domingo, 28 de fevereiro de 2010

O MELHOR TEXTO DE 2009 SEGUNDO OS LEITORES

Para quem não sabe ou não se recorda, na postagem de aniversário do blog propus uma enquete na qual se definiria através de votação, dentre os dez textos mais lidos do blog, o melhor texto ano de 2009. Não obstante ter havido pouquíssimos votos em face as 1400 visitas mensais que o blog tem tido, os leitores escolheram o texto "Amor Antes da Primeira Vista""como melhor texto publicado por aqui no ano de 2009. Segundo lugar foi o "insinuante" O Beijo e curiosamente, em terceiro lugar o texto mais lido do blog (mais de mil e duzentos acessos contra quinhentos do segundo colocado) O Que é Preciso Para Viver um Grande Amor. Contra toda lógica (para quem me conhece vai achar rno mínimo um exercício sadomasoquista) por questão de honestidade para comigo mesmo votei neste último, sem dúvida o mais marcante pra mim no ano passado.
Amor Antes da Primeira Vista foi uma declaração de amor assim como foi O Que è Preciso Para Viver Um Grande amor. Dois grandes textos, duas grandes histórias, das quais vivi e definitivamente não me arrependi. Ninguém deve se arrepender de ter vivido, ainda mais quando se fez de tudo para que a história não tivesse fim. Pena que todas as grandes histórias tenham que ter fim, pena. Se hoje estou definitivamente só ao menos tenho dentro de mim uma vida bem vivida e que faria inveja a muitos. Até quem sabe, ou não ( Sayuri que o diga) surja uma nova grande história (Será que terei tanta sorte?) ou algo venha a tona como uma fênix. O futuro é uma astronave que inutilmente tentamos pilotar.

Agradeço aos poucos, mas atentos leitores que se preocuparam em votar (será que as pessoas achavam que tinha que ler todos dez textos para poder votar?rs) E vai abaixo de novo,  o texto Vencedor.

                                      AMOR ANTES DA PRIMEIRA VISTA

Descobri hoje que estou amando. Foi quando ao acordar, tive a invencível necessidade de ir até a janela em busca do mar azul ou verde que nunca contemplei, a não ser em meus sonhos. Foi quando na madrugada vazia, onde todos dormem, nós estávamos acordados, a sós, mas juntos, na solidão de nossos quartos falando palavras mudas, mas cheia de sentimentos que gritavam e tocavam nossa pele, entravam em nossas narinas.

E o que é o amor senão a luz invisível que está contida dentro de uma outra pessoa, luz só nós vemos. O que é o amor senão ansiar pela presença, se regozijar em sentir o sorrir da pessoa amada, mesmo que o sorriso às vezes seja de outro ...

Descobri hoje que amo. Foi na madrugada, quando OU-vi as lágrimas descerem do azul ou verde mar, queimar a face macia, e desaguar no chão estério. Foi quando ou-VI palavras mudas que me falavam da dor que é amar, do sofrer que é amar, da solidão que é amar. Estávamos sós, juntos, em comunhão, ligados por uma força desconhecida, mas não pude pegar em sua mão, confortá-la, só balbuciar algumas palavras sem poder conter o vulcão de lágrimas em chamas. Restou-me apenas sentir em minha pele sua alma que se desmanchava diante da janela...

O que é o amor senão o sofrer, o morrer, o caminhar ébrio para uma felicidade eterna que SEMPRE acaba? O que é o amor senão arrancar a pele, se despir da moral, da vaidade, de si mesmo, e se jogar num precipício sem fundo?
Descobri hoje o amor. Foi quando senti saudades de alguém que nunca vi, e provavelmente nunca verei. Foi quando busquei na janela seu olhar e só vi o frio, o plástico vidro metal. Mas ela estava ao meu lado, estava junto de mim, então eu pude naquele momento ser feliz.

