Bonita demais esta nem quero chegar perto, olha só, loira, linda e é claro, deve ser muito burra... Todas são burras, não pode haver exceção a esta regra imutável da natureza. Olha o sorriso! Que Sorriso plácido, aberto, puro, burra, só pode ser burra e ingênua, ou seja, ela é má, pois todas as pessoas burras tendem a magoar os outros e nunca se tocam. Não será fácil trabalhar com ela...
Sério demais, que cara fechada, Deus! Deve se achar o “grande pensador” com aquele par de óculos. Que olhar! Será que ele é de pedra? Que cara emburrado, esses caras metidos a inteligentes são todos iguais se acham dono do mundo e da verdade, olha como ele fala! Olha como ele fala! Que autoridade, ele que não venha para perto de mim. Será que eu deveria me ajoelhar e adorá-lo para poder alcançar uma parte de sua iluminação? Não será fácil trabalhar com ele...
O PRIMEIRO CONTATO... E OS QUE VIERAM
Que droga! Seja mais organizado, não toque em nada meu, Seu... Seu... O que? Tá pensando que fala com alguma idiota que teve a triste sina de ser tua namorada? Comigo não meu filho, me respeite! Repito, não toque em nada meu, nem uma caneta, nem uma caneta, seu estúpido!
Olha, deixa de ser imbecil e me passa isso agora! Tu não és dona de nada aqui és empregada como eu. Isso aqui não é concurso de beleza querida, você ainda não se tocou? Eu acho que esta tintura no seu cabelo que faz seus pensamentos chegue de forma “retardada” no seu cérebro. Ah! Finalmente um momento que ao te olhar sinto uma grande satisfação... Sim que lindo olhar de fúria...
O QUE O CHEFE DISSE
Ou vocês põem de lado as diferenças, ou ambos vão para o olho da rua, agora só quero ver vocês aos beijos e abraços, ouviram?
E O RESULTADO
O casal se entreolhou descrente da trégua e já pensando na futura despedida quando...
A SEGUNDA VISTA?
A princípio Júlia e André, isso mesmo, são o nome do dileto casal, simplesmente, mesmo trabalhando lado a lado o dia todo, não mais se falavam, nem mesmo quando precisavam...
Os dias se devoravam, e já se podia ouvir um cumprimento, quase que formal de ambos, uma pergunta burocrática, um amistoso empréstimo de material de trabalho...
ATÉ QUE UM DIA FINALMENTE HOUVE A SEGUNDA VISTA
E certo dia houve greve de transporte, o banco estava quase vazio, no setor onde Júlia e André trabalhavam só compareceram os dois e eles passaram o dia inteiro sozinhos, dir-se-ia que as armas foram embainhadas, e ambos despiram-se das armaduras...
Ele realmente é inteligente, hábil com as palavras, demonstra uma sensibilidade fora do comum, tão forte e vulnerável, tão sério e ao mesmo tempo hilário. Seu olhar é tão doce, e, mesmo quando as palavras são proferidas com decisão e força, sua voz está sempre macia, calma, plácida, envolvente... Que olhar...
Ela realmente é uma exceção, uma inteligência nata, e vejo em seus olhos o que antes achava ingenuidade, na verdade é a virtude que está incrustada nela como uma marca indelével, proclamando a todos quão virtuosa é esta mulher em sua vida, quão suave é sua voz, meiga, terna, bela, parecia que todas as belezas se uniformizara numa só pessoa....
DAS INDIRETAS QUE NEM SEMPRE O CORAÇÃO DOMINA A RAZÃO
Ontem aconteceu uma coisa absurda André, uma loucura, doidice mesmo. Sonhei que era tua noiva, vê se pode, tem lógica? Não, de forma alguma, não quero dizer que eu não ia quere, mas você sabe NE? Não tem nada a ver. Se o sonho foi bom? Foi horrível! Não, não é isso que você tá pensando é que havia alguma coisa que impedia a gente de ser feliz. É feliz, acabei acordando triste.
