segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Três Aninhos


E mais um ano se passa. Hoje faz três anos que comecei a aventura de publicar e manter um blog. Confesso que ultimamente ando deixando de cuidar dele de forma adequada. Mas prometo que a partir de agora hei de retomá-lo e ao menos publicar um textinho por semana.

Agradeço a todos que continuam a ler e compartilhar as histórias aqui trazidas. Grato pelos que comentam, ou ainda calados, lêem muito como o pessoal (ou pessoa de Itabuna)

Amanhã tem texto novo na área, e este ano, não haverá votação para melhor texto do ano.

Aos demais não esqueçam, já são 127 textos publicados, logo, talvez o novo seja algo que para alguns seja velho.

Um grande abraço

by- Adriano Cabral

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Até que a Morte os Separe


- Oi, meu nome é Amélia, se realmente tiver algo a dizer, pode deixar um recado após o bip, senão, não enche a caixa postal tá? Esta era trigésima vez que André ouvira a mensagem eletrônica, ele rediscava, sabia que ela jamais iria atendê-lo, sabia que era tarde demais para qualquer palavra além daquelas repetidas pela mensagem gravada. Mas sobretudo, ele sabia que seria a única forma de ouvir a voz dela. Enquanto isso ele não parava de relembrar, entre lágrimas, como tudo terminara.
      Tudo começou com um telefonema:
- Alô! André, ela ta muito mal, no hospital, foi socorrida hoje pela manhã, nossa família já está toda aqui dando assistência ao irmão, ele ta desesperado.
- Tá, vou chegar aí já já. Em seguida ele ligou pra sua "Lela" comunicando que não iria comparecer ao encontro marcado.
Ao chegar ao hospital ele encontrou seus pais, suas irmãs e muitos amigos, todos correram para abraça-lo, a comoção era geral, o estado dela era muito grave. Ele passou a noite toda lá, em virgília, o telefone dele chamava-o sem cessar, ele repetia o de sempre: Não possso sair daqui, você não entende Lela? Ela esta em estado grave, pode morrer. E na manhã seguinte ela morreu. Após receber a confirmação da morte, André caíu prostrado na cadeira. Passou o resto do dia entre abraços condolentes, ligações no mesmo sentido e um vazio enorme impossível de ser preenchido. Ontem mesmo falara com ela, tão jovem, nem trinta anos, como Deus pode fazer isso, tudo bem, ela tinha uma vida maluca, boêmia, mas não merecia partir assim, tão cedo. Era início da noite e o telefone tocou novamente:
- André, eu tou viva! Você vai ficar nessa?
-Lela, entenda, é melhor a gente não se encontrar hoje, não quero que me vejas assim, amanhã a tarde é o enterro, outro dia a gente se vê.
-Mas André, ela morreu, acabou, é passado, estou aqui viva! Você ainda vai para o enterro bancar o viúvo? Já não basta?
-Lela, eu vou, sinto muito, não importa o que você diga.
-Então eu vou contigo.
-Melhor não.
-Ou você vai comigo ou não vai, eu te amo! Mesmo neste momento tenho que estar ao teu lado.
      Na hora que André e Lela entraram no espaço destinado ao velório ele correu para os braços da mãe e chorou copiosamente. Várias pessoas vinham prestar-lhe as condolências de praxe. Ao largar os braços da mãe Lela tentou segurar a mão de André, este passou por ela como se não a tivesse notado e se dirigiu ao local onde estava o caixão. Ela ficou ao longe vendo-o olhar a defunta com dor profunda, lágrimas constantes e pungentes. Num determinado momento, o pai da morta discursou e agradeceu a presença de André que depois dele, o pai, foi quem mais amou a filha e sempre fora amado por ela, nisto abraçou-o e todos aplaudiram. No momento em que a tampa do caixão estava sendo posta, o desespero foi geral, inclusive de André. Lela, mesmo furiosa, se comoveu e foi em direção ao seu amado, no entanto, ele pediu pra ela se afastar, falou que naquele momento, preferia a companhia de seus amigos, e seguiu o cortejo até o túmulo amparado a duas amigas da morta.
No caminho  para casa de André,  ainda no automóvel, estavam as duas irmãs de André, sua mãe e Lela. A conversa sempre recaía na morta, de forma elogiosa. Lela, observou que não foi adequado o pai da falecida referir-se a André como amor da vida da filha, afinal, ela, Amélia, era a namorada do André agora já fazia quase um ano. Nisto a irmã mas velha de André, Letícia interrompeu com fel na voz:
- Ah! Amélia, Lela, sei lá, fica na tua, realmente André e Amanda quase se casaram e se amaram muito, e todos desta família queríamos aquele casamento. Ao ouvir isso Amélia procurou seu namorado com os olhos em busca de socorro, ele não parecia ter nada a dizer, continuou dirigindo. Amélia não pode conter uma lágrima que caíu solitária.
Pouco depois, a mesa de jantar, o assunto eram as qualidades de Amanda, as histórias engraçadas relacionadas a falecida e como André e Amanda eram perfeitos. Agora a turma nunca mais vai ser a mesma: Não cansava de repetir Ronaldo, melhor amigo de André. Amélia estava sentindo-se sufocada, disse ao namorado que iria embora, ele aceitou imediatamente a sua partida. Durante a despedida Amélia deu-lhe um beijo longo e disse:
-André, eu te amo! Eu ainda estou viva tá?
-Lela! Estou muito triste, depois a gente conversa, eu também gosto de ti.
Durante toda semana não se falaram, no final de semana seguinte André ligou pra Amélia.
- Lela, vamos nos ver hoje?
-André, lembrou finalmente que estou viva? Sabe, passei essa semana inteira remoendo a humilhação de você ter me deixado por três dias para se dedicar a sua ex-namorada moribunda e essa sua semana inteira de luto. Ao fato da sua família me humilhar com a preferência à morta e você não me defender. Mas estou tentando superar isso, mas você nem ao menos me ligou pra saber como eu estava, nem ao menos pensou no que eu senti.
-Mas Amélia, Amanda não era só minha ex namorada, ela era amiga de toda minha família.
-E eu sou o que?
-Amanda é passado...
-Pois é, ela deveria ser passado, sabe André, tenho uma novidade pra você.
-Deixa de drama mulher! Não fiz nada demais...
-Eu morri.
Dito isto o telefone ficou mudo, ele ligou várias vezes, procurou-a de todas as formas, através de amigos em comum Amélia informou que não queria de forma nenhuma ter contato com André. Este, agora, nem consegue mais pensar em Amanda e sua morte, agora ele só pensa e sente saudades de sua Lela, que mesmo viva parecia estar no além. As vezes os seres humanos são assim, esquecem de viver a felicidade presente apenas para se alimentar do passado e seus mortos. Enquanto isso, André rediscava e ouvia:
Oi, meu nome é Amélia, se realmente tiver algo a dizer, pode deixar um recado após o bip, senão, não enche a caixa postal tá?

by- Adriano Cabral

domingo, 21 de agosto de 2011

Notas de Amor 4 - O Outro.

     
      Júlia sempre repetia que amava Felipe, ao ouvir isso, quase sempre acreditava, exceto nos momentos de intimidade, quando, deitada e completamente despida, dava sonora gargalhadas quando ele a beijava lascivamente. Irritado,ele parava e as vezes interrompia de vez a atividade em questão. Júlia se envergonhava, pedia desculpas e tudo se resolvia com mais carícias, sem beijos passeando pelo corpo, senão, voltavam as risadas. Certa noite após retornarem do cinema, Júlia estava completamente nua, deitada de bruços, cochilando, Felipe, insistente, começou a beijar-lhe as costas, do quadril até a nuca, desta vez Júlia nao riu, nem sorriu,  surpreso, seu namorado buscou nos olhos dela a resposta e os encontrou sérios e concentrados, com o pensamento distante, isto o feriu mortalmente, cessou o que estava fazendo e perguntou bruscamente:
- No que você estava pensando Júlia?
- Nada além de você meu amor!
- Com certeza era qualquer coisa exceto eu, você estava pensando em que, fale, fale logo! Falou nervoso, temendo a resposta.
- Nada, só tava pensando em você...
- Júlia, seja honesta, ou vou embora agora mesmo e não volto mais. Vociferou Felipe de tal forma que deixou a mulher assustada. Você tava pensando em outro né? Ao ouvir isso a puplia dela dilatou aterrorizada de tal forma que Felipe teve ímpetos violentos. Quem é ele, fale, quem é?
-Ninguém juro! Não é o que você esta pensando...
-Droga! Nunca na minha vida pensei que iria ouvir essa maldita frase feita, fala logo quem é, ele e melhor que eu na cama ne, ele nao te fez garbalhar... Institivamente ela assentiu, em seguida se arrependeu do impulso. Felipe estava possesso demais, perdendo o controle, ela não aguentou mais e gritou.
-Tá bom, era o Batman!
-Como assim? Tá louca?
- Amor, estava pensando Batman, acabamos de ver o filme lembra? Recordei aquela parte que ele fala em autocontrole. Quando você começou a beijar-me tive de novo a vontade de rir, me concentrei e pensei, se o Batman consegue eu também consigo, e tava até resistindo a vontade de gritar e gargalhar, desculpa amor!
- O Batman.... repetia Felipe desconsolado
-O Batman.

By- Adriano Cabral

sábado, 13 de agosto de 2011

É Preciso Sonhar

     
      O que afinal diferencia os homens dos animais? Diz-se que é a capacidade de raciocinar outros o poder de trabalhar e transformar a natureza. Eu, porém não sei o que efetivamente o que nos distingue dos demais seres vivos, mas acredito que a capacidade de sentir e de sonhar são provavelmente as características mais humanas que nós temos. Qual o sentido da vida? Em minha opinião, na falta de uma resposta melhor acho que o sentido da vida é senti-la em toda sua extensão, sorver cada gota, porque no final das contas a vida é pra ser vivida, não assistida. Passei uma boa parte da minha existência como telespectador e cada vez que me sinto, mesmo que profundamente, triste, lembro-me que foi a partir do momento em que me permiti sentir que comecei a ter esta inigualável sensação de estar vivo. Estar nestas condições inclui os bons e maus momentos. Mas quando esta tudo tão ruim (como por exemplo agora rs.) além da vida real temos algo que faz com que, de alguma forma, o ser humano tenha o alento: os sonhos. E o que são os sonhos, de que matéria eles são feitos, o que eles representam? Mais uma pergunta sem resposta, mais um mistério. O fato é que o sonho é matéria que sustenta a própria vida, provavelmente foi do sonho de voar que se criaram aviões, do sonho de conhecer o mundo que se forjou a internet, mas às vezes os sonhos nada mais são do que a realização de nossos mais íntimos desejos, principalmente os que podemos chamar: Impossíveis. Bem, disto isto vamos ao sonho...