O que é o amor senão o prazer de estar ao lado? A sensação de que alguém especial está ali com vc para sempre. Sentir que alguém que um dia alguém sonhou, alguém que veio ao mundo para me ver, só isso, está ao meu lado... eu não sei que amor está agora contido em meu peito só sei que amo.
Amo e descobri hoje, eu sei que ela vai estar lendo agora estas palavras e pensando, se será possível esse amor. Ele é possível e existe, só que está fadado a permanecer sozinho longe, longe... do seu lado.

Amo e não tenho coragem de olhar na face! na verdade não há face, não há o poderoso olhar...

Apenas vidro, metal e plástico. E um raio cruzando os oceanos agora só pra te dizer que te amo.

Olho e sempre estarei na janela, esperando tu aparecer... mesmo sem nunca te ver...

Vivo Na Ira de amar....

By- Adriano Cabral

sábado, 27 de fevereiro de 2010

TODAS AS MANHÃS DO MUNDO - PARTE 1



Era como todas as manhãs. A praia, o sol, o mar verde, mar azul, mar infinito, mar. Infinito. Sonho, ambição e ilusão que acompanha a raça humana até o irremediável fim.
Era como todas as manhãs. E há exatamente um ano atrás Daniela estava deitada, a toalha sob as areias brancas, quase tão alvas quanto à delicada pele que só encontrava o sol nas primeiras horas da manhã. E se um dia tu já tivesses tempo para se maravilhar com a magia do alvorecer a beira do mar, de ficar a contemplar o céu em seu esplendor, verias não apenas o espetáculo multicor que a natureza todos os dias proporciona no alvorecer do Recife, contemplarias não só as gaivotas singrando o céu e mergulhando no azul celeste em busca de alimento, não verias apenas os saveiros em suas majestades de adornos do mar; voltando do labor, não sentirias apenas a música marinha a acariciar teus ouvidos e o vento a penetrar tua alma. Verias Daniela, lá deitada, devorando algum romance. Verias Daniela e seus cabelos castanhos bailando ao sabor do vento, e se tu te aproximasses mais, verias os olhos, e neles, encontrarias a certeza, a mulher. Mas como Daniela seria mulher se ainda era menina? Mas seus olhos desdiziriam tudo isso, dissipariam qualquer dúvida, pois, neles verias uma mulher serena, firme. Uma força da natureza que faria a maioria dos homens a volver, humildes, os blasfemos olhos para areia. Pois não cabe a todos contemplar tão magnífica beleza. Aquele recanto da praia, aquela faixa de areia, àquela hora do dia, este era seu mundo particular, era onde sua solidão se tornava suprema e onde finalmente ela estava consigo, e para ela, isto bastara até então. E tu, mesmo diante de tantas belezas, ao se deparares com Daniela, terias a certeza que ela só te bastaria.
E os seus olhos de cores indefinidas deslizavam pelas vidas e pelos mundos que ora surgiam ora morriam ao sabor das páginas que avançavam. E era, muita vez, através deles, que Daniela passava para os outros tanta vivência que nunca vivera, tanta certeza onde havia só dúvidas. Mas quem não tem sua casca e sua essência? Quem no final das contas não tem dentro de si o personagem que representa? Personagem às vezes tão forte, que toma seu lugar na vida.
E pontualmente as 7:00 da manhã ela se erguia. Nem se dava ao trabalho de olhar em redor de si, não queria saber quem eram os profanadores que estariam, mais tarde, no seu lugar santificado. Tinha horror a espécie humana, ou assim desejava acreditar. A solidão era sua dor, era seu bálsamo. Alguns meses depois o telefone tocou:

—Boa noite! está? Não por favor, diz que sou eu, sou eu, diz para atender.

—Tá! Tá! Vou chamar, mas não garanto nada viu?

