domingo, 20 de junho de 2010

DESESPERO - SEGUINDO EM FRENTE

       

30 DE MAIO DE 2008

Está cada vez mais difícil. Nunca imaginei-me nesta condição de clichê ambulante. Choro até não restar mais nenhuma possibilidade biológica de lágrima alguma partir das pálpebras invariavelmente inchadas. Não adianta muito todos me dizerem que sou jovem, bem sucedida, bonita e que a vida continua. Não adianta nem eu mesma repetir pra mim que não havia outra alternativa, a relação estava insustentável. Ela me impedia de crescer, sufocava-me, adeus Felipe. Apenas o amor não é suficiente. Já faz um mês, ainda dói tanto, quando vai passar? Eu preciso muito ser feliz. Mas não vou me desesperar e cair no mundo...

25 de JUNHO DE 2008

Estou quase surpresa comigo mesmo. Até pouco tempo lá estava eu lamentando por algo que parecia não ter fim e agora me vejo apaixonada. Yes, estou apaixonada. Bendita seja a Tainá entre as mulheres por ter me feito ir pra aquela festa de formatura. Foi nela que conheci Henrique, ele é o que pode-se chamar de tudo que há de bom. Bonito, bem sucedido e gostoso. Que beijos! E como ele é cheiroso. Tá bom, ele não é exatamente um intelectual metido a gênio como o Felipe, é até um pouco “grosseirão”, mas quem é perfeito afinal? Trocamos e-mails e MSN. Ele mora em outra cidade, mas sabe, depois de passar tantos anos perdidos naquela relação sufocante estou disposta a qualquer coisa para ser feliz. Entrei na comunidade: Estou amando um engenheiro.

15 de JULHO DE 2008

Tou trêbada, mas não consigo dormir, resolvi escrever, quem sabe assim entendo o mundo melhor ao reler minhas anotações. Acho que beijei uns três caras hoje mas não lembro do gosto nem do rosto de nenhum. O bosta do engenheiro demonstrou ser só mais um canalha afim de uma boa transa. Deus, como sou boba às vezes. Viajei até a cidade dele achando que tínhamos algo... E até tivemos, mas quando retornei a minha cidade, pelo jeito, saciado, ele simplesmente sumiu e disse que era muito jovem para se prender a alguém. Mas poderíamos curtir novamente. Mandei ele tomar... Bem preciso mesmo completar? Já faz cinco dias seguidos que emendo uma festa na outra passando geral... Mas não adiantou, tou chorando, a culpa é daquele filho da mãe, ele me estragou, eu não sei mais me relacionar com ninguém. Nunca mais vou amar novamente.

30 DE JULHO DE 2008

Sabe quando você fica com pena de desligar o telefone porque não quer parar de ouvir a voz dele? Pois é assim que estou agora. Faz apenas três dias que conheci o Rodrigo no churrasco da Tainá. Ele não é inteligente demais, nem é lindo. Mas tem o que podemos chamar de papo gostoso, olhar maroto, e que pegada! Deus que pegada! Depois que ele me deixou em casa na primeira vez que ficamos, eram sete da manhã, às oito ele ligou dizendo que estava com saudades: muito fofo isso né?
Ele é dono de uma pequena rede de supermercados. Pense num cara bom de papo! E mais ainda sabe ouvir como ninguém, as vezes passo horas falando no telefone e ele lá caladinho apenas “se deleitando com a minha voz” Acho que finalmente acertei.

2 DE AGOSTO DE 2008

Meu pai não gostou muito dele. Poxa filha, ninguém sabe nada desse rapaz? Mas que coisa? Ele é amigo da Tainá e eu gosto dele, não é o suficiente? Mas minha filha é o seu terceiro namorado em menos de seis meses! Droga! Sou adulta, vacinada, ganho meu próprio dinheiro, tenho direito de errar droga, agora acertei, dá licença? Ele é um cara muito sério, já me deu uma aliança de compromisso. É pra valer. Entrei na comunidade: Eu Digo que Amo um Digo.

2 DE NOVEMBRO DE 2008

Estou muito, mas muito mal mesmo. Faz uma semana que ele viajou para São Paulo e não me liga, só eu ligo. Ele diz que sou muito pegajosa que fico muito em cima dele. Cara! Eu só liguei pra ele três vezes em quatro dias! Acho que o Rodrigo não gosta de mais de mim. Ele chegou até a falar que muitas vezes quando eu tava falando longamente com ele ao telefone, ele simplesmente tirava o fone do ouvido e ficava vendo tv, que triste.
Pronto, não agüentei mais, liguei e disse que ele estava sendo muito grosseiro comigo, se fosse continuar assim eu não queria mais nada com ele. Sua resposta foi: Tudo bem, já deu!
Tudo bem.