      Lá estava perambulando pelas ruas do Recife Antigo (área cheia de prédios neoclássicos, mas parece uma cópia velhinha das ruas de Paris do Sec.XVIII), era fim de tarde e havia pouquíssimas pessoas nas ruas. O céu estava multicor predominando aquela coloração laranja escuro manchada por nuvens e o céu azul. Olhando o horizonte era difícil diferenciar o mar e o céu... Mas Felipe cessou de observar o espetáculo diário da natureza ao divisar ao longe uma figura pequena, de cabelos longos, pele branca que estava sentada sozinha na amurada, observando o mar... Por um instante ele acreditou que poderia ser alguém que conhecia... Mas logo desviou o olhar e seguiu adiante. No entanto, a idéia que aquela figura feminina poderia ser Ela martelava sua cabeça e a cada pancada ele reduzia seu passo tentado a retornar e certificar-se seu provável engano era efetivamente, um engano. Afinal, não poderia ser Ela, àquela hora estaria há pelo menos 2300 km de distância, e mesmo numa hipótese completamente remota dela estar no Recife provavelmente estaria rodeada do seu tradicional séquito de amigos ou familiares. Mas seu coração acelerava, uma euforia inexplicável foi tomando conta dele enquanto se aproximava da figura feminina. Mais perto, ele pode ver sua pele alva, seu rosto encoberto por uma franja que caía encobrindo seus olhos. Era ela, repetia pra si, era ela.

- Selina?

- Eu!? Sim, eu. Você demorou hein!?

-Como assim, é você mesma Céu?

-Não, sou apenas um sonho. Respondeu ela num sorriso contido, ela parecia triste. Que mania a sua de diminuir meu nome, que já é tão curto, e me chamar de Céu, só você mesma. Completou num sorriso verdadeiro.

-Mas como pode ser você, aqui. Ele mirava fixamente o seu rosto, a franja ainda impedia de ver os olhos, ela pareceu perceber e com um gesto rápido de mãos mostrou todo sua face com seus olhinhos miúdos, mas levemente felizes, não obstante, ainda uma sombra permanecia principalmente em seus olhos, vermelhos, provavelmente havia chorado.

-Mas como você demorou hein?

-Como assim, eu nem sonhava que você estava em Recife, você não me disse nada, como esperaria me encontrar então?

-Ah Felipe, é claro que não iria te avisar, a simples idéia de ti ver me parecia ser ao mesmo tempo encantadora, mas também aterrorizante. Então não avisei e não pretendia te encontrar, no entanto, dei uma chance ao destino. Indagada como funcionaria o destino ela continuou explicando que resolveu ficar sozinha no ponto turístico mais famoso do Recife enquanto seus amigos circulavam pela cidade e se o destino fosse muito generoso provavelmente ela o encontraria exatamente como aconteceu. Só não imaginava que ela teria que esperar quase três horas pra isso.

-Você é louca mesmo!

-Ai, ai! O impressionante é você ter notado isso só agora. Disse ela num breve sorriso convidando-o a sentar ao seu lado. Olha Lipe, aposto que você esta pensando, afinal, se ela queria evitar encontrar-me porque esperou horas e horas sob os cuidados do “destino” só pra me ver. Pois vou te responder...

-Eu não imaginava-a tão falante. Interrompeu ele.

-Ah! Provavelmente é porque sou a garota dos seus sonhos, logo acabo sendo bem melhor que a original, o que acha?

-Uma boa teoria Selina dos meus sonhos, agora explique o que o destino reservou pra mim. Disse ele sorrindo, no entanto, o olhar dela se tornou muito grave, sua voz saiu doída, fraca.

-Estou perdendo as esperanças Lipe! O olhar indagador dele a fez continuar. De certa forma foi você quem me inspirou a arriscar-me a viver e sentir a vida em toda sua plenitude. A parar de pesar, calcular, relativizar e por fim desistir de correr qualquer risco. E guiada por este possível encanto de viver mergulhei no mar da vida, no entanto, poucas vezes pude sentir as águas plácidas e puras, até as sentia, mas por tão pouco tempo, o que predominou foram às procelas e tempestades que, às vezes, me fazia até pensar que iria afogar e desaparecer. Estou com medo, muito medo. Parece que a razão está vindo dentro de mim não só para me salvar de alguma desdita, mas para predominar e mandar em mim. Me ajuda! Dito isto ele pegou sua mão e mergulhou nos olhos dela e ambos ficaram perdidos um no outro, como se comunicassem em silêncio até que este foi quebrado pela voz dele.

-Se isto é um sonho não preciso me conter... Dito isto ele ergueu-a na amurada, tendo apenas agora ambos uma faixa de terra e o imenso mar do Recife, e a beijou, a princípio um beijo suave, terno, como se aos poucos as almas estivessem se misturando, fundindo. Ela estava na ponta dos pés, isto fazia com que o abraço fosse mais estreito, enquanto o beijo ia se tornando intenso, eufórico, delirante e agora as mãos que até então estavam repousadas simplesmente se espalharam pelos corpos, quase em desespero, como se um estivesse se afastando do outro e ambos tentassem segurar-se.

O celular gritava sem parar, foi quando ela lembrou-se que eram seis horas da tarde e os seus amigos estavam chegando. A noite se fez em Recife. Após o beijo eles ficaram mais um longo momento calados fitando-se de frente ao outro, ainda de pé.

-Era isso

-O que?

-Era isso que eu precisava Lipe, era isso, de alguma forma eu sempre soube, era você.

-Você tem que ir embora né?

-Você quer que eu fique, eu fico, basta você pedir, eu faço! Dito isto, sacou o telefone da bolsa. Você quer que eu fique, de verdade?

-Quero!

-Responda direito, porque não quero mais perder tempo. Você quer que eu fique?

-Quero, fica!

Ela deu um largo sorriso. Ele acordou!

by-Adriano Cabral

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mais um Fracasso do Capitalismo de Mentirinha

     
   Dizem às lendas que foi na Grécia antiga que se formou a base da democracia ocidental. Curiosamente a Grécia contemporânea demonstrou ser o grande túmulo do modelo de democracia representativa que impera no ocidente. A idéia da democracia de forma simplificada é que o povo governe, seja diretamente ou indiretamente através de seus representantes. Logo, o Estado deveria ser a "voz do povo", mas este foi completamente ignorado recentemente na votação do parlamento grego que aprovou um pacote de medidas duras de contenção de gastos que era e é rechaçado por mais de 80% da população daquele país. Mais afinal, porque os gregos estavam tão irritados com o tal pacote que a Rede Globo não cansou de dizer que era "essencial" para estabilidade econômica de toda Europa? Por incrível que pareça mais uma vez a resposta é relativamente simples: Bancos europeus por quase dez anos encheram as burras de dinheiro especulando com créditos imobiliários podres advindos de bancos de investimento norte-americanos. Depois de anos de farra, o sistema financeiro "descobriu" em 2008 que os créditos eram podres. Daí a imprensa econômica (que dizem as más línguas são pagas pelo mesmo sistema financeiro) pregou o final dos tempos pra baixo e imploraram a ajuda dos "governos" para atenuar a "crise". Agora você deve estar pensando: Peraí! Se foram os bancos que depois de longos anos de farra que causaram o problema, porque agora os "governos" (ou seja, o setor público) que vai pagar a conta? Mas é assim que funciona o capitalismo de mentirinha, não existe risco para as grandes empresas (principalmente as que compõem o sistema financeiro), e se há grandes perdas, quem paga é o governo. E no caso de uma "crise global" quem paga são OS governos. Foi exatamente o que aconteceu nos anos que se seguiram a quebra da farra imobiliária, várias nações se endividaram (parece surreal) para ajudar umas dúzias de bancos. Agora, pouco mais de três anos após o estouro da "crise", vários governos do mundo, inclusive da Europa (países como Itália, Espanha e Portugal são as bolas da vez), vem tomando medidas que atinge diretamente a população, reduzindo salários, cortando aposentadorias, assistência a saúde, investimentos na educação e por aí vai, tudo pra que mesmo? Ah! Pra pagar aos bancos o dinheiro que esses governos pediram emprestado para ajudar outros tantos bancos.

      A gana da banca anda tão açodada que até mesmo a nação símbolo do capitalismo de mentirinha esta com problemas de pagar o que deve. Afinal, um dia alguém tinha que notar que os Estados Unidos é a nação mais endividada do mundo e tal passivo aumentou bastante após várias guerras da era Bush e finalmente o "auxilio" a bancos e empresas prestadas pelo governo norte-americano nos anos que se seguiram após o estouro da bolha imobiliária em 2008. Em 16 de maio deste ano, o governo dos Estados Unidos alcançou o limite de endividamento, US$ 14,3 trilhões, equivalentes a 92% do Produto Interno Bruto (PIB) de um ano do país e precisa da autorização do congresso para que o teto do endividamento aumente, senão, simplesmente amigos, terá que dar calote nos credores.

    Não é a primeira nem a última vez que os governos pagam a conta do "fracasso" do sistema financeiro (símbolo do capitalismo atual), desde da grande quebra de 1929 vamos nesta mesma toada. Mas sem dúvida é a primeira vez que até mesmo o centro econômico e cultural do ocidente se encontra na iminência de ser humilhado por mais um fracasso deste capitalismo de mentirinha, sem riscos para o setor privado, onde no final das contas, quem paga a conta são os mais pobres com mais impostos e menos investimento social.

By- Adriano Cabral

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Copiando, Colando e Seguindo o Coração



Meu Universo é Você.


Quando te vi logo ali, tão perto

Tão ao meu alcance, tão distante, tão real

Tão bom perfume, sei lá...

Mas aos poucos foi abrindo minha visão, o jeito que o amor

Tocando o pé no chão, alcança as estrelas

Tem poder, de mover as montanhas

Quando quer acontecer, derruba as barreiras... E as barreiras foram sendo derrubadas

Mas um dia um adeus, eu indo embora, tanta loucura, por tão pouca aventura.

Amanheci sozinho, na cama um vazio, meu coração se foi sem dizer se voltava depois.

Logo fui vendo que é mesmo assim, a história não tem fim

Continua sempre que você responde "sim" a sua imaginação a arte de sorrir cada vez que o mundo diz "não"...

Ainda bem, você voltou e falou que queria ser mais que uma amiga, aceitei logo, você nem desconfiava o quanto eu daria por teu amor

Então foi tua boca na minha, seus olhos fechados são o meu maior momento dito em silêncio. Sua pele suave, sua mão que passeia em mim Igual o vento toca as gotas de orvalho

Eu nem sonhava te amar desse jeito, hoje tenho esse novo sol no meu peito...

Quero acordar, todos os dias te sentindo ao meu lado viver o êxtase de ser amado

E nesta carta musicada quero declarar que te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir, ter você é meu desejo de viver, sou menino e teu amor é que me faz crescer, e me entrego de corpo e alma pra você.

Os versos não são meus, mas bem que podiam ser todos eles falam do que sinto por você e escrevendo, copiando, cantando encenando, é meu número, é meu jeito de ser seu fã nº1.

By- Adriano Cabral (Colagens de trechos de músicas de Roupa Nova e Guilherme Arantes)

domingo, 17 de julho de 2011

Definitivamente Não?



— Não!


— Se você disser que sim e aceitar o meu amor não prometo fazer tudo por ti, mas tudo que me é possível fazer por alguém...

— Não!

— Se você disser que sim ao amor que te ofereço eu não sei se poderei fazer sorrir cada pétala das flores que te der, duvido muito que a felicidade, sempre fugidia e efêmera, estará sempre presente... Mas sei que poderei, às vezes, até mesmo na hora de dor aguda arrancar-te um sorriso...

— Não!