E por falar em doidice, sabe, eu sempre quis ser pai, quero muito mesmo, desde que me dou por gente, que penso num filho, é, filho, pode rir. E, sei lá! Acredito que você daria uma ótima mãe. Vê se não fica convencida depois tá, para com essa cara! Para com essa carinha de convencida safada agora. Tira esse sorriso do rosto...
E HÁ SEMPRE UM POETA
E, este poeminha eu fiz em homenagem ao aniversário de nossa querida colega de trabalho, Júlia Ferraz:
Há vários tipos de belezas
Aquelas que nos dominam com um olhar
Nos leva aos portais do inferno, seduzem, endoidecem
E maculam os mais nobres corações
Há aquelas que desafiam o poder do tempo
E mesmo com o passar dos anos,
Não se curvam, mas se erguem em toda sua majestade.
Há aquelas que nos trazem a paz
Transmitem-nos candura,
E nos leva a devoção
Mas há uma, superior a todas,
Não pode ser vista apenas sentida
Poucos a têm e menos ainda possuem a ventura e a perspicácia de encontrá-la.
Com seu simples toque, qual Midas, ela engrandece e torna belo tudo que toca,
Emana da alma, impregna o ar, seduz, acalenta e dá guarida,
Somos bem aventurados, pois esta beleza superior que vos falo
Encontrei em ti (minha?) não, nossa Júlia.
E eis que quaisquer portas e trancas que havia em um dos corações foram destruídas de bom grado, e agora, era só esperar para o final feliz?
MAS A PEDRA, SEMPRE HÁ A PEDRA MEU AMIGO
Júlia estava como casamento marcado, já namorara há cinco anos, já haviam comprado casa e móveis e há muito exibia a aliança de noivado.
André namorava firme há sete anos e praticamente crescera com sua então namorada.
Crises, dúvidas, conflitos, medos, desejos.
E ENQUANTO ISSO?
Olhares ternos, sorrisos largos, toques afáveis com as mãos, camaradagem, carinhos fraternos, almoços longos, e haja poesia...
Horas no telefone, confidências mútuas, e algumas lágrimas no caminho, coração aflito, falta de ar, e o suspiro ao verem um ao outro entrar. Telepatia? Claro que havia, ou algo mais que isso, eles não apenas sentiam um ao outro, se iluminavam ante ao outro cada um era sol e astro iluminado. Eles não queriam mais estar juntos, estavam condenados a isso.
E quem dirá nos corredores se foram amantes? E quem não dirá por aí que havia algo especial... E quem não poderá supor que um simples toques de mãos havia mais energia que uma bomba nuclear.
Mas, ele a respeitava muito, não tinha nada a oferecer, tão jovem e não queria vê-la sofrer...
Mas, ela esperava por ele, pois sem sua força decisiva sabia que tinha muito a perder... Sem a sua força ficaria totalmente desprotegida... E lá estava o casal diante de outro, apenas mais um passo, apenas uma porta que naquele momento estava aberta separava-os, só um passo... Antes que a porta fechasse.
TEVE BEIJO?
Ela pedira demissão, há algumas semanas não se viam, ela olhava-o profundamente, esperando...
Ele nunca a vira tão linda, a sentia na palma da mão, a dela, tremia junto a sua, fitando-se como dois desesperados. As cabeças cada vez mais se aproximando. Ele pergunta se pode beijá-la, ela responde que sim, e do jeito que lhe convier.
Os olhos caminham um para o outro, o tempo pára, os ponteiros do relógio simplesmente congelam, e não há mais nenhum ser humano na terra exceto André e Júlia. E aqueles segundos parecem uma eternidade. Cada vez mais perto, em algum lugar alguém festeja antecipadamente a libertação do amor, em algum lugar uma menina chora de emoção, e os lábios quase se tocam quando...
Ele desvia a boca e a beija, ternamente na testa.
Em algum lugar há um grito e a porta se fecha abruptamente. Só restam dois só chorando baixinho, porque até para se chorar nesses instantes, tem-se que sofrer calado.
E NO FINAL DAS CONTAS?
Ela se casou com o tal noivo tiveram um lindo filho, mas ela pediu divórcio um ano após o casamento. Dizem as más línguas que o maridão triturou os poemas escritos pelo ex- colega de trabalho... Ah! Nome do filho? André.