30 DE NOVEMBRO

Estou muito feliz, estou muito feliz. Estou bem comigo mesma. Estou solteira esse tempo todo e sinto que não tenho necessidade de ficar com ninguém fixo. Solteira mas nunca sozinha, adotei esse lema. Afinal, pra que criar uma coisa tão desgastante e trabalhosa como essa tal de relação dita amorosa só para se frustrar depois? Tou feliz, curtindo a vida. Vou viajar mês que vêm estarei em Floripa e Porto Alegre, tem muito homem lindo lá, urru! Foda-se Felipe.

03 DE JANEIRO DE 2009

Estou muito feliz, mas muito feliz. É muito bom estar de bem consigo mesma e amando. É, estou completamente apaixonada, amando mesmo, Tiago é mais que perfeito. Ele me entende. Sinto-me verdadeiramente querida e amada por ele. Ele não tem aquela pegada espetacular do Felipe, mas existe muito mais que sexo numa relação, o carinho é essencial, e pense num homem carinhoso. Ele trabalha num escritório rival do meu, foi cômico, ele me destruiu na audiência e depois ainda teve a cara-de-pau de me convidar para almoçar, acrescentuou que era também amigo da Tainá.  Achei tanta ousadia que topei. Estamos namorando. Meu pai não quis conhecê-lo, que homem chato meu pai, disse que ia esperar ao menos seis meses. Minha mãe também achou o Ti muito fofo.

04 DE FEVEREIRO DE 2009

Foi quase mágico, tudo bem que quase engasguei com a aliança que estava dentro do pudim. Ouro branco, linda! Aceitei lógico e estamos noivos. Ele quer casar daqui há três meses. Pra que esperar? O tempo demasiado não faz ninguém conhecer melhor alguém, veja só o Felipe? Esperar demais só faz com que nós percamos as chances únicas que a vida nos apresenta. Sou noiva, amo e não tenho nenhuma dúvida que quero ficar para sempre com Ti. Entrei na comunidade: Todo Tiago é Tifofo.

30 DE ABRIL DE 2009

Não sei por que estou muito, mas muito triste desde essa manhã. Não quis comer, não quis ir ao trabalho, fiquei na cama mesmo, sem forças pra nada. Nada efetivamente mudou na minha rotina hoje, a não ser o telefonema daquele insano do Felipe: Desejando-me felicidades pelo casamento que virá. Eu lá quero saber dele? Como se ele tivesse alguma importância na minha vida ou eu vivesse lembrando-o. Enterrado amigo, enterrado, já se passou um ano exatamente, já deu. Mas não entendo porque estou tão mal assim.
20 DE MAIO DE 2009

Estou digitando no meu notebook a caminho do aeroporto, estou muito feliz. Ti ta dirigindo, vamos passar a lua de mel na Grécia, muito chique! Estou efetivamente vivendo um sonho. Felipe sempre me disse que depois dele eu nunca mais iria amar novamente como eu o amei. Como ele estava enganado. O mundo é muito grande, existem muitas pessoas nele, e com paciência e sem desespero, sempre temos uma chance de encontrar um novo alguém, um novo amor. E foi o que fiz. E agora tenho certeza que finalmente estou seguindo...
Em frente.

By- Adriano Cabral

15 comentários:

  1. Texto maravilhoso!
    parece um relato tão real, que por vezes fiquei me perguntando se realmente não é um caso verídico. Ainda estou na dúvida, rsrs...

    Parabéns pelos textos, muito bons!

    Muito bons mesmo.
    Fica com DEUS!

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  2. Excelente texto, Adriano.
    Uma coisa me chamou a atenção em especial...
    A personagem mal conhecia os rapazes e já se dizia apaixonada ou amando. Aconteceu com Henrique, Rodrigo e por fim o Tiago.
    Seria uma maneira desesperada de esquecer o tal Felipe?

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  3. Definitivamente não é fácil esquecer um AMOR. É preciso tempo, muito tempo, e não é porque queremos esquecer que vamos realmente esquecer, parece que nesses casos torna-se ainda mais difícil. Entretanto é possível esquecer sem nem ao menos perceber, mas é uma questão de tempo e como disse, normalmente não acontece quando “queremos”. É possível encontrar alguém que realmente nos faça esquecer um outro alguém, entretanto não será porque queremos que isto aconteça, mas simplesmente porque esse alguém apresenta-se de forma tão inusitada não nos deixando espaço algum para lembrar do outro. Como meu querido amigo e autor do blog costuma dizer, relações que se iniciam por desespero, onde tudo acontece muito rápido, via de regra terminarão tão rápido quanto tiveram seu início. O amor é um sentimento que se constrói com o tempo, não se ama do dia pra noite (tudo bem, eu acredito em milagres, então é possível, mas não é normal rs).
    A personagem do texto tentou “passar o tempo” entre um e outro “amor”, mas notoriamente não esqueceu o Felipe, e precisaríamos da continuação desta história para saber até quando dura toda esta felicidade. Engraçado o último depoimento: “O mundo é muito grande, existem muitas pessoas nele, e com paciência e sem desespero, sempre temos uma chance de encontrar um novo alguém, um novo amor.” O que está escrito é belíssimo e estou de pleno acordo, entretanto não foi exatamente o que a personagem demonstrou viver (sem desespero).
    Como sempre, ótimo texto Adriano.
    Smack

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  4. mais um texto veridico ;) a verdade da vida de qualquer um, só mostra q não adianta correr atras da felicidade qnd agnt menos espera ela pousa no seu ombro, adorei, Parabéns, Adri

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  5. Venho acompanhando seu blog. Não comentei porque realmente não tinha nada a acrescentar aos seus textos, quase sempre mechendo fundo dentro da gente, são não apenas lindos, mas sempre nos fazem pensar e nos instigar a viver.