— Se você disser que sim ao amor que te entregar não sei se serei capaz de criar os versos mais belos, compor canções lindas em teu louvor e comover-te ao som de alguma melodia minha, mas te garanto que o que sinto é tão intenso que vou pedir canções ao vento, versos ao luar, gotas de rima ao som da chuva e poesia ao ver o mar e estou certo que tal sentimento, força, irá te encantar....

— Não! Não!

— Eu não consigo entender esse seu jeitinho.... Ouço uma coisa de sua boca e seus olhos falam outra... olha, vem cá, se você não entende bem o que te digo eu te explico novamente com prazer...

— Ai, ai!

— Se você disser que sim e a este amor se entregar, finalmente encontrarás em mim teu verdadeiro e único amor.

— Não, não e não.

— Então desisto. Adeus e nem vou pedir que me esqueças porque, apesar do seu olhar dilatado, seus lábios trêmulos, sua face ruborizada, nunca estive dentro de ti, logo, não há o que esquecer. Dito isto ele caminhou em direção ao taxi que seguiria para o aeroporto. Ao chegar a porta do veículo, lançou um último olhar, ela já estava longe, ele gritou: Adeus. Ela respondeu na mesma altura...

— Não.

by- Adriano Cabral

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Notas de Amor - Felicidade Verdadeira.


Era uma vez um velho pobre rapaz que teve o coração dilacerado em milhões de pedaços e andava completamente perdido sem fé na magia e no encantamento...
Era uma vez uma jovem e linda moça que teve o coração tomado por uma força das trevas e aprisionada numa longíqua caverna que a impedia de ver qualquer traço de luz, magia e felicidade verdadeira.

E um dia, mesmo que todas as forças da natureza e da lógica não permitissem, eles se encontraram. E o pobre e velho rapaz começou a sentir-me menos pobre alimentando-se do doce perfume de seu sorriso...

E talvez a linda moça, no momento do encontro, tivesse seu coração pulsando, sentindo que até então, o que vivera era apenas sombra da verdadeira vida.

E o acaso cada vez mais os reuniam e uniam eliminando o ocaso que até então eram suas vidas. E cada vez o velho rapaz se sentia menos velho
E cada vez mais, a linda moça questionava a ilusória segurança de sua caverna.

E duas mãos se tocaram
E as almas se conectaram
E um beijo suave, terno, doce, sereno se tornou uma sucessão de beijos que falaram várias linguas encantadas de desejo.

E o rapaz deu para sonhar acordado com a moça, a encantadora

E a moça talvez tenha dado a sonhar com o rapaz à fugir daquela treva.

E um dia o rapaz e a moça, mesmo trocando juras, se separaram.
Pois a moça não acreditava que havia luz e beleza fora da caverna
E o rapaz, naquele instante em que a bela moça se ía, tornou-se apenas, velho e pobre.

E um dia de manhã o pobre velho, leu palavras mágicas da moça que lhe diziam que a felicidade de sua manhã logo ao despertar se fôra desde que a presença dele não mais se fez. Foi então que ele sentiu o poder mágico dela entrando em seu ser...

E neste dia o rapaz concendeu a moça o poder de o ter em suas mãos apenas com o estalar de dedos, pois o rapaz, enfeiçado pelos indifidáveis encantamentos da linda moça, queria dentre todas as coisas ficar pertinho dela.

E neste dia a moça falou ao rapaz que queria ser a sua esposa, sair da caverna e lá nunca mais voltar, e de lá partiu. Sentiu a luz, o calor, sentiu finalmente o que era o verdadeiro amor, a felicidade verdadeira.

E onde ficaram afinal as sombras? Para trás, nem mais fazem parte da história deste feliz casal.

O que mais se pode dizer? Que eu te Amo!

By Adriano Cabral.

domingo, 3 de julho de 2011

Idades do Sexo



                                              
Pré-História

      Eva passou horas no espelho, somada as tantas outras no cabeleireiro e todos os retoques aquela noite deveria valer a pena, afinal, ela ia mais uma vez encontrar o Adão. O vestido preto acima dos joelhos e decote generoso anunciava o que estava por vir. A campainha toca, ela corre, mal abre a porta e já está sendo sufocada pelos beijos de seu namorado que são retribuídos prontamente. Não dá para resistir e eles fazem ali mesmo, no chão da sala dos pais de Eva. Adão aguarda pacientemente sua adorada se refazer de toda aquela verdadeira luta do prazer. Já dentro do automóvel, as mãos continuam a procurar as mais variadas e criativas formas de deleitarem-se. O carro teve que parar na primeira rua escura, não dava para segurar até o cinema. No cinema foi impossível ver alguma cena do filme. Uma senhora, provavelmente com inveja do casal segundo Adão, chamou o lanterninha e ambos foram expulsos do cinema, mas felizes, pois logo, logo estavam no paraíso encontrado um nos braços do outro.


Idades da Paixão.

Cada mês de aniversário de namoro era uma comemoração. Fotos, vídeos e cartões eram publicados diariamente nas redes sociais. Adão e Eva estavam juntos em todos os momentos possíveis até mesmo nos improváveis. Ambos dormiam juntos todos os dias, ao vivo, por telefone e até pela via internet. Adão morava sozinho e Eva já tinha as chaves da casa. Não raro, ao chegar, ele se deparava com sua amada completamente desnuda e faminta. As poucas vezes que um saía sem o outro era um tédio só, afinal, como eles não cansavam de repetir: ambos eram um. As famílias sentiam falta, os amigos também, mas quem precisa de mais alguém quando se tem em dois todo um universo? Morar junto já não era uma opção, era a única coisa a se fazer, casados ou não. E após cinco anos de namoro casaram.

Período Industrial

      Ele era um dos principais comerciantes de peças automotivas de sua cidade. Ela tornou-se professora universitária. No primeiro ano de casados faziam amor cerca de três vezes por semana. No segundo ano nasceu pequeno Abel. Adão ampliou sua loja e Eva acabou o doutorado. Compraram o terceiro carro apenas para saídas com toda família. Abel deu os primeiros passos enquanto o casal agora se amava em seu ninho de amor duas ou três vezes por mês. A barriga crescia, não, não era outro filho, era o peso dos anos atingindo Adão. Eva não tinha mais tanto tempo pra ficar no espelho, tinha muita prova pra corrigir e planos de aula para elaborar. A cada quinze dias ela passava os finais de semana com a mãe, afinal família era muito importante. Enquanto Adão toda quinta-feira ia bater bola com os amigos, afinal, como se pode viver sem eles?

Certa noite, após passar vinte dias fora da cidade em razão de um congresso acadêmico a saudosa Eva, após banho tomado vai pra cama e deita de bruços por cima do maridão ansioso.
- Amor, quero fazer sexo!
-Eu também, já faz quase um mês, estou subindo pelas paredes. O olhar os olhos da esposa ele percebe que estão fechados, sacode levemente a mulher, ela desperta assustada.
-O que você quer Adão?
-Pensei que você queria fazer sexo, porra!
-Ah! Quero mesmo, mas estou com preguiça. Dá licença? Mas se você vai ficar bravo, faz aí, não me importo. Dito isto Eva deixou-se cair na cama de pernas abertas, no segundo seguinte dormiu. Adão desolado preferiu ligar o notebook e entrar na internet. E deitado ao lado de sua mulher nua, encontrou sua satisfação pela via ciberespacial.
Idade Moderna.
      Eva cada vez era menos encontrada em casa. Agora vivia incorporada a uma rotina de aula, cursos, palestras e grupos de orientação de mestrado e doutorado. Adão já estava com cinco filiais de sua loja, e vivia também mais atarefado ainda. Quando chegava em casa geralmente a esposa estava a sua espera, dormindo, quando não, plugada no computador se comunicando com alunos e colegas de trabalho. Tratavam-se carinhosamente, beijavam-se uma vez ou outra quando se encontravam. Sexo? Era uma ou duas vezes por mês, e olha lá. Para todos os olhos eram o casal perfeito com a família perfeita. Foi nesta época que Eva começou a sentir o doce sabor do pecado ao ser ostensivamente elogiada por Cain seu melhor orientando do doutorado. Em pouco tempo Eva estava rendida aos encantos da vil serpente. Há mais tempo Adão dava suas escapadas do trabalho para tomar cerveja na vila, estacionando seu belíssimo carro na frente do bar. Neste, as adolescentes encantadas pelo seu Tucson do ano disputavam uma com as outras na ânsia de proporcionarem prazer ao Adão.
      Às vezes Eva se perguntava por que Adão não insistia mais pra que ela cumprisse sua obrigação de fazer sexo com ele, mas preferia não pensar muito nisso.
      Às vezes Adão se indagava do porque Eva andar pra cima e pra baixo com aquele rapaz de óculos e cara de retardado, não devia ser nada, ele era apenas um garoto.

Fim dos Tempos.

Os anos se passaram, os filhos cresceram e casaram. Eva após ter sido abandonada por Cain que viajara pra Recife com outra, resolveu pedir o divórcio. Não era mais possível sustentar aquela relação. Adão ficou surpreso com a decisão da esposa insistiu, mas desistiu após ela destilar todo veneno acumulado de ano após ano daquela longa relação. Os filhos intervieram, os ânimos foram arrefecidos, promessas foram feitas e refeitas. A vida continuou na mesma levada, cervejas, alunos e uma cama, que definitivamente só serviria para dormir.
      Quando soube da notícia da morte de Adão, Eva estava deitada num quarto de hotel a milhares de quilômetros de distância de sua cidade. Ela já passava dos sessenta anos e não era mais capaz de seduzir alunos, ao lado dela, dormia tranquilamente um garoto de programa. Ao desligar o telefone, uma misteriosa lágrima solitária desceu de sua enrugada pálpebra, respirou fundo, aliviada, aninhou-se ao homem que ainda ressonava, e dormiu tranqüila.

by- Adriano Cabral

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Uma Noite de Plantão Médico



      Havia mais ou menos um ano que estava formado em medicina pela Universidade Estadual da minha cidade, não obstante esta fazendo residência médica em Gastroentorologia, a falta de grana e experiência me "inspiravam" a fazer plantões nas horas vagas. Não tive muita sorte no início, pois fui "dispensado" de um hospital porque não queria fazer plantões de "200" horas sem nenhum "custo" extra para o patrão. Fui em seguida "despedido" de um hospital particular vinculado ao Sistema Público de Saúde por me recusar a "simular" internações para gerar renda extra (Vocês viram na TV que isso pode até dar cadeia). Finalmente acabei me dando bem num hospital localizado numa cidade do interior por indicação de meu amigo Rodolfo. Ao contrário dos hospitais gerais das capitais ou de seriados de tevê, os plantões em hospital de interior é um tédio só, em regra passamos a noite dormindo. Mas não foi assim neste dia que estávamos apenas eu e Rodolfo na preguiçosa noite de 31 de dezembro de algum ano que já não lembro mais. Estava eu sonhando com alguma enfermeira mais que gata quando ouço o som da porta bater. Era a enfermeira, mais que tenebrosa, seus rosto era tão perfeito que ela poderia estrelar um filme de terror dispensando os efeitos de maquiagem.

- Doutor Rocha!
-Que foi droga! Não vê que estou dormindo!
-Apareceu uma mulher nervosa dizendo que o filho ta morrendo...

