizam nosso presidente porque se encontra com dirigentes do irã, Cuba e Venezuela que supostamente violam direitos humanos, nenhum deles escreve uma única linha contra encontros de nosso grande líder com o primeiro ministro inglês. Ora, não estamos falando apenas em erro da polícia, em dezembro de 2008, o júri da investigação pública sobre a morte do brasileiro declarou "veredito aberto", no qual não se pronuncia sobre a responsabilidade da polícia no incidente, depois de o juiz Michael Wright negar a possibilidade de opinar sobre um homicídio injustificado.

Com essa decisão, o magistrado fechou as portas à possível acusação contra os responsáveis da morte do brasileiro, apesar do apontamento da sucessão de erros da polícia –entre eles, a falha em avisar Jean Charles verbalmente antes de atirar contra o brasileiro.
No além onde tudo é possível, Jean Charles foi lá puxar a orelha do nosso querido Sherlock Holmes, que como os fãs já sabem, morreu num duelo contra seu pior inimigo. Em resposta às queixas do brasileiro que não se conformava com a impunidade por seu assassinato, o genial detetive resolveu tomar partido de seus conterrâneos fulminou a questão dando uma resposta irretorquível:
 
- Elementar caro Charles, você era brasileiro o que para nós britânicos se equipara a espécie comum de animal. Há tantos de vocês...se ao menos estivessem em extinção...
By- Adriano Cabral

domingo, 18 de julho de 2010

O LABIRINTO DA LIBERDADE

     
      Sam Lowry vive numa sociedade futurista opressiva que herda o pior do capitalismo (Através do excesso individualista e a obsessão pela juventude e beleza) e o do socialismo (Que se exprime através do totalitarismo, burocracia e das execuções sumárias). Sam encontra em Jill guerrilheira e "terrorista" a inspiração e a possibilidade de fugir de seu mundo. McMurphy é um criminoso que simula insanidade para fugir da prisão e vai parar no manicômio para descobrir, da pior forma, que a prisão poderia ser melhor pois no hospício há a tirânica enfermeira Ratched. Todd Anderson é aluno da renomada escola Welton Academy no final da década de 50. Como todo jovem adolescente, seus pais tem planos para ele e em tese sabem o seria "melhor para o filho. No entanto, Todd encontra no professor Keating inspiração para fugir aos planos dos pais e encontrar seu próprio caminho.

      Provavelmente o leitor cinéfilo já deve ter notado que todos os personagens citados são de pérolas raras da indústria cinematográfica: Brazil - O Filme, O Estranho no Ninho e Sociedade dos Poetas Mortos respectivamente. Todos estes personagens além de serem criação do cinema tem algo em comum: Uma grande e intensa sede de Liberdade. Sam desafia o sistema, tumultua o monstro da burocracia para salvar sua amada e fugir para o paraíso tropical. McMurphy é um criminoso cínico que diante da enfermeira implacável se mostra a figura mais humana e sensível do filme, inspirando e encantando os outros pacientes a serem independentes e conseqüentemente livres. Todd leva o Carpe Diem até às últimas consequências, recusando-se a aceitar o destino imposto pelos pais e deixando-se impregnar pela sedução irresistível da arte. Mas será que é realmente possível ser livre neste mundo? A ficção parece discordar, pois nos casos citados dois personagens só encontram a liberdade através da morte e um deles na loucura. Mas aí vem a questão mais incômoda: O que é ser livre afinal. Cícero, aquele mesmo que armou a morte de Júlio Cézar, definia a liberdade de forma paradoxal: Somos escravos do Direito a fim de sermos livres.
      Na obra V de Vingança o personagem principal lembra de como a turba no final das contas sempre estará ansiosa para que alguém ordene o que ela tem que fazer. Em Manderlay (Continuação de Dogville) os escravos se revoltam quando são de súbito libertos e exigem ser cativos novamente. Portanto, parece-me o exercício completamente inútil tentar definir o que é ser livre ou o que venha ser liberdade. No máximo ouso dizer que a liberdade, como todas as coisas extraordinárias da existência, é nada mais nada menos que um sentimento, e como todo ele, algo bem pessoal.
      Mas parece que assim como se teme tanto o amor, os seres humanos que repetem a ladainha de prezarem e lutarem pela própria liberdade, lá no fundo sentem profundo terror com a simples idéia que de fato, possam um dia serem livres.

by- Adriano Cabral