De outro lado penso que o melhor é ficar sozinha. Sozinha.
Na verdade sempre estive só. Solidão é tipo de palavra que parece que foi criada para definir minha vida. Só a minha?
Todas ás vezes que ando na rua eu vejo as pessoas lá, alegres, tristes ou indiferentes. Todas as pessoas estão lá. Mas elas nunca estão aqui, comigo, não de verdade entende? Às vezes ficava no quarto falando contigo e você jogado, nu, mas quase sempre parecia que você tava dormindo, na verdade realmente você dormia. Pensando melhor, eu também dormia, hibernava em devaneios fatais de fim, eu estava feliz, mas me falavam tanto que podia haver algo melhor...
Não quero que pense que estou aqui escrevendo pra te convencer a ter dó de mim. Nem eu mesmo tenho pena de mim. Eu que tenho pena de ti, pois sei que ao me deixar você acreditou que sua vida iria melhorar, mas definitivamente não vai. Nada vai melhorar e assim como eu, estarás condenado pelo resto da vida a procurar procurar procurar procurar...
Mas a verdade é que sei que você tomou a decisão correta, ao menos, naquele momento, a coisa certa. E nesse instante sinto mais pena de mim, não por quem sou agora, mas pela louca que fui, dia a dia lutando para te magoar e mostrar pra ti que não eras assim tão importante e que eu não era a mulher que você desejava para toda vida. Então posso te dizer com toda humildade dos que choram, com toda honestidade dos derrotados, que sim, eu não era a melhor opção quando você me deixou, merecias alguém melhor. E agora, só, tenho a consciência plena que não há mais ninguém para responsabilizar pelos meus atos, ou a ausência deles, minhas falhas, minha covardia.
O problema é que sinto tua falta, sinto tanta, tanta, tanta, tanta... a tua falta que chego a não ter certeza se a saudade é realmente de ti ou de mim, explico, de quem eu era quando estava nos teus braços. Eras! Eu não sei nem ao menos se nós realmente existimos ou fomos mais uma ilusão, mais um delírio, um artifício da minha mente para tornar essa maldita contagem regressiva ao caminho do nada palatável, com algum sentido.
Só sei que á noite que fica mais difícil evitar tua presença, é mais fácil ouvir sua voz. Não aquela ao telefone conclamando-me a ter "amor-próprio", droga de amor próprio, quem na vida teve o que se chama felicidade contando apenas com esta merda de amor-próprio? Todos me diziam para ter amor próprio, para pensar em mim, em mim, e como uma tola não notei que atabalhoadamente eu tentava a todo custo ser “mais eu” e no processo me tornava quase nada por me afastar de ti. E agora todos que se esforçavam tanto para me ensinar a viver vivem suas vidas, e quando os olhos súplices, pedindo ajuda, respondem com o olhar que diz: Você que fez e viveu sua vida, viva.
Mas eu dizia que é a noite que eu ouço a sua voz, não, não, eu escuto a minha voz e ela sai dos seus lábios doces, quentes e exalando desejo, gozo e a loucura de sensações, o império dos sentidos, o suar, gemer e gritar indefinidamente no teu corpo úmido do meu. Lembro do teu sabor, do teu cheiro, Teu cheiro, tua boca mergulhando inteira em mim, lembro da minha... Do meu gosto... Já não sei de quem eu sinto saudade. Olho-me no espelho e vejo uma pessoa estranha.
Saudade? Há se fosse só isso. É desespero que toma conta do corpo, a cabeça, queima ou é algo atrás da nuca... Um frio insensato causado por alguma insensatez em acreditar que há algo maior que isso que vejo...
E o que apenas vejo é você dizendo que estaria comigo pra sempre, que irias pegar a minha mão e não soltarias mais, que daquele momento em diante nada poderia ser pior, porque afinal eu estava contigo...
Angústia, dor física, dor moral, dor da perda, tudo isso é pouco. Busco pensar em outras dores, tento lembrar até da minha mãe morta, sim minha mãe morta, tento lembrar da dor, e até choro com saudades dela, daquela que me foi arrancada sem direito a recurso. Mas é pouco, você não foi arrancado, você não está morto para todos, você morreu apenas pra mim. E maldito seja os dias em que te vejo na minha frente e você não me vê, mesmo quando me olha profundamente nos olhos. Mesmo quando sorri. Talvez eu também não te veja mais, apenas um retrato e algo que já se foi... Nessas horas minha mãe parece mais viva que você.
Por outro lado acho que seria possível viver só, mas o grande problema, é que depois de tudo estou mais do que só. Quando te deixei, quando você foi embora, simplesmente levas-te-me contigo e agora sinto saudades de mim.
Essa letra combina com o texto.
Essa letra combina com o texto.
by Adriano Cabral