      Filho morrendo, lá vai eu, enquanto o urso do Rodolfo continuava a ressonar como uma chaminé de trem. Quando estou prestes a entrar na sala do consultório um foguete em forma de criança passa por mim, ignoro, entro e sentada na cadeira há uma mulher de olhar docemente bovino.
- Senhora, qual o problema do seu filho!
-Ele tá mau doutor, muito mal, estou desesperada. Enquanto falava ás lágrimas escorriam de sua face cheia de rugas. Olhei derredor procurando o menino, imaginei que o mesmo estaria provavelmente agonizando em algum leito da enfermaria, para ter certeza indaguei onde estava a pobre criança. Como geralmente quando o diabo vem manda o secretário, no mesmo instante que pensei na pergunta a resposta entrou no consultório derrubando tudo que estava na minha escrivaninha, saltitante e feliz estava lá o mesmo foguetinho que encontrei antes de adentrar a porta. Um pirralho loiro, cabelos em pé, suor escorrendo, e sorriso triunfante.
-Este é seu filho que tá morrendo?
-Sim doutor ele melhorou um pouquinho né? Mas precisa de remédio.

      Uma das coisas que qualquer médico plantonista sabe é que todos os pacientes atendidos precisam de um remédio, não importa se estão doentes ou não. Lembrei do sonho com a bela enfermeira, lembrei que ele foi interrompido por causa daquele diabinho e da mãe boboca, respirei fundo, afinal, eu era o médico né?
- Tome essas amostras de vitamina C, dê muito líquido e repouso.
      Retornei a minha sala de repouso, a cama ainda estava lá, quente, convidativa, insinuante como toda boa amante deve ser, entreguei-me aos seus braços e quando embalado por Morfeus estava de novo deleitando-me nos suaves sonhos, acordo com a maldita enfermeira de novo. Não pude suportar o impulso e gritei:
-Que foi agora mulher!? Com a voz trêmula ela disse-me que havia uma senhora idosa a ser atendida, parecia estar sofrendo de grande mal estar. Mandei-a chamar o Rodolfo, logo ela respondeu que o Dr. Ribeiro parece que está sedado, já fazia quase dez minutos que tentava acordá-lo, então, só restava eu mesmo. Fui bufando de raiva para o consultório, entrei e deparei-me com uma velha índia, ao sentar eu sorri com toda boa vontade de uma modelo internacional (aquele tipo de bicho que vive passando fome e sorri como uma caveira sabe?).
- Boa noite, o que a senhora esta sentindo? A resposta veio no momento em que ela abriu a boca, um hálito fétido de esgoto de quem ainda não conheceu a idade da escovação de dentes estava misturado com um nauseabundo odor de cachaça.
-São meus nerlvos doutor, eles não me deixam em paz. Me passe um remédio pra acalmar meus nerlvos, porque meu dinheiro já acabou.
-Minha senhora, com todo respeito, seu problema não são os nervos, e sim essa cana que a senhora enfia goela abaixo. Tome esse remédio para atenuar a ressaca e apenas tente beber menos.
Logo em seguida fui bufando de raiva para o repouso, adverti a enfermeira que só chamasse-nos se realmente houve uma urgência. Ela parecia sorrir. Dormi um sono sem sonhos que foi interrompido por Rodolfo me sacudindo, alegando que era "minha vez de atender" e que se tratava de um paciente com problemas hepáticos. Mandei-o para lugares inapropriados e voltei ao mundo do sono sem sonhos. Pouco tempo depois lá está novamente a maldita enfermeira com cara de tacho na minha frente.
-Que foi agora?
-Doutor, o paciente com problemas hepáticos morreu. Ao ouvir isso tremi de raiva.
-E o que eu tenho a ver com isso? Tenho lá cara de coveiro?! Morreu, pronto, nada mais se pode fazer.

 A enfermeira continuou firme, e acrescentou que era verdade, mas não tinha mais ninguém no hospital além de mim, Rodolfo e seu João o zelador e havia necessidade de levar o corpo para o necrotério, pois os outros pacientes estavam incomodados na enfermaria, além de se ter que deixar um leito livre. Pensei em mandá-la se virar com seu João, mas logo lembrei que o velho parecia ter uns duzentos anos, mal conseguia com ele mesmo. Acordei Rodolfo aos tapas e fomos para enfermaria. A visão do morto não era nada bonita. Tratava-se de um homem de cerca de 1.90 que além de gordo como um elefante estava aparentado com uma baleia em razão da doença que o deixou completamente inchado. Durante alguns minutos eu e meu colega tentamos em vão rolar o inconveniente falecido do leito para maca, contudo só Hércules seria capaz de tal feito, provavelmente mais difícil que todos os doze trabalhos juntos. Já eram três e meia da madrugada, suados e com sono, não tivemos alternativa senão acordar os pacientes melhorzinhos para ajudar-nos na titânica tarefa. Conseguimos ao todo seis. Mesmo assim não conseguíamos mover o bendito, até que um dos pacientes teve a idéia genial de subir no leito e fazer uma alavanca, funcionou, mas o pé dele afundou no espaço entre o colchão e paciente e morto giraram juntos caindo, não diretamente no chão, pois Rodolfo amorteceu a queda do defunto que caiu abraçadinho com meu amigo. Por um instante, entre os gemidos do paciente e do Rodolfo acompanhado da forma descansada e tranqüila do morto, passou pela minha cabeça que se trataria de uma tenebrosa cena erótica...
Mas logo acordei desse pensamento e com a ajuda de mais quatro pacientes conseguimos finalmente por a baleia em forma humana na maca. Já eram quatro da manhã, fomos felizes, corredor adentro empurrando a maca, que fazia um rangido sinistro sofrendo deveras com o peso, em direção ao necrotério. Foi quando há menos de dois metros do destino ouviu-se um estalido e o pior aconteceu: O pé da maca quebrou. E lá gastamos quase quarenta minutos para "consertar" a maca. Chegando ao necrotério foi fácil, até porque as macas são feitas na mesma altura da pedra onde são depositados os cadáveres do hospital, logo, bastou um empurrão e o corpo foi rolando, tranqüilo. Fim.
Eu e Rodolfo retornamos para o repouso trôpegos, exalando perfume funéreo, suados, mas felizes com o deve cumprido. Tomado banho, fomos dormir, eram cinco e meia da manhã, mal dormimos, por instinto resolvi abrir os olhos. E lá estava de novo diante de mim a entediante enfermeira, ela falou monotamente que a paciente do leito 17 estava em trabalho de parto. E lá fomos eu e Rodolfo ajudar a por mais um infeliz no mundo.


Enquanto o bebê saía num turbilhão de vômitos, fezes, sangue e toda sorte de líquidos multicores tive tempo de filosofar sobre o gorducho que se fora deste mundo e do magrelinho que acabava de nascer. Depois pensei que a enfermeira dos meus sonhos ainda estaria esperando por mim quando conseguisse dormir.

E este foi apenas mais um dia de plantão médico.

By- Adriano Cabral - (Inspirados em fatos reais)

domingo, 12 de junho de 2011

E Por Falar em Namorados - Parte 2


PS: Antes de começar a ler este texto leia a parte 1 clicando aqui


ROSA

Ao chegar em casa só restou a Rosana enfiar os rosto no travesseiro que logo ficou encharcado. Sufocava os sons de uma dor que explodia. Ela não queria ficar assim, mas como evitar, como não sentir? Como não se desesperar ao se conscientizar que até aquela altura de sua existência ela simplesmente se deixou usar por aqueles que a desprezavam e jogara até então toda sua vida fora, e sua vida, era o Leo.
Já eram quase cinco da manhã quando ela se ergueu da cama ao lembrar da carta que Leonardo havia lhe entregue. Começou a ler:

Rosinha:

Estamos juntos há tanto tempo que eu não consigo recordar uma lembrança na minha vida sem que você esteja presente. Não tenho mais nada no meu baú de memórias, nada que não seja de nós dois. É como se minha vida tivesse começado quando te conheci. E acho que foi isso... Eu me tornei um homem ou quase isso, quando provei dos teus beijos e de teus carinhos. Eu ainda não consigo imaginar como será minha vida daqui pra frente sem você, sem sua palavra, sua energia, sua personalidade, sua incrível capacidade de tomar decisões com rapidez e precisão. Sua pele macia, seus seios, sua língua, sua boca seu sexo. Olha, você é a mulher que qualquer homem em sua sã consciência gostaria de ter para si. O problema é que acho que mesmo gostando muito mesmo de você, creio que não dá mais para ficarmos juntos. O problema não é você, nem nunca foi, o problema sou eu. Acho que nunca vou sentir-me completo contigo. Na verdade tenho certeza que nunca vou ser completo com nenhuma mulher, entende? É isso aí. É exatamente o que você esta compreendendo. É coisa que tenho dentro de mim desde criança. Sempre diferente dos outros meninos. Sempre achando-os mais bonitos que elas... Porque só agora que estou me abrindo com você? Sinto vergonha de dizer, mas até o mês passado, eu nunca tinha tido nada concreto entende? Foi então que o Stênio, é isso... O Stênio... Você sabe né, aquele lá do meu bairro, o que faz Odontologia... Aconteceu Rosinha, Aconteceu... Nós. Então foi quando eu percebi que eu e você tínhamos chegado ao fim. Eu não poderia esconder isso de você de jeito nenhum, e sei muito bem que você não me perdoaria. Nem eu mesmo me perdôo. E mais estranho e trágico disso tudo é que ainda te amo, sabe, olho pra mim, bem dentro, e você tá lá, sempre estará, é parte de mim, não sai mais, e isso é triste. Ainda assim gostaria de ficar contigo mas sei que é o fim.

É isso.
Te amo e sempre te amei...
Leonardo.

      Rosa não conseguia acreditar no que estava lendo, era impossível que realmente aquilo houvesse acontecido, mas ela sabia, era verdade, a triste e dolorosa verdade. Ela se olhou no espelho como se visse uma estranha. O que era ela? Que coisa era ela? As lágrimas foram abundantes. Rosa nunca vira uma pessoa chorar tanto e tão dolorosamente em toda a sua vida. A dor explodiu num ódio que a fez quebrar o espelho com as próprias mãos e derrubar todas as coisas que estavam próximas a ela. Nisso, ela percebeu que derrubara o Leozinho, um bicho de pelúcia pequeno que ela recebera dele com outro enorme, no aniversário de primeiro ano de namoro. Ao vê-lo cair, ela soluçou repetidas vezes Não! Não! Não! e tomou o bichinho nos braços como se assim pudesse salvá-lo. Em seguida ficou um longo tempo a sós com as lágrimas e o espelho quebrado...