Ele viveu sua vida só mesmo, acabou mudando radicalmente seus valores e sua forma de pensar, dizia não acreditar em amor eterno e coisas do tipo, mas toda vez que à noite estava sozinho no seu quarto pensava na Júlia...
Tinha vontade de chorar. Às vezes um beijo mal dado é uma maldição anunciada, que só passa, após a campa.
A ÚLTIMA VISTA
E um dia lá no futuro distante, talvez eles se encontraram e já velhinhos, deram-se as mãos, caminharam pelo jardim da vida até o pomar dos esquecidos.
Adriano Cabral. 19/12/2000
Contos, poemas, artigos jornalísticos, notícias, opinião, tudo que possa nos levar a pensar e quem sabe, emocionar..
domingo, 24 de janeiro de 2010
domingo, 17 de janeiro de 2010
A IMAGEM E O POETA
Era noite de festa? Não exatamente, mas havia movimento, sons, silêncios
Aplausos e uma multidão cercavam dois seres que lá estavam...
Perdidos.
Era noite de espetáculo? Era sim senhor, contudo diante da visão dos dois perdidos houve buchichos, cochichos e sorrisinhos jocosos. Era inveja? Não sei meu senhor! Mas quem poderia impedir os dois a não ser o velho medo que sempre os acompanhou.
Havia dúvida, confusão? É claro que sim minha senhora, já te disse eram dois perdidos numa noite que, assim como acontecia nos últimos dias, um no outro se encontrou, mas podem perder-se para sempre, pois um deles não sabe que a dúvida não deve afastar, pois sempre será irmã da certeza.
Eram dois perdidos? Esta claro eram, mas tinham um encontro marcado uma era imagem o outro poeta!
O poeta queria uma imagem para criar seu novo poema
A imagem precisava ser efetivamente sentida, pois até então era apenas vista.
O poeta estava em pedaços, seu talento alquebrado ...
A imagem estava fragmentada e a face destroçada.
O poeta encontrou a imagem
A imagem fixou no poeta
E ao menos naqueles instantes,
Eles não estavam mais sós.
Até quando?
Não se sabe, talvez, até o pano fechar
Não houver imagens
Nem poesias
E fim do espetáculo.
By Adriano Cabral... For You
sábado, 9 de janeiro de 2010
Preciso Dizer Que Te Amo
Ela segurava o livro nas mãos como se lhe fosse um escudo.
- De hoje não passa... - repetia para si mesma enquanto o livro balançava sem parar - Dane-se!
Ela estava observando a capa, passava para o nome da autora e então, revigorava-se. Sim, ela a ajudaria, lhe daria forças quando as mesmas lhe faltassem. Belo Horizonte estava muito fria naquela manhã, no entanto, as mãos ardiam tal como o sangue fervendo em suas veias. Parecia que dentro dela havia ao mesmo tempo uma tempestade de fogo e água. Um fogo que secava seus lábios e rachava sua pele e uma água que inundava os seus olhos e se esvaia em suor.
Fazia tempo que seu coração não batia como agora, forte; pulsava por algo a mais, por mais sangue em suas veias. Ela era bela e inteligente, mas vivia cada vez mais isolada com sua única companhia real durante todo esse tempo – o livro de contos. Neles ela conseguia sobreviver. Se no seu mundo não havia espaço para a explosão de sentimentos que ela era coagida a oprimir em seu peito, através daqueles textos ela encontrara outra menina, igual a ela, oprimida, tendo que matar-se a cada dia para representar aquilo que todos esperavam dela. No fim do livro revela-se a própria autora, que conseguiu superar todos os obstáculos impostos para sua felicidade. Logicamente, a Jovem encontrou na autora do livro não apenas sua companheira de desventuras, não só o modelo de superação, mas também a sua heroína.
Ele; segurava seu livro nas mãos como se fosse uma espada. Estava prestes a atacar, com o coração saindo pela boca. Não era ligado à leitura, mas esse livro lhe chamara a atenção, talvez pela história próxima à sua, mas em versão feminina. Estava chegando ao colégio ainda vazio, pois era cedo demais.