Correr na praia, fazer exercícios, corpo são mente sã, já dizia os antigos. Tenho que preservar a minha perfeição, e o que vejo? E o que vejo? Não, devo ter corrido demais, só pode ser uma miragem, aquilo existe? Ela existe?
E a Daniela era famosa, ora admirada, ora ridicularizada pelo motivo de quem em mais de cinco anos estudando no colégio, nunca fora vista com namorado. “Sapatão, só podia ser sapata meu camarada!; “Pessoas que estudam demais, acabam ficando loucas, não vê como ela vira um fera quando mexem com ela, é histérica!; “É uma jóia rara, só mesmo alguém muito talentoso e cativante vai desbravar e penetrar naquela selva; “Deve ser problemas com a religião, quem sabe ela é Judia?”.
O fato é que Daniela não sabia ou não queria saber que era objeto de debates, muitas vezes ferozes, quanto a sua conduta amorosa. O que quase ninguém sabia e nem tão pouco desconfiava, é que mesmo já tendo dispensado mais de uma dezena de pretendentes, desde o mais lindinho do colégio até o mais estúpido nerd, Daniela já amava. Isso mesmo, não te assustes, ela amava ardorosamente alguém, e sua fidelidade era tamanha, seu desejo de possuí-lo era tão intenso, que nunca falava dele para ninguém. Ele era seu Deus e ao mesmo tempo seu servo. E só ela e seu amado poderiam saber da existência mútua. Seu nome, ela ainda não sabia, onde mora, nem imaginava. Mas ela tinha certeza que quando o olhasse pela primeira vez saberia... Ela saberia. Ela saberia. Por isso mesmo, muita vez saía sozinha pelos lugares mais inusitados da cidade, em busca dele. Mas nenhum romance rendeu mais que uma noite, e ela já havia perdido as contas dos rapazes que a fizeram perder tempo. Mas desde seus sonhos românticos até suas solitárias aventuras noturnas, só Daniela sabia. E pra cada rapaz esquecido ao alvorecer, ela se sentia mais dele... ela encontra-lo-ia...

—Alô! Boa noite meu amor! E os seus olhos agora cintilam ao ouvir a melodia da minha voz?
—Como?
Lendo um livro a essa hora da manhã? E eu que pensava que as pessoas só saíam para malhar... Meus Deus! Esta menina não é real, é um sonho, ora, e lá irei eu sonhar com ela... Sonho.
Daniela estava nas últimas páginas, o navio agora iria embora sem destino, levando consigo os velhos amantes, senis amantes, que um dia foram jovens e se perderam para só encontrarem-se no fim da vida. E ao contemplar o vapor se perdendo na imensidão do mar do Caribe, Daniela teve medo, medo de nunca encontrar seu amado, medo de ter vivido embalada em sonhos tão obsessivos quanto os do telegrafista que passara mais de 50 anos cultivando na solidão um amor impossível. E, sem querer, e afinal quem deseja tal transformação, o medo se faz pânico e veio a melancolia, rainha de todas as dores, e como séquito tinha as lágrimas, amigas fiéis da tristeza feminina e que vieram devagar e já estavam prestes a jorrar pela face menina... Daniela repetia mentalmente, será que vivo num mar de ....
—....Ilusões? Não minha cara, duvido muito. Não é você que vive no mundo imaginário de contos de fadas, mas sim, os outros que, neste momento, ainda dormem, e continuam sonolentos até o morrer do dia, até o último segundo, quando, ao retornarem as suas camas, vão apenas prolongar todo seu dia, dormindo. São eles que se recusam a contemplar a beleza da aurora e se envolver com a melancolia divina do crepúsculo. São eles que são incapazes de sonhar, de acreditar em algo superior e invisível aos olhos, de identificar a verdadeira beleza, beleza como a sua, que fica oculta no mavioso cofre de sua alma, desses seus indefiníveis olhos... como se a realidade num minuto se transmudasse em Sonho...
E ditas essas palavras pelo estranho, as lágrimas que continuavam, agora eram outras, mais raras, que brotaram dos olhos de Daniela num sorriso... e houve um instante de silêncio, momento de pura contemplação....
— Me doas um minuto, só um minuto da tua vida agora, tão somente para que eu possa penetrar neste imenso mundo oculto nos teus olhos?
Das palavras vieram á lágrima verdadeira da felicidade que afogou as melancólicas para algum poço sem fundo, e aquelas jorraram faceiras, ainda no largo sorriso de Daniela.
O rapaz ficou confuso, perdia toda retórica e discurso, ficou temendo tê-la assustado com tanta bobagem lírica. E pela primeira vez, as palavras desapareceram quando ele mais precisava.
— Me perdoe, vou embora, sou um doido! Sei bem o que vais falar, já me disseram, só me entenderia outro louco, e pelo visto és bem sã. Me desculpe, vou embora, não te incomodarei, estou confuso, pensei que mesmo de um louco, um elogio seria sempre um elogio... mas... tal perspectiva só coroa a intensidade de minha loucura.
Ele ergueu-se angustiado e se afastou dela, sem olhar para trás, quase correndo, contudo, ainda tinha a tênue esperança de que ela, através de ações ou gestos, o detivesse. Mas a cada passo que dava a esperança se extinguia, já ia longe, mesmo sem voltar-se para trás ele a sentia, estava bem alerta para escutar o que lhe dizia o silêncio, para captar qualquer coisa que o recuperasse do fiasco, foi quando, ao longe houve um grito, que chegou a ele, quase como um sussurro...

