sexta-feira, 1 de maio de 2009

TARDE



Madrugada, ainda não existimos, apenas sentimos que algo novo e maravilhoso está para acontecer, mas ainda a visão é nublada, não se sabe bem que está por vir, tem-se medo... Muito medo... Mas ela vem...

AURORA, e tudo começa. Não preciso lhe falar dos pássaros que flutuando sob o céu dourado, nem do astro maior que reina no infinito com seus raios multicores colorindo o amanhecer. É dispensável lembrar-se do ar puro e o fresco bafejar do dia menino engatinhando nas suas primeiras horas de vida. Para que lembrar-te que a vida brotou linda e radiante naquele momento e nascemos, inocentes, puros, livres de todo pecado, sem medo, como a ave que desafiando o espaço rasga o céu rumo ao infinito.
INFINITO, essa palavra fazia sentido, foi nosso lema, e agora eu me pergunto por que todas as auroras têm que desaparecer?
Mas na aurora navegamos no azul, nos banhamos em suas águas, repousamos nas ilhas de nuvens, depois flutuamos até a terra virgem e comemos da terra, e se tínhamos que morrer, sonhávamos perecer juntos e ser eternas flores do jardim. Enlouquecemos (ou finalmente ficamos sãos?), e em nossa loucura o mundo nos pertencia, éramos seus senhores e únicos habitantes. Nada prometíamos, não havia leis, as regras seriam ditadas pelo sábio coração, e nossa lei maior era o amor, o amor. Éramos fortes, invencíveis, únicos, seres especiais unidos por uma magia incomum que emanava de nossas almas.

Por isso eu não contava com o entardecer.

Tarde, vem chegando e não tenho, não sinto forças para impedir sua chegada.
Tarde, e o sol, fraqueja, recusa a emitir sua luz, os pássaros fogem e se calam
Tarde, e nós pouco a pouco, somos estéreo, sombra, fantasma esquecido em um pesadelo jamais lembrado.

O entardecer se aproxima, meu coração bate enlouquecido, e, de repente pára. Quando percebo que fatalmente vai entardecer.
O entardecer, tento arrancar das grades da memória a ditosa aurora, mas ás horas, absortas as minhas dores avançam, tic, tac,tic, tac, impiedosamente, lentas, levando consigo todas as manhãs.
O entardecer, e já cansado, fecho os olhos, mas eles não dormem tudo perde a cor, e tudo se vai descolorindo.

A tarde chega e estou condenado a assistir impotente e inerte este terrível espetáculo onde, dois deuses se condenaram a morrer.

A tarde chega e não há palavras, nem poesia, esperança e utopia, nem mesmo a evocação das lembranças mais bonitas nos impedirá de entardecer.

A tarde chega e nós mudos, em silencio, paralisados, simplesmente contemplamos abestalhados o oceano e insensatez tragando o astro que um dia reinou supremo.

Chegou à tarde, e ela finda, até as lembranças se perdem, nos condenamos ao exílio. Chega à noite e esquecidos, acordamos sozinhos tentando encontrar no novo amanhecer, aquele fato tão raro da vida, a...
AURORA.

Mas tenho medo que nunca mais encontrar o alvorecer.


Adriano Cabral.

2 comentários:

  1. Lindo, lagrimei ao ler... pena que nunca sente nada nem remotamente parecido por alguém, e tenho sérias dúvida se um dia alguem sentiu. Mas acho que se alguém pode viver algo assim tão profundo mesmo "anoitecendo" valeu a pena. Só não dá para entender como algo tão lindo assim pode acabar.

    ResponderExcluir
  2. Texto tocante realmente. Não sei se o texto fala de um momento seu ou apenas é exercício criativo. Se for o primeiro caso, tenho certeza que encontrarás a tua aurora. Alguém assim jamais fica só. :P

    ResponderExcluir

É sempre bom ler o que você tem a dizer! Se possível deixe a cidade de onde você esta teclando.