terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Um Amor Para Toda Vida (parte 3) - Os Sonhadores e o Despertar

      
       Toda história de amor tem um início e a minha começou com um tombo, ou melhor, com um quase tombo evitado por mim, nisso, salvei alguém de uma queda e meu mundinho perfeito definitivamente caiu. Explico, tudo aconteceu numa tarde quando estava retornando para casa de minha mãe, lá estava eu subindo as escadas quando de repente percebi que uma moça estava perdendo os sentidos, por sorte estava há dois palmos de distância, bastou um pequeno salto e consegui segurá-la nos braços. Não hesitei em levá-la para casa enquanto minha vizinha falava sem parar, sua voz só sumiu quando minha mãe apareceu e foi ela a destinatária do falatório da vizinha. Quando repousei o corpo da moça na minha antiga cama de solteiro foi que pude perceber o quanto ela era bela, aquela beleza inata que dispensa qualquer adorno ou adjetivo: Bela. Ao fixar meus olhos em sua face, inexplicavelmente tive um estremecimento seguido de uma sensação de bem-estar. De súbito esse estado de coisas foi cortado pela voz que ecoou entre lágrimas chamando pelo nome da mãe. Percebi que ela estava em choque, mas naquele instante soube quem era aquela bela moça, era a Estrelinha.
      Até aquele dia Ester era apenas a mocinha que conhecera desde que ela era uma criança e que fiz questão de manter contato através dos anos. Ela era aquele tipo de criatura que tentamos preservar por perto para lembrarmos como o mundo pode ser puro e bom. Confesso que os anos foram se devorando e ela foi desaparecendo aos poucos, sem nenhuma boa explicação até que sumiu definitivamente. Já não tinha notícias dela há quase dez anos, mas todas às vezes quando lembrava algo definitivamente bom e imaculado, lembrava da Estrelinha. Chamamos um vizinho que além de médico era bom amigo da família que lhe aplicou sedativos. Fiquei horas no silêncio daquele quarto imaginando a dor que ela deveria estar sentindo, da solidão, afinal era só ela, a mãe e avó que por àquelas horas também estava hospitalizada. Também fiquei desenhando mentalmente como teria sido a vida daquela menininha que agora se transformou nessa mulher. Uau e que mulher! Era constrangedor pensar essas coisas naquelas circunstâncias, ainda mais em se tratando de um homem bem mais velho que ela e casado. Diga-se de passagem, nem tinha certeza se ela se lembraria de mim ainda. No instante que completei o raciocínio ela acordou, parecia ainda zonza em razão dos sedativos, então pude testar sua memória chamando-a pelo antigo apelido, assim o fiz com grande pesar na face que o momento exigia. Ela desatou a chorar, aproximei-me e segurei suas mãos, as minhas lágrimas agora se misturavam com as dela, então estretei-a nos braços, foi neste instante que o mundo se despedaçou. Ao sentir o contato tão próximo do corpo dela ao meu, ao recebê-la tão entregue, tão indefesa, tão exposta em meus braços, senti algo que nenhum homem digno poderia sentir naquele momento: Desejo! Desejo dilacerante, intenso, imenso, desesperador, como se não só meu corpo, meu espírito estivesse há séculos cruzando um infinito deserto e aquela boca fosse à última fonte de vida do universo. Involuntariamente estreitei mais ainda o abraço, e ela ainda estava lá, inerte, provavelmente ainda entorpecida pela medicação e pela dor. Não pude nem quis pensar em mais nada e a beijei como um cão faminto. Em seguida ela adormeceu. Parte mim ficou aliviado, talvez ela nem se lembrasse da minha insensatez. Fiquei mortificado. Passei a noite toda a me martirizar, monstro, era a palavra mais doce que podia repetir pra mim mesmo. De manhã cedo minha mãe comunicou-me da decisão de manter Estela como hóspede nos próximos dias. Fiquei estarrecido, tal situação seria insustentável. Eu não podia mais permanecer lá, corri para o quarto que outrora fora do meu irmão mais novo e fiz as malas, tinha que imaginar uma desculpa para sair daquela maneira. Mas antes de tudo tinha que enfrentar o preço do pecado. Bate na porta, Ester permitiu meu acesso.
- Não vai de jeito nenhum!
- Nada que você disser vai me demover. Nem mesmo peço seu perdão porque nada é capaz de limpar algumas nódoas. Tenho certeza que não é de uma presença como a minha que você precisa num momento como este de sua vida. Nisto já estava abrindo a porta quando estremeci ao sentir aqueles dois bracinhos envolvendo minha cintura, voltei-me e ela beijou-me com tanta certeza que não podia acreditar no que estava acontecendo, em seguida disse-me com o sorriso mais belo do mundo: Realmente não preciso de você neste momento, precisava e preciso de você por toda minha vida. E foi aí que nos tornamos sonhadores...