Ela estava de pé, tremendo na ponta do corredor, de costas para a entrada. Tinha certeza que não haveria outro caminho para as salas de aula e por isso ali estava. No instante seguinte à formulação de tais pensamentos sentiu o perfume que entrava em sua pele, aguçando até seus mais desconhecidos sentidos. Parou de tremer, todo seu corpo ficou teso, estático, inerte. Parecia até que sua respiração sumira juntamente com sua capacidade de mover-se.
Mas Ele movia-se lentamente, corpo sinuoso, andar enleante, levando consigo tudo que poderíamos nomear como vida. A Jovem de tão estática, parecia pertencer à parede que estava encostada, contudo houve um terremoto, um estremecimento tão forte que a fez deixar cair o livro no chão. Tudo isso porque Ele por um instante lançou-lhe um olhar e um sorriso, mas seguiu seu caminho. Ela esqueceu o livro, mas não a inspiração que veio dele e praticamente correu em direção Dele que já estava entrando na sala de aula para o Seu desespero.
Ele simplesmente passara distraído pelo corredor, mas ao final, notara a presença que lhe chamava atenção. Não pôde conter o sorriso e o olhar, mas lhe pareceram espontâneos. Entrou em transe por alguns segundos, até finalmente acordar e vê-la vindo em sua direção. O susto que tomou foi tão grande quanto o ímpeto de adentrar à sala.
Ela não sabe até hoje se foi o acaso, se Ele ainda tinha alguma coisa a fazer antes de entrar em aula, ou se o olhar de ânsia da Jovem que O fez estacar e voltar-se quase que assustado para Ela, que vinha a passos firmes em sua direção; mas o fato é que o olhar atemorizado Dele fez com que os passos da Jovem se tornassem menos decididos, fracos, até que pararam a dois metros de distância Dele.
Agora o pânico estava expresso em todas as janelas as quais eram possíveis ver duas almas que definitivamente estavam ligadas de forma indelével. Contudo, nada se movia, a Jovem sentia que sua pele, ossos, veias iriam explodir naquele instante e tudo que ela É abraçaria e devoraria em beijos e carícias a boca, a pele, Ele. Mas ao contrário dos desejos jamais falados, Ele analisou profundamente a Jovem, com Suas cintilantes luzes verdes e expressou apenas um ar de dúvida, de indecisão. Voltou-se, e entrou na sala, sem dizer palavra, sem fazer gesto. Não é preciso dizer que a Jovem se fez água e esvaiu-se. Nada mais fez, foi pra casa. Passou dois dias na cama.
Naquele dia, poucos segundos depois, Ele ainda estava rente à porta que acabara de adentrar para fugir de si mesmo, não Dela, quando voltara para o corredor procurando-a novamente. Em vão. Nada viu além do livro que Ele sabia, Ela carregava todos os dias. Pegara no chão, mas seus olhos não queriam acreditar no que via. Estava atônito novamente.
No primeiro dia de retorno as aulas, a Jovem estava caminhando como um zumbi, seus olhos agora eram cinza. Foi quando sentiu uma mão tocar-lhe suavemente as costas e uma corrente de mil volts a percorrer seu corpo, era Ele. Não queria voltar-se, no entanto, a mão puxou-a suavemente em sua direção.
- É seu?
- Sim
- Sei que não acreditaria se dissesse, mas por um momento pensei que esse fosse o meu livro, até que vi que não fui eu que o perdi. Notei sua letra e aqui estou eu para te entregar.
Dito isto, estendeu os braços oferecendo o tomo, quando a Jovem fez o mesmo gesto. A partir daí, não há como saber quem começou, só se sabe que o livro foi prensado por dois corpos e duas bocas que intensamente se envolveram num sofrido, lascivo, e apaixonado beijo. Descobria-se então que era aquela a resposta para todas perguntas que não lhes foram feitas, enquanto o livro mais uma vez caía no chão sujando-se de lama, mas ainda era possível ler o nome da autora: Lívia Prado.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
A SUICIDA
-Não pelo amor de Deus, pára! Por favor, não agüento mais!