— Eu sou louca! Louca! Um minuto... e estou louca!

E ao olhar pra trás, viu uma luz saltando feliz no horizonte, sumindo...

PS:Talvez eu publique a segunda e última parte em breve...rs

domingo, 21 de fevereiro de 2010

POR UMA VIDA MENOS ORDINÁRIA


Diz a lenda que os pescadores não sonham: vão sem medo ao encontro do mar, sem medo de sua imensidão. Sonhos são imagens que se apresentam ao homem durante seus sonos. Nesse momento de fragilidade, o sonho parece grande demais, tal qual o mar. Assim, cai-se na eterna repetição de deparar com o infinito e voltar-se para o vazio. Parece que somos todos iguais. Enfim, acho que somos...

A coragem! O que dizer dela? A ousadia talvez a simbolize, mas os ousados caem no triste constrangimento de serem chamados de loucos, insanos, inconseqüentes... Talvez a loucura falte aos iguais, talvez isso os diferencie. É provável que isso os faça mergulhar no infinito trazendo a coragem de devassar o inexplorado dentro de si mesmo, que é onde há o mais interessante segredo do mundo: descobrir os vários "eus" dentro de si, numa longa viagem. Muitos passam a vida inteira e não se descobrem, permanecendo simples robôs, guiados pela massa informe. É verdade que muitos têm um pudor demasiado que os impede de ter o mínimo de fidelidade a si, é fato também que muitos têm a ciência que vivem a eliminar a si mesmos, mas se escondem. Verdade mesmo é que quase todos caem na insossa repetição...
Sabe o que eu acho dos "loucos"? São os verdadeiros, são os poucos que se descobrem mais completamente ou, pelo menos, tentam sempre. São os que assumem sua postura "imoral" e não se envergonham de ser quem são. São aqueles nos quais as idéias correspondem aos fatos, são aqueles em que mostram a língua para a hipocrisia. São raros.
Só um "louco" se entrega, se dá, e como já dizia o grande poeta, “a vida só se dá, pra quem se deu”. Dizem que a maioria dos sonhos é impossível, afinal, são imagens ideais... Discorde, pois se não fosse por eles, pelos sonhos, as verdades não seriam concretas, as grandes conquistas não se realizariam. Claro que é preciso algo mais que sonhar, é preciso agir, fazer, mas o sonho é o principio fundamental das realizações, é por eles que o mundo se move, é por eles que ainda existe solidariedade, e é por eles que os que ainda se sabem vivos vivem...
Apesar dos dias banais, das horas em que falta fôlego, às vezes pode ser bom transformar-se num pescador, não pela ausência de sonhos, mas pela coragem, pela deliciosa e sequiosa sedução que os envolve, impulsiona e desafia. Seduza a vida! Se deixe seduzir... Essa sugestiva palavra pode corresponder a desonrar, enganar, encantar e fascinar, mas vale a pena sentir. Sinta a maravilha de ser um (a) sedutor (a): encare o grande mar com toda a fúria de uma maré alta.