(........)
Leo estava estupefacto com o que acabara de ler. Era fatal, era real, era isso mesmo, era aquilo mesmo. Ele não tinha palavras para si. Sabia não haver consolo, seria uma maldição? Só tristeza. Era uma Rosa para ser regada e amada com toda a força, mas que força tinha ele? Nenhuma. Como poderia odiá-la, condená-la?
A dor era tamanha que ele não conseguia chorar. A madrugada cedia aos primeiros, mas ainda tímidos raios de sol. É o mais comum e belo momento de mudança, de triste e bela transição, da morte e vida de mãos dadas. Era a aurora se aproximando, pedindo licença as outras estrelas, era o sol tomando de volta seu lugar, sabendo muito bem que morreria ao final do dia. E atrás de cada dia quantos mundos surgiram? Quantas vidas se perderam? Quantos casais se amaram e se odiaram? O tempo passava, e ele não tinha como fazê-lo parar, e mais importante ainda, fazê-lo voltar. A marcha do tempo era inexorável, e impiedoso também era o caminhar para o fim. Não havia qualquer diferença o fato daquele dia ser o dos namorados.
Leo olhava a janela vendo o tímido movimento das ruas, buscando em cada pessoa o socorro, o auxílio, qualquer tábua que o salvasse da desgraça que estava se transformando sua vida. Seu olhar desesperado nada adiantava, ele sabia que era inútil, era só mais um sofrimento, mais uma dor que surgiu em mais um dia, após mais uma noite, no meio da multidão. Ao longe, Leo escutou aquela música, sim, aquela música, a música deles, que falava de um lugar ideal onde eles seriam eternos. Ao soar da doce melodia ele perdeu as forças e caiu de joelhos pondo em seguida as mãos na cabeça. A outrora doce melodia agora feria-lhe mortalmente a alma que se debatia ansiosa para fugir, e retornar ao seu lugar no etério. Um pombo branco em toda sua majestade e placidez vôou por sua janela zombando daquele desditado.
Leo Permaneceu lá por um longo tempo. Tinha certeza que nunca mais veria a sua Rosinha. Não suportou a solidão de seu quarto, tinha que sair, eram quatro e meia da manhã, mas ele tinha que sair. Foi sem destino. Ainda brilhavam, pálidas, algumas estrelas no céu.
Ele quase que por instinto se viu de frente a lanchonete na qual a pouco tinha selado sua desgraça. Não pensou, entrou por instinto, talvez para sentir de alguma forma a presença daquele ser que ele ainda amava. Gelou, ao perceber que ela também estava ali, com os olhos em escarlate, jamais a vira naquele estado. Tão frágil. Sentiu medo. Ela que estava de cabeça baixa pareceu pressentir a chegada do seu ex noivo. Mesmo assim, ao vê-lo, foi tomada de terror, e como defesa deixou transformar os olhos apavorados em aparente ódio, ódio vindo do desespero em só imaginar o que ela poderia vir a escutar dele. Não! Jamais tinha sido maltratada por seu Leo, jamais seria humilhada, já bastava tanta dor.
Suas pernas trepidavam, mas ele seguiu em frente, sentou na mesma mesa em que ela estava. Mesa aquela onde, ao lado, estava um rapaz escutando rapp, mesa onde há algumas horas eles haviam trocados aquelas fatídicas sentenças de morte disfarçadas de cartas.

     Ambos esperavam uma explosão de acusações, de insultos mútuos, de despeito e amargura. Rosinha e até mesmo o sempre plácido Leo estavam munidos de todas as armas necessárias para enfrentar o inimigo. A indiferença, o desprezo, a dureza do diálogo, o silêncio. As quatro mãos tremiam. Quem daria a primeira estocada? Quem feriria a alma primeiro? Tudo isso era necessário, para eles terem a coragem de fugir.
O terror da provável humilhação fazia com que ambos esquecessem as próprias culpas e só lembrarem o fato de serem vítimas. Quando o combate parecia ser iminente, de súbito aquele rapaz caracterizado de rapper aumentou o som de seu poderoso rádio. E através dele, ninguém soube até hoje de onde, em alguma estação de rádio, naquele exato momento, sem que nunca se soubesse o motivo, um Disque Jókei resolveu colocar uma música que não estava na programação daquele tipo de estação, e a música partiu, invisível, caminhando entre milhões de ondas, ora ricocheteando no excesso de tráfico, ora voando livre, mas indômita, até chegar, após quilômetros de distância, limpa e nítida no rádio do rapaz e se fez voz, e ainda sem nenhuma razão aparente, naquele exato momento, aquele garoto que parecia só gostar de Rapp não achou mal a canção e resolveu aumentar o volume até o máximo. E aquela canção não era um rapp duro, agressivo e rebelde, e sim uma canção de amor, não uma qualquer, mas A canção de amor, A música. A música que fora feita tão somente para Leo e Rosinha e com certeza, o compositor nunca saberá disso.


      Naquele exato momento houve uma explosão de dois seres, mas não de ódio, mas de lágrimas. O rapaz olhou aquele casal a chorar, e mesmo sem compreender o que se passava naquele quadro não o impediu de conter duas lágrimas fugidias que escaparam-lhe das pálpebras traidoras. E as muralhas caíram, os escudos se partiram, as espadas sumiram, os corações se enterneceram, quatro mãos se tocaram, as almas se fundiram, e só elas ditavam o ritmo daquela chuva de dor e amor. E para surpresa de todos, houve um beijo, não qualquer beijo, mas um beijo e um laço, um pacto, um uno, um. E neste beijo eles encontraram algo maior que o gosto e a carne, do que a mente e o sonho, eles sentiram pela primeira vez de verdade que existia de fato uma quimera, mas forte que tudo, mas poderoso do que a morte, que o preconceito, que o orgulho, que o medo. Amor.

Afinal, era dia dos namorados.

By- Adriano Cabral - 1998

quarta-feira, 8 de junho de 2011

E Por Falar em Namorados - Parte 1




Madrugada do dia dos namorados:

-Eu quero há muito tempo te dizer uma coisa muito importante meu amor...
-O que? Fala logo! Estou com os nervos em frangalhos. Você vem, telefona, me acorda a esta hora da madrugada, me força a vir para esta lanchonete idiota e agora fica mudo? Enlouqueceu de vez Leonardo?
-É que... é que... é que...
-É que... uma porra! Enlouqueceu de vez Leo? Só sabe gaguejar, só isso, você só sabe gaguejar?
-É que... Rosa, eu sou... eu sou...
-Ai! Ai! Porque? Porque? Porque? Tanto homem normal no mundo, tanta gente com a cabeça o lugar, e o que fui arrumar como namorado? Um débil mental. (para de repente, hesita e diz). Sabia que eu também tenho uma coisa para te dizer Leo...
-Ah! Então fala você primeiro, fala o que tu queres depois eu, tudo certo?
-Ah não! Quem tem o direito e o dever de falar primeiro é você. Tá pensando que eu sou besta é Leo? Quer me confundir? Diz logo o que você tem pra me dizer, depois eu te falo tudo.
-Me diz ao menos do que se trata, qual é o tema do que você vai falar Rosa...
-Não digo.
-Fala...
-Não.
-Uma pista, só uma pistinha só vai...
-Não digo não Leo, ora merda! Você é quem tem que falar, foi VOCÊ quem me acordou a esta hora da madrugada.
-Ah é né? Então só eu quem tem dificuldades de falar né? Só eu né?
-Ah meu filho! Comigo é diferente, não tem nada a ver, eu só não falo para não perder o meu direito, sei bem os meus direitos. Ora, se foi você quem me chamou é você quem vai ter que falar...
-Olha, eu não vou falar nada...
-O que? Seu canalha! Seu safado! Você me acorda às três da manhã para me dizer que não vai falar nada?
-É... quer dizer... não... quer dizer... sim... tá aqui olha... tá tudo aqui... escrito neste papel... toma, pode ler.... agora me diz o que você tem para dizer...
-Eu?
-Claro que é você... não tem mais ninguém aqui falando comigo além de você... vai Rosana fala logo... agora quem esta no direito sou eu, fala.
-É que.. é que...
-Oh ironias do mundo!
-Tá bom eu digo.. eu digo... é que... eu...
-Como o mundo dá voltas né Rosa?
-Tá bom... tá tudo escrito aqui... toma...
-Isso tudo?
-O que é? Vai ter preguiça de ler até isso agora é Leo? Epa não lê agora não... só depois...
-Opa! Você também só lê quando chegar em casa...
-Tá, tá, tá tudo bem, então vamos né?

O dois namorados olharam uma para outro e ficaram em silêncio. Ambos constrangidos e intimidados. Como se sete anos de namoro não permitisse mais do que aquele olhar quase fugidio. Em silêncio se foram.

LEONARDO

Estava ansioso para chegar em casa. Antes mesmo de trocar de roupa reuniu às páginas que Rosa havia lhe entregue. Devorou-as em poucos minutos. Releu várias vezes. As páginas diziam de forma sintética mais ou menos assim:

Leozinho:

Porra, fico puta em ter que recorrer a este meio para te falar das coisas, mas tem alguns lances que tem de ter muito peito pra dizer na cara. E realmente não tenho tanto. Sabe, não sei quando começou, só sei que faz tempo, muito tempo mesmo que a gente tá junto. E sempre mesmo com algumas brigas, sempre me senti assim, que você era meu... meu... e que... é né? Bem provável que eu fosse um pouco tua. Mas, porra! Você é um cara super compreenssivo, só você mesmo para me aturar, aguentar minhas neuras, explosões, intermináveis variações de ânimo. Mas sabe, eu sou uma burra, muito burra. Sabe o que eu fiz? Olha, até escrevendo é difícil dizer. É isso mesmo Leo, eu te traí. E foi mais de uma vez, duas vezes, não, foram várias, inúmeras vezes, foram tantas que eu não me lembro mais o número exato. Só sei que fui infiel, e talvez não acredites, isso só me fez mal, não sei que merda dava na minha cabeça acho que nasci para ser puta mesmo só nunca ganhei dinheiro para isso. Acho que é porque no fundo eu sempre achei que... Pô é isso mesmo! Que não era digna de ti, pois sempre te tratei como um cão sarnento, sempre te maltratei e você? O que fazia? Me abraçava e pedia desculpas, depois aparecia com rosas ou com outro presente sempre adorável. Quando te via triste o que eu fazia? Mandava você se virar, dizendo que não queria mais problemas pra mim, e quando era EU quem estava down o que você fazia? Me amparava, ficava do meu lado, enxugava minhas lágrimas, tentava me falar coisas engraçadas até eu sorrir. E sabe, eu tinha ódio, às vezes tinha ódio de você por ser tão burro em me tratar assim tão bem, eu, uma puta, isso mesmo uma puta uma cadela. Tinha ódio de mim e de ti. Acho que eu te tratava tão mal esperando que você criasse ódio de mim e finalmente me enxotasse. Porque eu não tinha coragem de te deixar. Não consigo olhar pra frente sem ver tua face. Quando me olho no espelho eu vejo uma vadia, uma burra, idiota, impulsiva, mas mesmo diante de tudo isso eu te amo, te amo, sei que você jamais irá acreditar... Eu mereço.Mereço tudo de ruim, mereço morrer sem que seja vertida uma lágrima em meu túmulo. Mas eu te amo, e nada vai mudar isso, ninguém nunca foi tão importante pra mim. Vou sentir saudades de nossas tardes juntos, de tudo, tudo que vivemos, essas lembranças, lembranças doce, é a imagem que dói mais. Estou aqui chorando e escrevendo. Eu não aguento mais meu amor, não suporto. Passei dos limites, passei mesmo. Nem eu mesma me aceito mais, nem aguento a mim mesma, quero morrer. Por isso decidi dizer tudo, acabar com tudo. A gota d'água foi isso: Sabe aquele teu amigo, sim Leo, teu melhor amigo, aquele que faz Odontologia, aconteceu, eu e ele, nós. Foi o fim da picada, transar com teu melhor amigo. Não ponha culpa no Stênio, a culpa é toda minha só minha. Podes me odiar, tens toda razão, mas acredite, contigo ou sem ti, eu te amo e mudarei de qualquer forma, não quero fazer mas isso, tudo isso me faz mal.