-Eu te avisei, te avisei você não devia ter feito isso com a gente! Eu pedi tanto para você pensar um pouco mais, ter mais paciência, analisar o todo...
-Páraaa! Não dá mais, não vai dá, por favor, não agüento mais ouvir isso.
-Você não agüenta porque dói, se dói, é porque você ainda ama!
- Não, aquilo não era amor, aquilo era um vício, uma doença, um câncer, aquilo não tava me fazendo bem. Aquilo não era amor, era dominação, eu não conseguia fazer mais nada na minha vida, não conseguia ter paz...
-E agora você consegue? Aquela pergunta feita num tom completamente inquisitivo parecia cortar a língua de sua interlocutora. Aproveitando o silêncio arrancado pela força da indagação, resolveu continuar. Você agora vai às festas, você procura a companhia de todos os amigos, conhecidos, até de ex namorados para se distrair, você viaja, volta, mas quando estes "antidepressivos" não fazem mais efeito e você está só, trancada no seu quarto, você consegue ter paz? O desespero foi crescendo em Alice, ela gritava.
- Okey! E daí, vai passar, vai passar, Tudo passa cara! Tudo passa! O tempo é o remédio, já estou em outra, já vi que tem gente legal por aí! O mundo não se resume ao que vivemos, sou muito nova, jovem, ta cheio, ta cheio de homem por aí, muito, e cada vez sou mais desejada... Ta? Cada vez. Eu já conheci lugares muito bacanas, já conheci pessoas muito legais, mundos que eu jamais conheceria se estivesse ainda vivendo aquela doença chamada amor.
- Você ouviu o que falei? E quando esses "analgésicos" não fazem mais efeito de quem você sente falta? Você sempre soube que tem "muita gente bacana", mas você sabe, melhor, você sente que no final das contas a única coisa realmente que importa é que nenhuma "dessas" pessoas bacanas é aquela pessoa com quem você viveu tudo aquilo e você definitivamente ama.
-Pára, eu tava bem, eu tava bem, até você vir e começar de novo a me encher! Pára porra! Eu não agüento mais te ouvir, você sempre aparece, sempre, eu tantas vezes achava que estava livre de ti, passava meses e você ao menos tinha um pingo de dignidade e ficava calada, achei que estivesse definitivamente tudo enterrado. Mas não! Você não tem vergonha na cara, não tem auto-estima, não se dá valor, você sempre insiste, insiste, insiste, se humilha, tenha vergonha cara! Não existe mais amor, acho que nunca existiu. Eu sofri demais já, levei muita porrada, fui passada pra trás tantas vezes, sempre me sentindo insegura, sempre vendo as outras abrindo espaço sobre mim, sempre ficando bem claro que de repente eu podia perder tudo. Aliás, eu já tive alguma coisa? Eu nunca fui amada, nunca.
-Olha, você pode até dizer que está bem, mas vai continuar mentindo dizendo que nunca foste amada? Tudo bem houve erros, muitos por sinal, mas qual relação longa que não está contaminada por tais falhas e tantas lágrimas? Qual? Salvo algum conto de fadas toda relação longa tem suas dores para carregar. Agora te pergunto: quantas relações longas há tantas histórias para serem contadas, há tanta paixão, há essa singular, louca e maravilhosa história de amor. Essa relação não foi apenas uma história de amor, foi um romance cinematográfico vivido. E sinto muito, meu orgulho e dignidade vale bem menos do o destino de toda minha vida.
-Eu nunca fui amada cara! Nunca, só quando era tarde demais...
-Talvez não houvesse as palavras, mas as ações eram de alguém que ama. Amor não é só sentimento, ele se concretiza nas atitudes, e convenhamos, em todos esses anos, tirando aquele desvario da "falta de compromisso" nunca ninguém foi tão dedicado. Lembre-se também da condição dele, do quanto ele tinha que abrir mão e do que ele efetivamente fez depois tudo para não te perder... Quem um dia fará isso de novo só para te ter nos braços?
- Mas foi tarde demais, foi tarde demais...
-Tarde demais por quê? Por que você não amava mais...?
-Foi tarde demais...