By- Escrava Do Medo (revisado por Jayane & Adriano)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

NOSSA VIDA É UM CARNAVAL


Denise teve uma dolorosa e difícil separação há menos de seis meses; Marcos ainda não completou um ano de luto da morte da mãe; Guilherme e Maíra estão desempregados há quase um ano e sobrevivem de favores e trabalhos temporários; Tânia trabalha 60 horas por semana, mal vê os filhos e tem certeza que o marido a trai constantemente. O que todos eles têm em comum além das dores passadas, presentes e futuras? Denise acordou cedo, vestiu fantasia de bruxa, adornou os dois filhos de anjinhos; Marcos transformou-se em mulher e juntou-se a um grupo de amigos; Guilherme e Maira, sem fantasia, sem dinheiro, partiram a pé animados com os cinco filhos e Tânia, com toda pompa, com trajes de princesa árabe foi para o camarote mais caro, todos foram brincar o carnaval, todos estão no galo da madrugada.
Provavelmente os pouquíssimos leitores deste espaço deverão estar indignados, afinal, como aceitar que algumas pessoas saiam de suas casas para cair na folia de momo se elas não têm nem mesmo algum motivo para sorrir?
      Observando de um plano mais geral é totalmente insano e absurdo que num país com mais de 40 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, índices de assassinatos em ritmo de grandes guerras, tantas carências, mazelas governamentais e insensatez corporativa privada, uma nação ouse separar um espaço para grandes festas, boa parte delas patrocinada pelo poder público. Afinal, não obstante a clareza do surreal que é este momento de carnaval, principalmente no nosso país, o que o justifica, porque ele ocorre?
Eu creio que para responder as indagações acima temos lançar reflexões no nosso dia a dia. Vamos pensar, será difícil encontrar pessoas que todos os dias carregam tantos ou mais desgostos da vida quanto ás pessoas citadas acima, contudo, seja em razão do trabalho, para preservar a família, para dar forças aos filhos ou amigos, ou ainda apenas para se inserir e manter status quo simula e modifica a expressão dos seus sentimentos? Eu creio que a resposta é não, não é difícil. Boa parte das pessoas, desde momento que acordam, vestem a fantasia, sem brilho, sem glamour, sem prêmio do júri. Estes seres sorriem, ficam bravos, até choram ou demonstram euforia simplesmente porque precisam disso para sobreviver, não porque sentem. E durante todo dia, ao carregar o fardo desta fantasia perene, não se ouve os sons dos clarins, nem tambores para dá o ritmo, leveza e alegria a jornada, há apenas o som mudo da vida.

      Vamos mais longe, o próprio ser humano como tal, estuda, trabalha, faz política, cria religiões, partidos políticos, regras, leis, moral e tudo pra que fim? Para morrer. Ou melhor, para distrair-se e esquecer-se da própria mortalidade o ser humano inventa milhões de problemas, alguns reais e outros apenas criados artificialmente. Num truque burlesco vive pensando numa vida eterna, nada mais que um artifício para não encarar a própria finitude. Mas outra música de carnaval nos diz “Roda, roda e avisa que a vida é um sonho que vai terminar...”
E o folião, ao contrário de nós na nossa fantasia do dia a dia, não se ilude, ele sabe que está vivendo um “sonho feliz” de poucos dias que logo vai acabar. Talvez isto explique porque boa parte das antigas marchas de carnaval falava de saudade, de dor e do fim, porque enquanto pulam e sambam, eles sabem que a dura realidade os espera. “Vê, turbilhão desta vida passar. Vê, os delírios dos gritos de amor. Nessa orgia de som e de dor”.