    Li os comentários, enquanto lia pensava: Será que não é óbvio que ela ama o Felipe? Pelo jeito todos notaram. Ela diz que precisa ser feliz, mas pelo visto não tem coragem nem disposição de lutar por quem realmente é importante e parte em busca de ilusões.
    Desespero é um título perfeito.
    Parabéns Adriano.

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  6. Li os comentários, enquanto lia pensava: Será que não é óbvio que ela ama o Felipe?

    Será?, ela está perdida, mas talvez não seja por amor ou talvez seja... mágoas, ressentimentos, palvras mortas antes mesmo de ganharem forma, quando tudo termina abruptamente, quando o fim chega sem explicações a gente se questiona o que deu errado ou se enterra em ilusões, tentar entender os motivos da rejeição pode ser doloroso, mesmo que você não ame mais esta pessoa, encarar seus erros é assustador, porque uma vez que vc se depara com eles vc descobre que foram as suas escolhas que determiram as suas alegrias e tristeza...parece que a menina da história está numa busca desesperada por alguém que a faça feliz , ela não quer feliz ela quer alguem que a faça feliz, é muito trabalhoso e doloroso lutar pela própria felicidade, e se o tal Felipe chamasse ela de volta ela aceitasse alegre voltar pra ele, mas isso é amor? isso parece mais carencia, com ele talvez tudo fosse facil e quando começou a ficar dificil e terminou, ela simplesmente desistiu... mas vai saber...u_u o que eu sei do amor né?

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  7. http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45122/

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  8. Na boa! Se alguém realmente tem tanta dificuldade e tá tão desesperada para esquecer alguém e seguir em frente não é mais "lógico" voltar atrás e dá o braço a torcer, reconhecer seus erros e lutar?
    Talvez Nat-San esteja certa, o que liga a mulher do texto ao Felipe não é amor, é culpa, vaidade sei lá que diabo é.
    Felipe se livrou de uma boa pirigute. Até acho que foi inspirado em fatos reais...

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  9. Adorei os textos, são perfeitos!

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  10. Não sei como você consegue ter tantos eu líricos, encarnar tão bem cada personalidade!!! Eu podia ouvir minhas amigas me contando histórias similares, o modo, as palavras, as frases curtas. Esse texto foi quase o retrato da jovem moderna! Beijo!

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  11. Pior de tudo Anala, é que há esses "eus líricos" de todas as idades. Ja vi mulher com tres filhos separada e adolescente de 14 agirem de forma semelhante... Enfim... De repente ainda procuram o que já encontraram.

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  12. Tudo tão lindo....tão real.
    Só vc para postar essas coisas tão legais....bjinhos!

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  13. Carolina, agora fiquei curiosa o que vc achou tão lindo e tão real?, uma mente curiosa quer saber quais os argumentos que sustentam sua conclusão sobre o texto a cima, sério fiquei curiosa mesmo por que parece que vc teve uma visão diferente do texto

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  14. sex and the city
    assisti ao seriado - tirando as futilidades das personagens uma coisa me chamava a atencao...

    o modo como aquelas mulheres poderosas ( sim bonitas, com casa e profissao ) iam descartando os homens ( pares sexuais ) pela obsessao delas.

    o mesmo ocorreu com a moca do relato - ela é tao obssecada pelo tal do felipe que vai atropelando todo mundo - um a um - POR QUE ELA QUER O FELIPE, POR QUE TEM QUE SER O FELIPE- seria isto - amor verdadeiro ? ou obsessao por algo? ou o amor esta condicionado ao poder ?

    levei muitos anos para viver sem este raio de sentimento de posse do outrem, para entender que NINGUEM é obrigada a ficar ao meu lado, so quem gosta de mim.

    esta moca vai continuar girando o caleidoscopio das emocoes e se enroscando cada vez mais nesta pseudoloucura pronunciada.

    igualzinho as loucuras do seriado que mencionei - o nao admitir - torna as pessoas cegas.
    Se eu fosse essa moça largava tudo e iria fazer qualquer coisa para ficar com o Felipe. Já que ela se esforçou tanto para acabar.. e não conseguiu...o jeito é se render.

    so posso desejar boa sorte a moça.

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  15. Que leitura boa...Em alguns trechos ri demais. Em outros (principalmente no final) meus olhos se encheram de lágrimas.
    Fico imaginando se algum dia eu viverei uma história assim também. Ou melhor, se independente de como será aminha história, se eu serei feliz.
    Forte Abraço!
    Elisa

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