Adeus.
Tua Rosa.

Continua...

by- Adriano Cabral

sábado, 28 de maio de 2011

Homossexualismo Segundo Frei Betto



As vezes a única coisa que podemos fazer é reproduzir textualmente as palavras de outra pessoa. Logo, abaixo vai o texto de Frei Beto, autor que despertou em mim o prazer de estudar história, neste texto abordando o tema Homossexualismo. Vale a pena conferir. Opinem.

Frei BETO:


É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos. No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”…).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc). No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países-membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hetero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama…).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis, ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão;e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.

FREI BETTO, Frade Dominicano, nasceu em Belo Horizonte, em 25 de agosto de 1944, foi preso duas vezes durante a ditadura e é um escritor premiado internacionalmente, sua obra mais lida: BATISMO DE SANGUE. Grande pensador da Teologia da Libertação.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A Doutoranda e O Assaltante


      Meu nome é Almir, trabalhava como embalador numa loja de departamentos até um ano atrás, quando a maldita gerente me despediu sem dizer porque. A megera nem assinou minha carteira de trabalho.
     Tenho três filhos pra sustentar e uma mulher que enche o saco me chamando de vagabundo. Vivo de bicos e quando a coisa aperta amigo, parto para ignorância e pratico, como poderei dizer: exproriação social de bens da burguesia desalmada em nome da revolução que se passa em meu estômago e de minha família. Em outra palavras, faço furtos e roubos. Apesar de não ser uma atividade reconhecida por lei, ela dá muito trabalho e nem sempre compensa os riscos. Tem muito malandro andando armado pra se "defender" (como se dinheiro valesse uma vida) e os policias atiram pra depois perguntar. Outro problema é o da renda, não é boa, tornar-se pior ainda quando se tem um sócio. Luís, meu vizinnho e amigo, tá sempre disposto a empreender. Evitamos ao máximo violência, por isso só miramos em mulheres e idosos, não reagem, não dão problemas e às vezes são tão educados. Vale a pena trabalhar com gente assim. Por causa de nosso profissionalismo nunca precisamos dar um só tiro.
      No entanto, minha paz quase foi embora numa preguiçosa manhã de domingo. Eram cerca de cinco da manhã quando eu e Luís retornávamos de uma noite de trabalho árduo no calçadão de Boa Viagem. Estávamos a pé, não tinha buzão e infelizmente não podíamos roubar um carro, nenhum dos dois sabia dirigir, já tava de saco cheio quando as vítimas perguntavam: Não vai levar o carro? A gente não podia responder que não sabíamos dirigir né? (Iríamos fazer essa capacitação no mês seguinte). E lá estávamos passando por um bairro vizinho de classe média quando nos deparamos com um automóvel estacionado em frente a uma casa, a mala estava aberta e uma moça bonita estava parada de pé, em frente a porta do carona segurando um camalhaço de papel. Um rapaz com cara de abestalhado ia e vinha retirando a bagagem, pareciam retornar de viagem. Luís olhou-me com aquele olhar, eu respondi:
- Não, o turno acabou.
- Mas véi, eles estão implorando por isso, vai ser muito fácil.
Rua deserta, cinco da manhã, uma patricinha e um babacão, o que poderia dar errado?
- Vamos lá, seguindo o procedimento. Atrevesse a rua e venha por trás, irei pela frente.
 
      Bem, como sempre, fui pela frente e anunciei o assalto aos gritos ( a gente tem que assustar ao máximo) a garota tomou tamanho susto que jogou os papéis para cima que voaram se espalhando rapidamente. Inusitadamente ela parecia tentar segurar as folhas de papel no ar, mas ao ouvir minha voz ordenando-a que ficasse quieta, ela estacou. O rapaz ja estava como estátua. Pedimos o de sempre:Celular, bolsa, carteiras recheadas de dinheiro. Eles não reagiram e entregaram tudo caladinhos. Uma maravilha, parecia uma ótima forma de começar o domingo, foi aí que o maldito Luís notou que havia um notebook no banco de trás e resolveu pegá-lo foi quando a moça gritou.
 
-Isso não, você não pode levar! Ao ouvir isso eu e meu companheiro ficamos atônitos, sorri por dentro, sem demonstrar, apontei a arma delicadamente para cabeça da garota e disse:
-Moça se você tem amor a sua vida, cale a boca, vamos levar o que quisermos e fim de papo. Falei isso com toda cara de mau que Deus me deu, no entanto ela retorquiu firmemente:
-Não! Vocês não vão levar meu notebook. Neste momento, Luís começou a tremer com a arma na mão, eu imediatamente dei uma rasteira no babaca que estava com ela, engatilhei o revólver e gritei que se ela tivesse o mínimo de amor a vida dela e do bobão ali, que ela não abrisse mais o bico.
 
A garota veio em minha direção devagar,  e falou, com com a voz trêmula, mas demonstrando determinação de aço, falou que podíamos atirar, só assim poderíamos levar seu computador. A essa altura o rapaz chorava implorando pra nós levássemos tudo, que a Rose estava louca. E deveria estar mesmo, porque para espanto de todos, ela saltou sobre Luís, arrancou o notebook e abraçou-o como a um filho. Apavorado, Luís caíu no chão, apontou a arma para moça e apertou o gatilho, não deu tempo de pedir pra ele não fazer isso. Mas como diz o ditado, Deus ajuda quem cedo madruga. Luís era relaxado demais e  sempre esquecia de carregar a arma. A moça maluca, ainda estava viva. Percebi que a situação era ruim e poderia ficar pior, mas não me daria ao luxo de abrir mão daquele notebook. Saltei pra cima da maluca com arma em punho e falei baixinho:
 
-Moça, qual é seu problema? Você quer mesmo morrer? Me diga porra! Você quer morrer? Ela permaneceu calada, segurando mais firme o computador nos braços. Tentei puxá-lo mais em vão. Engatilhei a arma, minha paciência estava acabando, indaguei novamente se ela queria morrer.
-Olha, você quer me estuprar? Que mania idiota dessa mulherada, porque todas acham que assaltantes são necessariamente estupradores, fiquei ofendido, mas imaginei que, como instrumento de terror poderia funciona,r então respondi que sim, se ela não me entregasse o computador iria estrupá-la dentro da casa dela. O que ela veio a dizer em seguida jamais vou esquecer:
-Vamos fazer o seguinte então, você me estupra e deixa o computador comigo tá bom? Ela falou isso entre lágrimas, soluçando. Comecei a achar que estava vivendo uma história de Almodovar(certa vez roubei uma caixa com a coleção completa dos filmes e virei fã). Não tinha como responder educamente a infame proposta. Mas outra questão ficou martelando dentro de mim era motivo da atitude da moça. Então perguntei porque aquele computador valia mais que a vida do seu amigo e a sua honra.Ela chorava muito, mas respondeu:
-Minha tese moço, se eu perde-la eu prefiro morrer. Mandei o bestalhão do companheiro dela calar a boca, ele estava clamando o tempo todo pra não matarmos ninguém e continuei conversando com a louca. Afinal o que é uma tese? Então ela explicou em poucas palavras os longos anos que gastou para fazer um trabalho chamado tese de doutorado, as cobranças de seu orientador que vivia a atormentá-la, que a cópia digitada voôu de suas mãos quando anunciei o assalto, que ela não tinha mais nenhuma a não ser a que estava no notebook.O tempo passava, mas acabei me comovendo com a menina, afinal, era tudo coisa de estudo e do orientador dela, que pelo visto, era pior que minha antiga gerente.
-Então se a gente imprimir tá tudo okey pra você?
-Eu não tenho impressora, e meu Pen Drive esqueci no hotel, atrasei o pagamento da internet e não tenho conexão. Perguntei pra ela que diabos era esse drive, ela me explicou e tive uma idéia. Mandei todo mundo entrar na casa, um carro ou outro já passava na rua. Lá dentro chamei Luís que até então estava calado, sem saber o que dizer ou fazer, peguei com ele a mochila onde estava o fruto de nossa noite e encontrei um pequeno objeto, mostrei pra moça, ela sorriu e confirmou que não era um pen Drive mas serviria pra copiar. Todos estavam sentados na mesma mesa, o clima ficou tenso quando o tal sistema não quis reinicializar, depois da terceira tentativa para felicidade geral, ela consegiu copiar tudo. Quando eu já estava na porta da casa gelei ao ouvir a voz da moça que pediu pra esperar. Contudo para meu espanto, ela veio em minha direção e me deu um abraço:
-Obrigada, você é o ladrão mais legal do Brasil.
-De nada moça, faça muitas cópias dessa tese pra não passar risco de vida de novo viu?
-Tá. Boa Sorte!

Eu achava que minha vida tava díficil, não quero nem imaginar como é ser uma doutoranda.

(Inspirado em fatos reias)
by- Adriano Cabral

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Supremo Tribunal Federal Reconhece União Homoafetiva



Em cada época um povo ou cultura erigem seus "manuais da vida", estes são um conjunto de preceitos morais, religiosos e legais que determinam como alguém deve se comportar para ser "feliz". Na verdade tais manuais, em grande parte de seu conteúdo, apenas tentam preservar o status até então existente impedindo qualquer comportamento autônomo que destoe ou fira o que em um dado momento seria um comportamento normal.
As relações homoafetivas eram toleradas na Roma e no Egito antigo. Na Grécia antiga eram enaltecidas e até mesmo as únicas dignas de serem consideradas amor ou ainda sinônimo de virilidade.(vide Aristofante no livro O Banquete, atribuído a Platão e o invencível exercito de Tebas, formado exclusivamente por casais homossexuais), não obstante, tem sido um grande tabu em quase todas as sociedades, em todas as épocas sem que a prática homoafetiva nunca tenha deixado de existir.

Devido as restrições morais, pseudo-religiosas, e até legais, as pessoas que estabelecem relações homoafetivas são vítimas do mais cruel preconceito, expresso através de piadas, assédio moral, e não raro, ódio que explode em violência extrema levando a morte. Mas afinal porque punir alguém que escolhe amar outra pessoa? Pior ainda, como muitos acreditam, punir alguém que é genéticamente destinado a amar apenas um determinado gênero idêntico ao seu? Resposta lógica adequada não há, restam apenas dogmas sem sentido e ódio que não aceitam argumentos.

A Constituição Federal de 1988 já propagava o direito a igualdade, liberdade sem distinção, e fundava-se no princípio basilar de todas as Constituições ocidentais: Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Foi fundado em princípios previstos há mais de vinte anos que o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu a união estável Homoafetiva nos mesmos termos da relação fruto de uma união heterossexual. Caso, talvez até raro, onde a justiça tardou mas não falhou.
O preconceito provavelmente continuará, a intolerância ainda estará presente em muitos lugares, e sem dúvida, alguns dogmas previstos em mais que velhos testamentos ainda perdurarão, mas o dia 05/05/2011 será considerado um marco e um grande passo para que o ser humano seja efetivamente livre para amar.