O fantasiado que vive depois do carnaval, é tão louco que às vezes acredita que vive mesmo uma realidade.

Diante de tudo isso, vistam-se, vão às ruas, clubes, bares, ladeiras correndo atrás do bloco ou até mesmo do trio elétrico, enlouqueçam, mas ao menos neste período, cônscios da loucura, cientes que a alegria tem data marcada para acabar, numa lucidez rara que bem poderia ser aplicada no tétrico carnaval diário.
Vamos brincar sim, pois como dizia Getúlio Cavalcanti ás vezes brincar carnaval é a única coisa que faz da vida de muitos, algo singular e especial

“Não deixem não, que o bloco campeão, guarde no peito a dor de não cantar. Um bloco a mais é um sonho que se faz o pastoril da vida singular.”

E viva ao carnaval!

Letras de Músicas:
Turbilhão:
https://www.letras.mus.br/moacyr-franco/487500/

Roda e Avisa:
https://www.letras.mus.br/alceu-valenca/1318259/

Ùltimo Regresso:

By - Adriano Cabral

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Idiotices que Temos que Ouvir ao Fim de um Relacionamento Amoroso



      Tem duas comunidades no Orkut interessantes para quem quer bancar o terapeuta, conhecer histórias das mais comuns as mais absurdas sobre relacionamentos, lamentar a vida ou apenas se divertir. O nome é no mínimo irônico, haja vista a maior parte dos relatos fala de relacionamentos "fracassados" são o Clube das Namoradas Perfeitas e o mesmo nome para comunidade masculina, claro, trocando o gênero.
Apesar da diversão, uma das coisas que não suporto mais é ler as frases feitas e idiotas que parte dos usuários e muita gente repetem sistematicamente quando há notícias de alguém que teve um relacionamento findo. O tema desta postagem justamente é analisar algumas dessas frases. Ressalto que minha análise terá como exemplo uma relação profunda e verdadeira que findou, para estas, não adianta usar os chavões abaixo:

1) Tem muita mulher ou homem por aí.
Com todo respeito, será que quem usa tal frase feita não percebe que quando um namoro, principalmente longo, acaba sentimos falta de uma pessoa e não da humanidade? Todo mundo sabe que tem um monte de gente por aí, mas não um monte de pessoas idênticas aos que nos fazem falta. Isto se torna mais grave ainda em se tratando de um grande amor perdido. Se essa frase idiota fosse válida nem valia a pena se preservar e namorar uma única pessoa apenas, com tanta gente por aí...

2) Sai com as amigas (os), vai pra balada, conhece outras pessoas.

