DECISÃO
- Você tem certeza que vai fazer isso? Ele é um homem feito, já viveu, tem filhos ele já viveu...Um homem que não tem nada e ainda vai te forçar a ficar longe de sua família. Filha, sua existência só está começando, nao jogue fora por causa de um homem, você tem a vida inteira pela frente só tem vinte e dois anos...
-Já chega mamãe. Vocês já viveram suas vidas, agora é minha vez de viver a minha.
E foi assim que Patrícia saíu de casa para morar só. Um ano depois, estava casada e trabalhando num pequeno escritório de advocacia próprio em outra cidade, vivendo com Leandro, 14 anos mais velho, engenheiro agrônomo, quem ela acreditava ser o amor de sua vida. Ela sabia que os primeiros anos iriam ser difíceis, mas antes de tudo Patrícia era uma mulher decidida.
LUA DE MEL
Os primeiros cinco anos foram duros, mas definitivamente o mesmo tanto que ela tinha de garra tinha de talento e ela rapidamente foi se estabelecendo no difícil mercado da advocacia. Antes dos trinta ela já tinha vinte empresas como seus clientes fixos. Seu casamento era o que se poderia de chamar de sucesso. Leandro, não obstante ganhar pouco, demonstrou ser um homem mais que perfeito, além das qualidades que já eram conhecidas, demonstrou ser um ótimo companheiro, era seu braço direito. Ficou grávida no final do quinto ano e estava ansiosa para ter seu próprio filho, tinha certeza que nada poderia ficar melhor.
DESEJO
Dez anos se passaram, e a doutora Patrícia Maia estava completamente estabelecida no mercado, inclusive seu deu ao luxo de fazer mestrado, doutorado e lencionava na renomada faculdade de direito local. Contudo, cada vez estava mais difícil ir para festas, encontros, almoços com o marido, até mesmo falar dele, tinha vergonha. Leandro continuava do mesmo jeito, era um pai maravilhoso, marido atencioso, mas defintivamente não tinha ambição. Isso cortava o coração de Patrícia, nessas horas lembrava dos pais " ele não tem nada." Essa insatisfação foi grande fonte de brigas. Ela não só o incentivou, mas exigiu que ele tivesse "sucesso profissional", não era pelo dinheiro, afinal ela ganhava mais que o suficiente, ela queria ter orgulho do marido. Pressionado, ele se uniu a um antigo colega de faculdade e abriram uma empresa de consultoria.
ONDE ESTÁ O AMOR?
Quinze anos de casados...
- Por que a senhora deseja se separar?
- Eu definitivamente me sinto só. Disse Patrícia com a voz embargada para seu advogado. Preferiu contratar alguém estranho, famoso por ser um advogado muito humanista especializado em divórcio. Ela tinha muita vergonha de sua condição de divorcianda, não queria se expor tanto para conhecidos.
-Seu marido anda te traindo?
-Não, jamais ao menos não soube de nada parecido.
-Então qual é o problema afinal? Você o ama?
-Muito...
-Então qual é o problema?
-O problema é que não tenho efetivamente um marido. Desde que ele abriu aquela maldita empresa de consultoria nem eu nem nosso filho o vemos. Ele passa às vezes três, quatro meses viajando pelo Brasil inteiro a trabalho. E quando está aqui passa o dia fora e chega em casa cansado.
-Então dinheiro não é problema.
-Não, nunca foi, ele é muito bem sucedido, provavelmente ganha mais que eu... Mas por isso mesmo não entendo, porque trabalhar tanto? Nem precisamos disso. Por que ele me deixa tão só. Não acredito mais que ele me ama. Não me queixo sabe, acho que ele deveria descobrir sozinho como eu me sinto, é assim que os casais devem ser.
- Você realmente crê que ele não te ama porque não está presente.
- Não me ama! Quem ama quer estar perto, ele vive longe, onde está o amor?
-A senhora citou que tinha um filho certo? Dez anos, você está com ele com frequência?
-Gostaria de estar mais presente. Mas ensino pela manhã na faculdade, a tarde tenho o escritório e a noite dou aulas na pós graduação. Então resta os fins de semana sabe...
- Bem, O fato de não estar presente na vida do seu filho elimina a possibilidade de amá-lo. Afinal, se a senhora não está com ele onde está seu amor?
- Essa pergunta fez o sangue de Patrícia gelar.
E NO FIM DAS CONTAS.
O telefone tocou em algum quarto de hotel, um homem arrasado e abatido atendeu ao telefone.
-Leandro, você me ama?
-Patrícia, a única certeza que tenho na vida além da minha própria morte é que te amo.
Em seguida ela desligou o telefone.
Enquanto as lágrimas caíam entre soluços ela pensava no marido, no filho, nos seus pais. Em seguida ela adormeceu.
By- Adriano Cabral.
A Patrícia só se sente segura enquanto está "no comando", enquanto é ela a que faz o papel de bem-sucedida... Nem percebe as próprias falhas até que o alguém as aponte. Bichinha...
ResponderExcluirVocê devia colocar uma musiquinha no blog (eu já vi isso). Tudo me lembra música do Chico...
http://letras.terra.com.br/chico-buarque/86033/
Parabéns pelo texto, Adriano.
ResponderExcluirEle nos faz refletir até que ponto vale à pena correr atrás do sucesso profissional e deixar para segundo plano o sucesso familiar?
A personagem foi tão guerreira para galgar o sucesso na sua profissão, mas tão fraca em lutar pela sua principal conquista... A FAMÍLIA.
Já que, além de se distanciar do marido. Ela também não estava presente na vida do filho.
Espero que tenha valido a pena para ela?
Meu queridoo.. vc tem um DOOM incrível. adoorável!! parabéns pela pessoa que és. continue escrevendo coisas tão belas quanto estas...
ResponderExcluirE, eu adoooro muitoo. seus conselhos, ate a forma como vc é chato ( quase sempre). kkk
é tudo muito divertido! Obrigada por ter aparecido *
um beijinhO .
Incrível, você tem o dom de escrever textos que nos fazem refletir. Com um conflito que está presente no nosso cotidiano, nada de fantástico e alucinado, e sim concreto. Saiba que eu sou incondicionalmente fã dos seus textos! Beijo. ^^
ResponderExcluirAdriano.. Saudade de vc! Agora só converso contigo através dos teus textos e das lembranças.. por onde andas, meu amigo?
ResponderExcluirA propósito.. como sempre, um ótimo texto.. Mais uma vez, lembrando aquilo que jamais deve ser esquecido. O que é realmente importante.. ;)
Quase me vi nesse texto.. rs. Mas espero nunca me tornar assim. Vc tbm, viu? Pára de trabalhar frenéticamente, e vê se lembra dos amigos de vez em quando..rs!
Smack!
Bom texto. Tão... real!
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