By- Adriano Cabral

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mate Alguém, Fique Famoso e Vire Filme



Há um filme que recomendo a todas as pessoas que tiverem paciência para ler este blog:Assassinos por Natureza (Natural Born Killers). Este filme roteirizado pelo até então desconhecido Quentim Tarantino e Dirigido por Oliver Stone, aparentemente pode parecer apenas uma ode a violência gratuita a transformando quase numa "viagem psicodélica". No entanto e expectador atento notará que trata-se de um filme que mostra as vísceras da grande imprensa que vinha desde aquela época transformando a violência num grande espetáculo, consequentemente, tornando assassinos grandes astros. Na película em questão os personagens Mickey(Woody Harrelson) e Mallory(Juliette Lewis)são um casal apaixonado um pelo outro e literalmente loucos pela fama e violência (não necessariamente na mesma ordem). Durante o filme eles matam várias pessoas, sempre tomando o "cuidado" de deixar ao menos um vivo para "contar a história". Neste interim tornam-se astros, principalmente em função de um programa de TV "Maníacos Americanos" ancorado pelo jornalista inescrupuloso Wayne Gale (Robert Downey Jr muito antes de sonhar em ser o homem de ferro). No decorrer desta obra todos tentam tirar "vantagem" dos cruéis criminosos, dentre politicos, policiais, redes de tv e até mesmo o diretor do presídio onde num dado momento eles são confinados. Apesar de exagerada e não raro nauseante,a obra em questão toca na ferida há muito aberta nos Estados Unidos onde, não raro, pessoas tornam-se assassinas para ganhar fama, prestígio, eventualmente dinheiro e poder virar "filme", ser "modelo" para muitos, o maior íncone deles é justamente o assassino Charles Manson que fundou uma seita com adeptos em todo mundo.
O Brasil finalmente esta entrando nesta "moda" com o espetáculo criado em Realengo bairro da cidade Rio de Janeiro. O brutal crime que tirou a vida de várias crianças tornou-se um episódio sinistramente mais monstruoso onde políticos, policiais, "profissionais de saúde mental", especialistas de toda sorte e principalmente boa parte dos meios de comunicação que exploram ao máximo o fato a fim de tirar vantagem de alguma forma. De todos eles a grande imprensa televisiva sem dúvida demonstrou a mais completa falta de compromisso com a informação e sua sede pela audiência, bombardeando seus telespectadores exaustivamente com flashs de parentes chorando, entrevistando sem dó nem piedade as crianças sobreviventes ou pior ainda, indagando aos parentes das vítimas as famosas perguntas de: O que você sente agora ou o que você deseja neste momento...
E a coroação máxima da falta de respeito foi a veiculação da entrevista com o assassino em rede nacional. Não obstante ser de domínio público o nome do meliante não me darei o trabalho de nomeá-lo, afinal, segundo consta de cartas e vídeos desta criatura nefasta, ao cometer o hediondo crime, o mesmo tinha intenção de com isso obter fama, ser ouvido e servir como "modelo". Isso está sendo possível graças a ampla divulgação pela grande imprensa de vídeos e cartas do assassino. E os resultados já vem surgindo, segundo foi noticiado na imprensa (leia a notícia aqui) o assassino de Realengo já está ganhando páginas de apoio nas redes sociais e inúmeros fãs. Enquanto isso o Sargento que no cumprimento de seu dever deteve o criminoso tem pequenas notas na grande imprensa. Se tivesse o mínimo de "sensibilidade" e respeito, bastava noticiar o fato, sem a necessidade de repetição odiosa, onde se renova não só a dor das centenas de pesssoas que conheciam as vitimas, mas também evitando-se criar o clima de histeria coletiva que existe no nomento em boa parte do Brasil sobretudo nas crianças, algumas aterrorizadas e temendo ir a escola. Não há função nem interesse de se saber a história, idéias, vídeos nem tampouco as "razões" insanas que levaram o criminoso a cometer seu ato, até porque este por si só é injustificável.
Nos Estados Unidos, criminosos agora estão sendo proibidos de explorarem economicamente seus crimes através de livros e filmes, inclusive quando há algo neste sentido, o dinheiro em questão vai para as vítimas.
Particularmente não assisto programas policiais e pulo as notícias sobre o assunto quando leio jornais. Todos estamos sujeito ao crime lendo ou não, mas podemos optar em não alimentar essa parte da "imprensa" que explora e vive da miséria alheia.
Espero que o Brasil não se torne um "celeiro" de assassinos em busca de fama e que cada vez mais fiquemos atentos ao que é efetivamente notícia e repudiar a espetacularização da informação.

by Adriano Cabral

quarta-feira, 30 de março de 2011

O Melhor Texto de 2010



No ano passado este espaço publicou mais de cinquenta textos, dentre eles os dez mais lidos foram lançados em votação para que fosse escolhido o melhor texto de 2010. Curiosamente, assim como aconteceu no ano passado, a escolha recaíu em um texto que tem um grande valor pessoal pra mim.Para entender isto vou contar-lhes o que deu origem ao texto vencedor. Eu ainda era casado, minha então esposa era professora de língua portuguesa, tínhamos um filho que aos seis anos de idade já tinha na prateleira mais de cem livrinhos infantis. Sou aquele tipo de chato que não gosta de datas comemorativas como dia dos pais e aniversário, então até pra não gastar muito, sempre pedia para minha antiga companheira "dar-me" presentes que na verdade seriam do meu filho. Daquela vez havia pedido o jogo para PC das Crônicas de Narnia como presente do dia dos pais. Qual foi o meu espanto quando por erro ela comprou a coleção encardernada do livro de mesmo nome. Mesmo achando muito difícil, eu e minha antiga companheira nos alternamos em leituras conjuntas com nosso pequeno afim de inspirá-lo a ler o volumoso livro sozinho. Por mais que tentassemos, não conseguiamos seduzir nosso filho a ler um livro com mais de setecentas páginas e sem nenhuma gravura. Foi aí que tive uma idéia maluca. Entrei na internet, criei um site (na verdade deveria ser um blog, que ainda esta no ar aqui) que prometia "o melhor presente que os pais possam comprar" para a pessoa que primeiro terminasse todas as crônicas do mundo Narniano e o último lugar ficaria preso em narnia para sempre. Para completar meu plano criei uma lista com cerca de cinquenta nomes que disputariam o prêmio. Na lista inseri meu nome, da minha ex companheira e de nosso filho. Informado do concurso, o menino ficou num misto de euforia e medo, mas topou o "desafio". De repente nossso até então desinteressado leitor de livros sem "desenhos" começou a ler por horas a fio. As vezes chegando a avançar mais de 50 páginas num dia, o que é sem dúvida excepcional para uma criança daquela idade. Foram sete meses de leitura, quando sua dedicação esmorecia eu mudava a posição dele para os últimos lugares no site, ou ainda, inventava debates entre os concorrentes, com direito a provocações que mexiam com os brios do menino e faziam-no retomar a leitura (risos). Ao final, mesmo ele "terminando em segundo lugar" (afinal, não queríamos criar um filho presunçoso) nós demos o melhor presente que pudemos comprar. Mas o que talvez nosso filho até hoje não tenha percebido, é que o melhor presente do mundo fomos nós que recebemos quando há quase doze anos ele(Completa doze dia 06/04)nasceu e com sua vinda nós repensamos o sentido da vida e finalmente compreendemos o significado da palavra amor. E foi inspirado nele que escrevi a Lista de Narnia escolhido o melhor texto de 2010 por vocês leitores. Texto que no final das contas é uma declaração de amor a leitura e sobretudo de amor ao meu filho. Te amo muito!
Leia a Lista de Narnia aqui.. A propósito, há no blog um texto escrito pelo meu filho, O Coração Denunciador, quer conferir, leia aqui. E aguardem que ele tem um projeto de escrever um livro inspirado em mitologia nórdica ou africana. (menino levado). Um grande abraço a todos vocês.