-Foi tarde demais porque ele errou, às coisas ruins que ele fez já datavam de tanto tempo. Foi ele quem causou o fim?
-Tarde demais, eu errei muito...
-Mas ele te ama...
-Tarde demais, no meu desespero eu menti, traí, maltratei, caluniei, eu fui muito patifa... E até hoje nem pedi desculpas de verdade...
- Mas ele vai te perdoar se você ligar... Se você fizer tudo diferente.
-Tarde demais, meus pais, meus amigos, todos me apóiam sabe, todos acham que era o certo a fazer... E cá pra nós, ele já sofreu demais. Ele está livre, eu estou livre.
-Ele ainda sofre, e muito mais por que tudo que ele fez, tudo pelo que lutamos, virou quase nada... Ele te ama... Ninguém vai viver a vida por você.
-Pára, eu não agüento mais, deve ta agora rodeada de mulheres lindas e do jeito que ele queria! Ele pode ter qualquer uma...
- Mas você sabe que ele quer apenas você, é você quem ele ama!
-A mulher que ele conheceu não existe mas... Talvez, como ele mesmo disse, nunca tenha existido...
- Ela existe, e você sabe como você adorava ser ela, como se sentia melhor, mais viva, mais livre. Não existe liberdade maior do que poder entregar-se completamente a outra pessoa, e só com ele você foi assim...
- Me abraça! Me dá forças, ninguém, absolutamente ninguém me dá forças, todos me ajudam a caminhar na direção contrária, todos me falam para seguir adiante.
-Você tentou... Adiantou mesmo?
-Não, me abraça. Disse Alice em tom de apelo. E ambas se abraçaram.
Pouco depois se ouviu um estampido seco, depois outro e outro. Foram três projéteis lançados pela arma de Alice na cabeça de sua interlocutora. Depois desta caída, Alice ainda descarregou a arma, como se para ter certeza que sua vítima havia morrido.
Segundos antes Alice havia enxugado as lágrimas, pegara o telefone e discara o número. Enquanto a ligação não se completava ela imaginava o que sua família ia dizer, o que seus amigos falariam, como o seu agora, apaixonado namorado reagiria e, sobretudo, que palavras duras e cortantes poderiam ouvir dele. A ligação se completou.
-Alô. Silêncio. Linha desligada.
Não lhe restou alternativa senão, de novo, sacar da arma e matá-la a sangue frio. Mais uma vez estava só em seu quarto.
by Adriano Cabral 06/01/2010 8:46 A.M
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
A LISTA DE NARNIA
Há histórias e estórias, e esta que vou contar é uma história com H maiúsculo. Não obstante já ter se passado tantos anos, lembro-me quase como se fosse hoje essas minhas aventuras e resolvi compartilhar com quem por ela se interessar.
Tinha seis anos, filho único, meus pais eram professores e minha casa, apertada naturalmente, diminuía mais ainda num mar de livros, folhas, cadernos e provas. A coisa mais comum do mundo era vê-los lendo, seja um livro ou no computador. Nas minhas primeiras recordações como membro da raça humana era da minha mãe, deitada na cama comigo, lendo-me histórias. Portanto não é surpreendente que aos seis anos de idade tivesse mais de cem livros lidos e relidos. Meu pai era um gigante de um metro de noventa, olhar sério, voz grave e poderosa, no entanto com espírito tão jovial e infantil que às vezes sentia-o mais como um irmão mais velho, ou ás vezes, mais novo. Não é por acaso que no dia dos pais disse-me em "segredo" que eu deveria pedir a minha mãe que lhe desse o jogo das Crônicas de Narnia. Ao invés do jogo veio um "monstruoso" livro de mais de 750 páginas, a coleção completa da série que dera origem ao jogo. Tanto minha mãe quanto meu pai tentou em vão despertar meu interesse pelo "monstro". Mas era difícil, afinal, como se pode ler um livro que além de infinito não possue gravuras? Por mais que ficasse curioso com o destino da mãe de Digory (Personagem principal do primeiro livro da Série: O Sobrinho do Mago) aquela profusão de letras sem os atrativos desenhos não prendiam minha atenção.
