Numa mesa de bar há sete amigos, o garçon pergunta o que vão beber. Aline, gaúcha, se recusa a pedir, em noites frias assim só mesmo um chimarrão para aquecer. Esther responde numa fala mansa que para esquentar mesmo, nada como um bom tacacá servido em uma cuia de côco no meio da rua à moda de Manaus. O baiano Carlinhos lembra que em sua terra acarajé feito na hora aquece até o pólo norte, mas como era pra pedir bebida que venha uma cachacinha. O Hammedet emendou dizendo com a sotaque muito enrrolada que também iria embarcar na arak, o garçom fez careta, Anala sorriu com toda sua mineirice e traduziu: É cachaça em àrabe uai! Logo emendando que só queria um refrigerante. Felipe riu da graça da mineira e falou que o desejo dele mesmo era comer umas patinhas de caranguejo, mas como naquela cidade nunca tinham frescas como em qualquer birosca do Recife, pediria refrigerante para não ficar mais bêbado, afinal a fumaça da cidade já o deixava ébrio suficientemente. Nisso uma mulher de voz suave, doce deu um tapa no ombro do recifense: Droga você só sabe reclamar! Disse a mulher puxando a letra r, com seus nariz aquilino denunciando ascedência italiana. Em qual lugar do Brasil seria possível, sobretudo comum que numa mesma mesa estivesse pessoas de tantas regiões diferentes? Não há como pensar noutro lugar a não ser São Paulo. E a última mulher deste típico grupo, óbviamente só poderia ser uma paulista.
São Paulo é isso, antes de tudo uma terra forjada de lágrimas, solidão e luta.
São Paulo terra onde todas as etnias, nacionalidades, religiões e tribos se reunem, por isso mesmo é o lugar do grande desencontro ou da união de lágrimas. Por que antes do grande encontro irmãos, país, filhos, namoradas e esposas são deixadas e até abandonadas. Até meados do séc. XVI nem cidade era considerada, mas foi alimentada por milhares de migrantes e imigrantes que deixaram suas terras para forjar esse monstro com seus gigantes de aço que até hoje olhados do ângulo certo, podem ser visto vertendo suas lágrimas de saudade.
São Paulo terra das multidões, de milhões de pessoas que se espremem nos metrôs, são excretadas dos ônibus ou simplesmente paralisadas no meio da fumaça e carros velozes congelados no engarramento nosso de cada dia. São Paulo superpovoada de povo solitário. Não se sabe se a solidão dela vem do medo natural da violência de grande cidade, do individualismo necessário para alcançar o infinito sucesso profissional, ou da carga genética que lembra de que um dia muitos tiveram que deixar seus entes queridos e boa parte lamentaram bastante isso, logo, melhor mesmo é ficar só e lutar pelo ouro a viver criando laços só para perder mais alguém. Terra de solidão.
Mas mesmo sozinho, e talvez por isso mesmo todos os paulistas e paulistanos do país que vivem nessa cidade não param, trabalham, crescem, aprendem, enriquecem, empobrecem, criam, destroem, caem e se erguem, porque sobretudo é uma cidade guerreira e determinada, é a esparta da indústria e do trabalho.
Era em São Paulo que deveria ter nascido se não fosse um ladrão que roubasse o necessário para viagem dos meus pais . É de São Paulo que sai o segundo maior contigente de leitores deste blog, são mais de dois mil nestes um ano e oito meses de atividade. Essa cidade realmente não pára, ela possue e tem fome de tudo, mas ela ao mesmo tempo dá em abundância, sobretudo sua multicultura, por isso mesmo tem fome de leitura.
Nesta cidade também encontrei amores, e que amores...
Me perdoem alguns Paulistanos se não gostaram do que leram, esse texto foi algo que teve que sair de dentro de mim para homenagear esta cidade que tão bem acolheu meu blog e me proporcionou tantas experiência tristes e dolorosas mas também com a mesma ou maior intensidade momentos encantadores e maravilhosos. Mas acredito que um povo que elegeu a música Sampa de um baiano que mais critica que exalta a cidade como seu hino, não vai ficar amuado com o que aqui foi dito. Afinal Sampa serias o avesso, do avesso do avesso. rs
By- Adriano Cabral
São Paulo foi falada num grupo de amigos agora à tarde. Ela é pólo centralizador de tudo quanto é Brasil: universidades, hospitais, mídia... Tudo bem que a gente falava dos motivos de ela ser assim, colocando viés político-histórico, rs, mas deve ser mesmo legal estar num lugar tão diverso. Mas já acho Fortaleza tão grande, tão cheia de solidão pelas esquinas... São Paulo e seu gigantismo - em todos os quesitos - devem ser meio intimidadores.
ResponderExcluirInegável! Sampa é a cidade do caos, mas eu como uma boa recifense vou comparar agora RECIFE E SP =)
ResponderExcluirO q me preocupa é que Recife me parece um pequeno projeto de São Paulo. Já estamos sentindo na pele a emoção dos engarrafamentos, sim muito mais q antes, não se pode negar. Antes sabíamos +ou- o horário dos engarramentos e onde eles aconteciam, agora somos pegos de surpresa pois quase em todo lugar nos encontramos presos num amontoado de carros barulhentos, surtados sedentos para chegar nos seus destinos.
São Paulo é uma terra da solidão hein? aqui nao? pessoas solitárias,deprimidas e suicidas têm em todo lugar.Recife é grande, não tanto como SP, longe disso, afinal esta última é a maior metrópole do Brasil. Mas Recife, é uma cidade grande, é caótica, é engarrafada, é violenta, é SUJA, é miserável, é recheada de pessoas solitárias e etc. Verdade q no q se refere a violencia houve melhoras e tudo mais, mas continua claro.
Sem mais delongas, aqui deixo algumas palavras sábias do nosso eterno recifense Chico science, o poeta do som do mangue beat.Nem SP nem Recife. Recife já está caótica e já não vejo GRANDES diferenças entre a Manguetown e a Paulicéia Desvairada. Então, não vejo grandes vantagens ficar vendo quem é melhor ou pior de um sujo e de um mal lavado hehe.
Manguetown
Tô enfiado na lama
É um bairro sujo
Onde os urubus têm casas
E eu não tenho asas
Mas estou aqui em minha casa
Onde os urubus têm asas
Eu vou pintando, segurando as paredes
No mangue do meu quintal e manguetown
Andando por entre os becos
Andando em coletivos
Ninguém foge ao cheiro sujo
Da lama da manguetown (2x)
Esta noite sairei, vou beber com meus amigos... ha!
E com as asas que os urubus me deram ao dia
Eu voarei por toda a periferia
Vou sonhando com a mulher
Que talvez eu possa encontrar
E ela também vai andar na lama do meu quintal é
Manguetown
Andando por entre os becos
Andando em coletivos
Ninguém foge ao cheiro sujo
Da lama da manguetown (4x)
Fui no mangue catar lixo
Pegar caranguejo
Conversar com urubu
E mais...
Num dia de sol, recife acordou com a mesma fedentina do dia anterior.(Science)
Suelen =)
São Paulo pode ser tudo isso como vc comentou.. suja, caotica, volenta , cara... mas ela é pra mim o mesmo que é pra vc , lar.. mesmo longe dela ainda considero São Paulo meu lar..
ResponderExcluirE de tempos em tempos preciso ir até lá pra respirar um pouquinho de CO2 rsrsrs
São Paulo é um lugar realmente caotica, suja, mas a noite tem grandes diversidades, apesar de eu ter ido varias vezes a São Paulo prefiro a cidade onde vivo heheh....Salvador....
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