domingo, 6 de março de 2011

Olinda - Aventura De Carnaval


Estávamos no final dos anos setenta. Eu, Tullios era uma criança cheia de medos e terrores. Um menino sonhador que vivia em um mundo que se encontrava entre o real e o imaginário. Vivíamos em uma casa modesta no bairro de Casa Amarela na cidade do Recife. Meus pais eram mais dois retirantes dos tantos que fugiram da eterna miséria do sertão nordestino, mas precisamente da Bahia. Como não podia deixar de ser, a família era grande, ao todo eram nove filhos, eu era a oitava cria da família Menezes. Ainda não tínhamos televisão.
Não obstante o grande rebanho, não passávamos fome. Necessidades sim, mas fome nunca. Meu pai ganhava muito bem em relação à média dos trabalhadores daqueles tempos, todos sempre diziam: Se papai tivesse menos filhos seríamos ricos. E cada um imaginava a família ideal, cortando uns irmãos aqui outro acolá. Mas o fato eram nove pessoas confinadas numa casa de três cômodos que no decorrer dos anos ganhou mais três quartos com a construção do primeiro andar.
Mas ainda estamos falando da casa de três cômodos onde num dos quartos dormiam meus quatro irmãos mais velhos, no outro, um pouco mais aconchegante, ficavam minhas três irmãs e por fim, no quarto maior ficavam os donos da casa. Eu dormia sozinho numa cama de campanha, na sala mesmo, enquanto minha irmã caçula, Denise dormia no berço com meus pais.
Todos os anos a família inteira se reunia para brincar o carnaval. Geralmente freqüentavam um clube que ficava pertinho de nossa casa. Eu odiava o carnaval. Minto, morria de medo. Arranjava mil desculpas para não ir para a folia e permanecer com minha tia Maria, que era evangélica e também ficava com a pequena Denise quando minha família saía.
Eram sempre dores de cabeça, no ouvido, no pé, uma moleza no corpo e tantos outros males que se é possível inventar. Entretanto, parecia que nenhum ardil funcionaria naquele ano. Minha mãe estava decidida a me levar nem que fosse de maca e tomando soro na veia.
Eu tinha ojeriza ao carnaval. Temia aquelas criaturas medonhas e sombrias que pulavam freneticamente sob um som muito alto e terrível aos ouvidos de qualquer ser humano. Aqueles cavaleiros fantasmagóricos com lanças em riste caminhando nas ruas, ameaçando os transeuntes. Toda aquela fantasia sinistra me punha a rechaçar qualquer idéia que me impelisse aquela festa. Só mais tarde compreendi que as criaturas medonhas nada mais eram que pessoas fantasiadas que pulavam de alegria ao som do frevo e que os cavaleiros de lança eram apenas os representantes do maracatu rural. Mas isso e muitas outras coisas só vim descobrir depois.
Enquanto isso, toda aquela atmosfera momesca me causava pavor. Ainda mais com o acréscimo que sempre ouvi de minha tia a dizer que aquela festa era patrocinada pelo próprio diabo.
Não parava de chorar. Implorava para não ir. Minha mãe tinha na face a mais sublime das irritações, como podia ser aquilo? Comprou-se até fantasia de Romeu, ficarás um brinco menino! Tantas pessoas sonham em brincar o carnaval aqui em Recife e principalmente em Olinda, e tu, o que me dizes? Ficas aí a inventar doenças? Não vês televisão filho? É o maior carnaval do mundo. Vais sim. E vais ficar um pão, tão fofinho que irás arranjar lá a tua Julieta. Pois é? Não adiantaram as chagas inventadas, os gritos histéricos, as lágrimas. Em pouco tempo estava lá, com armadura brilhante de papelão, uma capa, uma bainha sem espada e um belo e ridículo chapéu com uma pena no alto. Logo estava meus pais e toda ninhada da família Menezes esmagados dentro de um coletivo.
Entre os passageiros tínhamos uma índia e um vaqueiro sentados abraçados num banco de trás em altos beijos. Batman me espremia de um lado enquanto uma bela diaba, que estava ao eventualmente atracada ao que me parecia ser Deus e em seus constantes movimentos acabavam por me jogar pra cima do homem morcego. Confetes e serpentinas voavam a toda hora. No fundo do ônibus um grupo de bailarinas de barba e bigode cantavam desafinadamente músicas carnavalescas acompanhados por um batuque desvairado. Os instrumentos de percussão eram os bancos e o teto do ônibus que certo tempo depois veio a partir-se. O calor no coletivo a cada minuto aumentava. Era mais ou menos meio-dia e todas as janelas estavam cerradas com o intuito de se evitar que os passageiros tomassem banhos indesejáveis de lama e ovo podre que eram atirados em todos os carros pela multidão de gente adepta ao mela-mela. Um Bojudo lorde inglês em farrapos atropelou metade dos passageiros no momento em que correu pelo estreito corredor do ônibus a fim de saltar em sua parada. A fervura aumentava e o coletivo cada vez mais lotava. O suor escorria testa abaixo, o cheiro azedo daquela gente toda imprensada umas nas outras entrava forte nas minhas narinas. Cercado por todos os lados e sem ter onde me segurar acabei por abraçar as ancas da bela diabinha que vestia um pequeno trapo na parte de baixo de suas vestes. O contato com aquelas generosas carnes quentes e macias fez-me concluir que a viagem não era de todo má. Já bendizia o aperto do ônibus e começava a gostar do carnaval. A diaba ria do menino atracado a ela como fosse sua última tábua de salvação. Deus, piedoso como sempre, ao lado dela, também sorria, no final das contas, ele pensava provavelmente que as crianças daquela idade não sabem o que é lubricidade. Tinha razão o nosso senhor, até hoje não sei o significado dessa palavra. Mas que foi gostoso foi. Viva ao carnaval!
Mas tudo que é bom tem que acabar. Uma caixa de sabão em pó gigante onde havia escrito Homo-Sexual gritou que havíamos chegado. O coletivo defecou quase todos seus dejetos humanos na praça perto da prefeitura. E lá estávamos nós frente a frente com a folia, com aquela imensa multidão de gente que surgia de todos os lados, subiam e desciam as ladeiras, ou ficavam apenas parados a espera das agremiações carnavalescas ou a troças. As tais troças eram animadas desde orquestras completas ou apenas outro tipo de banda, composta de jovens e velhos batendo em latas vazias. Existe uma por sinal quem não tem instrumentos, jovens caminham pelas ruas com uma grande corda, gritando às 5 horas da manhã: ACORDA ou A CORDA, e os que despertam com a barulhada se juntam a troça barulhenta para acordar os foliões fatigados de farra. Mas o carnaval de Olinda tem de tudo, ou quase tudo. Era gente fantasiada de leite em pó, padre, velho, bebê, tinha até advogado com terno gravata e valise. Um maluco trajando roupas sociais passou tocando alucinadamente uma Alfaia.
Minha família queria subir primeiro à ladeira que levava a igreja da Sé de onde desciam e subiam as principais agremiações carnavalescas. Durante a subida, vendo o horror e o medo ainda estampado na minha face. Meu pai teve a idéia genial de comprar-me uma espada de madeira, com direito a bainha nova e tudo. Com ela em punho comecei a me sentir mais seguro. Era um cavaleiro no meio de demônios, mas agora estava preparado. Ai de quem me atacasse. Saltava de um lado para o outro brandindo a espada contra os inimigos, estes, achando engraçado o que para eles era uma brincadeira apenas sorriam ou simplesmente ignoravam. Aquela arma de brinquedo deu-me uma sensação de poder. Agora estaria pronto para enfrentar qualquer perigo. Era o próprio Amadis de Grécia ou de Gaula.
Exaustos, chegamos à igreja da Sé. A vista de lá é simplesmente espetacular. Vê-se dali toda cidade de Olinda, o porto do Recife apinhado de navios e o mar, o belo e vinoso mar que cerca as duas cidades irmãs. Mas podem ficar tranquilos, como não sou romancista, não tenho a capacidade que só eles possuem de descrever minuciosamente a majestosa visão que tomava conta de minhas, até então, pequenas e jovens retinas. Dito isto, continuarei. Posso?
Enquanto meus familiares comiam alguma coisa e esperavam alguma troça ou bloco passar, eu observava com curiosidade a grande igreja da Sé. Gigantesca aos meus olhos. Resolvi então que fazia-se necessário uma exploração daquele lugar cheio de mistérios. A igreja era cercada interiormente por várias árvores e um imenso jardim que para mim mais parecia uma floresta. Era impossível não ir lá. Por isso nem percebi quando minha família desceu aos pulos em direção à rua da Misericórdia atrás de Pitombeiras dos Quatro Cantos. Estava cego de curiosidade, galguei com certa dificuldade o pequeno muro do templo e saltei para dentro.
O pátio da igreja era só silêncio. Parecia-me que havia transposto um portal para outro mundo. A barulheira do carnaval sumira. Aquela floresta, aquele ermo, mexia com minhas estranhas, fazia arder meu peito, um convite para aventuras. Aquelas árvores frondosas, a solidão de seminário, a lembrança de velhas histórias que diziam que dentro das igrejas antigas se enterravam pessoas, levou-me a outra constatação: estava só, e, sobretudo perdido. O mundo começou a girar, o pavor profundo queimava minha alma, tudo ficava maior, agigantava e eu diminuía.
A minha coragem se fora tão veloz como surgira. Agora tudo era perigo, os sons agora que vinham do lado de fora agora podiam ser escutados, e eram aterradores. Gritos, só ouvia-se gritos e o farfalhar medonho de folhas, os galhos balançando como se quisessem ganhar vida tão somente para tomar a minha. Então, veio as torrentes de lágrimas que lavavam o a grama desperta, mas logo elas gelaram, pois o silêncio interior foi rompido por um grito feminino, distinto e próximo, um grito de desespero e súplica. Por trás deste grito havia algo mais aterrador, um poderoso ribombar de cascos. Não sei explicar o que se seguiu nos segundos seguintes, pois todo meu ser se petrificou de terror. Maldita hora que vim para carnaval, coisa do diabo, agora seria punido, nada mais adequado do que uma igreja. Naquele exato momento todos os pesadelos de menino medroso pareciam que iriam se concretizar, e da forma mais terrível do que a imaginada. Não me lembro como, só sei que no instante seguinte estava eu enfiado no meio do mato, de bruços, espreitando o muro e o portão da igreja. O barulho de cascos aumentava, já conseguia ver o demônio montado num corcel negro, que ao respirar, soltava pavorosas labaredas das narinas, e seu cavaleiro vinha reivindicar minha alma afim que eu vivesse todos os tormentos do inferno por toda eternidade. O barulho era tão intenso que pensei sentir meus tímpanos explodir. Gritei, mas da minha boca não ousou sair som algum, quando vi um vulto transpor num só salto, o muro que a pouco eu tivera dificuldade de galgar. Ao chegar do outro lado, que para minha desgraça era o meu lado, o vulto com formas femininas caiu no chão dolorosamente e então ele gritou, e três criaturas caíram do céu em cima dela. Eu permanecia escondido entre as folhagens, tremendo de medo, medo que me fazia delirar e ver as coisas, digamos, com certa “grandiosidade”. O fato que as três criaturas se preparavam para açoitar a pobre figura que, ainda no chão, implorava misericórdia. Enfiei os olhos na terra a fim de privar as minhas tão tenras retinas de espetáculo tão vil. Contudo, a curiosidade, doce irmã do medo, trouxe-me coragem, ao menos para erguer os olhos e mirar na menina que estava prestes a ser massacrada por aqueles demônios. Ao contemplar aqueles jovens olhos em chamas e as lágrimas a jorrarem miseravelmente daquelas lindas órbitas negras, fui de súbito tomado de uma bravura indômita. Era o próprio Amadis da Grécia, saltei com fúria sobre os demônios que estacaram espantados diante de minha audaciosa investida. Com espada em riste, brandi os mais violentos golpes que meus pequenos braços conseguiram. Ao sentir as primeiras bordoadas, o bando sumiu tão veloz que em pouco tempo já não se ouvia nem mais os uivos de dor, dor esta provocados pelas feridas, provavelmente mortais, causadas pelo meu terrível cutelo. Fiquei por alguns instantes estático no meio daquela selva, tremia muito, era medo, raiva e gáudio de mãos dadas, sentia o sangue correr em cada veia de meus braços, o vento balançava a minha capa, era um herói sem dúvida. Nascera para o ofício. Sir Tullios, o grande cavaleiro... Para completar a cena só faltava o maroto sorriso, como tal era impossível, veio o nervoso riso.
Essas importantes conjecturas foram quebradas por um gemido, ou lamúria? Sei lá, só sei que a menina ainda continuava de cabeça baixa, não sabia que tinha sido salva por mim. De repente, eu não sabia o que fazer. Afinal o que faziam os cavaleiros com as damas após resgatá-las?
— Por favor, não me bate!
Gaguejando um pouco, bem, confesso, gaguejava deveras, eu tentava ainda continuar com meu papel de herói, papel e a pose é claro, a pose era essencial, disse-lhe que não havia o que temer que ela estava salva. Olhando-a com mais cuidado percebi que ela também trajava roupas medievais. Eu continuava a dizer, agora com mais fluidez, que eu havia espantado os malfeitores que estavam a importunar a ... bem... bela dama. Esta última frase foi dita quase como uma pergunta, tinha dúvidas se constava no texto dos cavaleiros a tal “bela dama”. Ao escutar o “bela dama” ela sorriu. Amigos, ela sorriu. Isso não é qualquer coisa não, podes crer. Ela sorriu, e naquele momento nasci de novo. Não há exagero. Era como se eu ainda não tivesse existido antes de ver aquele sorriso, aqueles lábios, aquela luz. Foi um choque, um novo parto, mas agora prazeroso, onde eu via o mundo pela primeira vez, não com saudades do útero acolhedor e temeroso ao me deparar com o novo mundo, mas ansioso para conhecer e explorar todos os mistérios infindáveis que existe no seio da vida, a vida que começara ao ver aquele anjo sorrir, saía da escuridão para repousar meus olhos no brilho daquele sorriso que dizia tudo. Não havia mistérios a decifrar, não havia frio, mas apenas calor, calor amigos, inexplicável para aquele parto. E logo ao nascer percebi que naquele momento eu era outro, um Tullius reencarnado no mesmo corpo, mas a alma era outra, descobri naquele momento que até então havia vivido nas trevas, no umbral dos pecadores, e só agora, só ao vislumbra aquele sorriso, sorri, mudei e descobri a vida, ou talvez quem sabe tinha, como minha mãe previra, descobri a minha Julieta num dia de carnaval.
By- Adriano Cabral.
“Extraído do Romance Almas Perdidas”.