Até que um dia, de repente, meu pai informou-me em tom solene que descobriu na internet um concurso mundial chamado "A Lista de Narnia". O link ainda no ar aqui: http://leitores.narnia.zip.net/. Os dizeres estavam claros: Quem vencesse o concurso ganharia o melhor brinquedo que os pais podiam comprar e o último lugar seria banido para viver em Narnia para sempre. Ao ler aquilo me dominou tanto à aflição quanto à tentação de participar de tal aventura. Meu pai já havia decidido por mim, disse-me que me inscrevera no concurso, assim como ele mesmo inscreveu a si e minha mãe. Diante da fatalidade fui correndo pegar o grande tomo. Desde então não o largava, não raro levava-o para escola, jogo de futebol, natação, e é óbvio, dormia com ele; Às vezes lá se iam mais de 40 páginas no mesmo dia. Como se tratava de um concurso e o prêmio, qualquer um de vocês reconheceria, era sobejamente atraente, quando não podia levar à escola escondia o livro (As professoras já estavam preocupadas, porque uma criança tão jovem lia tão sofregamente um livro tão volumoso). Afinal, meu pai e minha mãe eram ferrenhos e perigosos competidores.
Enquanto Caspian singrava os mares místicos com Lúcia e Edmundo (Protagonistas do Peregrino da Alvorada) eu digladiava com meus pais para terminar o mais rapidamente o livro. Todos os dias a lista de Narnia era atualizada. Os meses seguiam e eu não conseguia nem chega perto do topo da lista. Fiquei quase sem dormir algumas noites, pois, minha mãe que era excessivamente ocupada, não lia com freqüência, e como eu mal largava o tomo, diante disso ela ficou por várias semanas em último lugar. Imaginem só o terror que me tomava só de pensar que ela poderia ser banida para Narnia eternamente? Mesmo diante de um grande conflito, por vezes, abria mão de minha leitura e entregava o livro para minha mãe.
Os meses se passavam, as páginas também avançavam, cheguei a figurar entre os dez melhores leitores, no entanto, nada de chegar ao topo. Muita vez pensei em abandonar a guerra, fatigado de perder tantas batalhas. Nesses momentos meu pai mostrava-me os comentários dos competidores zombando de minha tibieza, ou se orgulhando excessivamente por estarem no topo da lista, ás vezes até escarnecendo da minha capacidade de leitura. Tais provocações renovavam em mim a força para luta. Eustáquio e Poly lidavam com os problemas do caldeirão de prata e eu caminhava para última batalha. Sempre me perguntava como as pessoas do site sabiam em que ponto cada competidor estava na leitura...
E foi nessa dinâmica que passados sete meses consegui concluir o livro. Fui o primeiro da família. Corri para o Site, mas não havia nenhum resultado. Na listagem mais recente estava em quarto. Minha mãe intimou-me a ter mais fé em "Aslam"(Representa a figura de Deus em todos os livros da série). No dia seguinte acordei com os gritos dos meus pais conclamando-me a ver o resultado final da competição e para minha tristeza, fui segundo lugar. Estranhamente eles me parabenizaram como se campeão fosse, eu sorria amarguradamente, não entendia muito bem o porquê de tanta festa para um derrotado. Foi aí que eles disseram que mesmo em segundo lugar eu teria o prêmio do primeiro, ou seja: Qualquer brinquedo que os pais pudessem comprar. E logo relembrei desses meses de aventura, suspense, drama, comédia, e tanta diversão que os sete livros narnianos me proporcionaram, não podia pedir outra coisa, para felicidade do meu Pai recebi como prêmio o jogo das Crônicas de Narnia.
Anos depois foi que percebi que muito antes de chegar à última página já havia recebido o maior prêmio que uma criança poderia ter: Meus pais. Só mesmo pais como eles poderiam ter tanto espírito, tanta paixão e tanto amor para criar na minha infância uma memória ao mesmo tempo tão instrutiva, divertida e é claro, mágica.
E se não é mais possível estarmos todos juntos nesse mundo, após a última batalha, com certeza, estaremos unidos no céu de Narnia.
By- Adriano Cabral.
Assinar:
Postagens (Atom)