Se uma relação sólida acaba, é óbvio que a pessoa está fragilizada e carente, logo se voltar cedo ao "mercado de relacionamentos" estará bastante vulnerável e predisposta a achar espetacular qualquer panaca que dê um pouco mais de atenção, fale ou faça-a sentir as mesmas coisas que o ex (ou a ex). Corre-se um enorme risco de embarcar em uma nova relação movida pelo desespero de esquecer e que tudo desta vez “tem que dá certo. No entanto, o mais comum é o naufrágio dessa relação ironicamente quando as águas estiverem calmas e a realidade se impor. A frase deste item é tão tola quanto a que diz que só outro amor cura a dor do amor perdido e outras equivalentes. Não se pode amar novamente se a dor da relação anterior ainda te assola, nesses casos é comum, depois de toda empolgação do início a pessoa ficar velhinha lembrando "como era bom o meu ex...".
O sofrimento faz parte da vida, acabou, era profundo e lindo: sofra. O mais cômico é que, antes do fim, vive-se dizendo que o seu amor é único, que jamais haverá nada igual e tudo será para o resto da vida ...blá blá blá blá. No entanto, quando finda, a dor não pode ser única, nem diferente de qualquer outra, e jamais poderá durar por toda uma vida. Mas qual é a solução: Dê um tempo para si mesmo, aprenda a conviver de novo apenas consigo, quando você estiver de bem consigo mesmo, aí sim poderá seguir adiante. Não adianta relação tapa-buraco, nunca vi isso funcionar estatisticamente bem. Esquece-se por uma ou duas noites, e depois o vazio retorna com mais forças.
Isto me lembra uma amiga, que como muitas outras após um longo relacionamento de nove anos entre namoro e noivado, romperam a relação. Duas semanas depois encontrou outro rapaz. Um ano depois já estava casada, cinco anos depois separada, por quê? Por que ela, no desespero que tudo desse "certo", ignorou completamente a realidade, só importava fugir da dor, do sofrimento e esquecer o antigo noivo. Passados cinco anos de casada ela finalmente superou o ex, e o marido? Perdeu a função, no fundo foi só aquele cara "legal" que aguentou a barra...

3) Se não foi pra ser tinha que acabar se é pra ser, vocês vão ficar bem de qualquer jeito.
Impressionante! Parece que essas pessoas que dizem isso vivem numa estúpida comédia romântica. Não são as forças do destino que fazem as pessoas se encontrarem (encontro= se apaixonarem) nem separarem. Somos nós que agimos ou deixamos de agir e fim de papo. Mesmo quando há genuíno amor entre o casal, se as pessoas não tomam cuidados e não cultivam a relação ela simplesmente acaba com direito a lágrimas no primeiro momento, e olhos marejados muitas vezes pelo resto da vida, mas ACABA. A VIDA NÃO É FILME.
Disse o poeta: A dor é inevitável mas o sofrimento é opcional. Ora, somos humanos e como tais, todos estamos sujeitos as doenças e a morte, não importa o que você faça, logo, o sofrimento não é uma opção, é fatalidade, por isso eu vos digo: A dor e o sofrimento são inevitáveis e a felicidade verdadeira só vem com luta, sangue e muita dedicação, mesmo assim, só dura uns segundos e temos que continuar numa eterna sucessão de batalhas para mantê-la ao menos próxima de nós, mas não esqueçam, somos mortais, e sempre perderemos a guerra.
4) Não é o momento, você tem a vida toda pela frente.
Eu prefiro à realista e melancólica frase "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar na verdade não há".
Há a regra e para toda ela há a exceção. Mas a regra é: Só amamos uma vez na vida, quando temos muita sorte. Dir-se-ia que no fundo após o primeiro amor nos acorvadamos de tal sorte que não nos permitimos mais amar novamente.
Dizer que se tem a vida toda pela frente pode ser interessante momentaneamente para consolar o mais desesperado dos seres, no entanto, se neste exato momento você ama de verdade, antes de pensar na vida "toda" que você tem pela frente imagine que talvez por conformismo, covardia, maus conselhos etc.. Você esteja desperdiçando a pessoa que deveria ficar ao seu lado pelo resto de sua vida simplesmente por ter desistido de lutar.

Estou longe de ser um dono da verdade, só estou expressando minha irritação com, a meu ver, malditas e idiotas frases feitas, que antes de realmente consolar alguém, no máximo, irá levá-lo a um martírio maior. Quando se perde um grande amor senti-mo-nos da mesma forma de alguém que perde, pela morte, um ente querido. Tais frases para os pobres amantes perdidos são tão eficientes quando os "meus sentimentos" para aqueles que perderam para morte. Qual seja, eficiência alguma.
Se agora você tiver um amigo ou amigo que perdeu um grande amor, não procure palavras para consolar, talvez a melhor coisa a fazer seja ficar em silêncio e dar-lhe... 
Um abraço.

By- Adriano Cabral

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