E em nosso sonho em cada beijo era um verso de uma longa saga ou será épico? Em que Ester revelava-me que já me amava desde criança e seu projeto 18 (Será que eu também já não profetizava meu amor ao ocultar dela nas cartas que trocávamos informações sobre minha namorada, agora minha esposa?). E nas longas horas caminhando à noite na praia, de mãos dadas eu quem me calava encantado e com um sorriso cravado na face. Pra que falar e interromper o canto da sereia, pra que falar se a cada dez passos um beijo apaixonado e ardente se espalhava por todos os átomos de nossos corpos? Já passava dos 38 anos mas sentia-me criança nas mãos daquela mulher que despertava em mim a sede e a fome de ser livre.
       E em nosso sonho ela conseguia me desvencilhar dos grilhões da vergonha e do pejo e dar total vazão ao meu desejo. Tudo feito por amor é purificado, tudo será perdoado e nada impedirá de duas pessoas que se amam serem felizes, repetia ela sem parar. E qualquer lugar era o lugar para os amantes. Uma entrega sem limites, sem parâmetros, sem restrições, apenas acompanhados e cronometrados no ritmo ardente de nossas bocas, línguas, pernas, saliva, tendo como motor os corações. Finalmente descobri o significado da palavra prazer.

      Já fazia 13 dias que estávamos em contato contínuo, dormindo poucas horas, minha mãe completamente alheia a tudo não poderia pensar o impensável. Estávamos no morrer da tarde no parque das esculturas. O mar batia nas rochas, a lua surgia e só estávamos nós dois no mundo, era domingo, provavelmente o segundo domingo da minha vida adulta em que eu não pusera os pés na igreja, e desta vez não sentia a menor falta disso. Ela estava deitada no meu colo, amparada pelos meus braços.
-Eu também te amo!
-Porque você fala tanto isso hein Estrelinha, só pra eu dizer também?
-Não precisa!
-Não?
-Claro que não, você me disse há 17 anos que seu horóscopo havia te dito que eu era o amor da sua vida, esqueceu seu bobão?
- Ah, só isso?
- Não. E dito isto, ela começou a intercalar as frases com beijos, ora curtos, ora mais longos conforme o tom delas. Eu sei que você me ama, pelo jeito que me olha, olha não me persegue, me queima, me marca, me prende com o olhar, sei que você me ama quando sinto seu toque em completo compasso e bailando no meu e o seu se misturam, sei que você me ama porque se esse amor todo que sinto fosse só meu, não existiria amor no mundo. E quando eu estava prestes a confirmar, veio um beijo dominante, e nos amamos ali mesmo sob o teto de estrelas.
Estava tudo decidido, não havia condições nenhuma de continuar casado com Brenda. Parte de mim ainda me dizia que a amava, mas quase o todo de mim falava e gritava que era Ester a única mulher da minha vida. Se Deus escreve torto, há de escrever por linhas tortas, logo Ele está sempre certo. Ester nem precisou pedir, eu resolvi definir logo minha vida prometi pra ela fazê-lo antes da chegada da minha até então esposa. Resolvi fazer por telefone.
- Oi Davi, tenho novidades!
- Eu também, gostaria que você fosse forte!
-Espera, a minha é mais importante...Voce já sabe né?
- Mas... Fui interrompido.
-Você será papai!
-Como?
- Você será papai.
Neste exato instante a Estrelinha entrou no quarto ansiosa para saber o resultado daquela história...

Saiba o final clicando aqui
By- Adriano Cabral

7 comentários:

  1. aff complicou!
    : (

    Sofrendo por estrelinha antes mesmo dela saber a notícia da gravidez de Brenda.
    Tava tão bonita a história de amor deles! Não acredito que tudo conspira para que não fiquem juntos.

    Aff novamente!

    Como será o fim? A curiosidade tomou conta de mim,rs

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  2. Ahh... já ia esquecendo

    Sua escrita é fantástica!

    Parabéns!

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  3. Hum... Intenso!(2)
    Pela descrição dos fatos na história acredito que se terminasse por aqui, mesmo que não ficassem juntos, teriam vividos momentos intensos e inesquecíveis, mas não seria um final feliz.
    Estou ainda mais curiosa... torcendo pela felicidade dos dois. Tô gostando da novelinha. :)

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  4. A cada parte que vou lendo, mas presa ao enredo dessa novela vou ficando. Essa gravidez inesperada foi um banho de água fria rsrs.
    Estou aguardando o final dessa estória.

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  5. Fantástico! Acho não existe palavra mais certa pra falar de você Adriano. É impressionante como você consegue ser romântico sem ser piegas e ainda criar situações e climas belíssimos e tocantes. Porque você nao tem um livro publicado hein?

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  6. Honestamente, você escreve muitíssimo bem e estou morrendo de inveja! Hehehe. As suas idéias são incríveis... Eu acompanho tb seus pensamentos pela comunidade "Clube das Namoradas Perfeitas" e acho o que você pensa GENIAL. Parabéns! Você faz (fez) faculdade? De quê?

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