domingo, 21 de agosto de 2011

Notas de Amor 4 - O Outro.

     
      Júlia sempre repetia que amava Felipe, ao ouvir isso, quase sempre acreditava, exceto nos momentos de intimidade, quando, deitada e completamente despida, dava sonora gargalhadas quando ele a beijava lascivamente. Irritado,ele parava e as vezes interrompia de vez a atividade em questão. Júlia se envergonhava, pedia desculpas e tudo se resolvia com mais carícias, sem beijos passeando pelo corpo, senão, voltavam as risadas. Certa noite após retornarem do cinema, Júlia estava completamente nua, deitada de bruços, cochilando, Felipe, insistente, começou a beijar-lhe as costas, do quadril até a nuca, desta vez Júlia nao riu, nem sorriu,  surpreso, seu namorado buscou nos olhos dela a resposta e os encontrou sérios e concentrados, com o pensamento distante, isto o feriu mortalmente, cessou o que estava fazendo e perguntou bruscamente:
- No que você estava pensando Júlia?
- Nada além de você meu amor!
- Com certeza era qualquer coisa exceto eu, você estava pensando em que, fale, fale logo! Falou nervoso, temendo a resposta.
- Nada, só tava pensando em você...
- Júlia, seja honesta, ou vou embora agora mesmo e não volto mais. Vociferou Felipe de tal forma que deixou a mulher assustada. Você tava pensando em outro né? Ao ouvir isso a puplia dela dilatou aterrorizada de tal forma que Felipe teve ímpetos violentos. Quem é ele, fale, quem é?
-Ninguém juro! Não é o que você esta pensando...
-Droga! Nunca na minha vida pensei que iria ouvir essa maldita frase feita, fala logo quem é, ele e melhor que eu na cama ne, ele nao te fez garbalhar... Institivamente ela assentiu, em seguida se arrependeu do impulso. Felipe estava possesso demais, perdendo o controle, ela não aguentou mais e gritou.
-Tá bom, era o Batman!
-Como assim? Tá louca?
- Amor, estava pensando Batman, acabamos de ver o filme lembra? Recordei aquela parte que ele fala em autocontrole. Quando você começou a beijar-me tive de novo a vontade de rir, me concentrei e pensei, se o Batman consegue eu também consigo, e tava até resistindo a vontade de gritar e gargalhar, desculpa amor!
- O Batman.... repetia Felipe desconsolado
-O Batman.

By- Adriano Cabral

sábado, 13 de agosto de 2011

É Preciso Sonhar

     
      O que afinal diferencia os homens dos animais? Diz-se que é a capacidade de raciocinar outros o poder de trabalhar e transformar a natureza. Eu, porém não sei o que efetivamente o que nos distingue dos demais seres vivos, mas acredito que a capacidade de sentir e de sonhar são provavelmente as características mais humanas que nós temos. Qual o sentido da vida? Em minha opinião, na falta de uma resposta melhor acho que o sentido da vida é senti-la em toda sua extensão, sorver cada gota, porque no final das contas a vida é pra ser vivida, não assistida. Passei uma boa parte da minha existência como telespectador e cada vez que me sinto, mesmo que profundamente, triste, lembro-me que foi a partir do momento em que me permiti sentir que comecei a ter esta inigualável sensação de estar vivo. Estar nestas condições inclui os bons e maus momentos. Mas quando esta tudo tão ruim (como por exemplo agora rs.) além da vida real temos algo que faz com que, de alguma forma, o ser humano tenha o alento: os sonhos. E o que são os sonhos, de que matéria eles são feitos, o que eles representam? Mais uma pergunta sem resposta, mais um mistério. O fato é que o sonho é matéria que sustenta a própria vida, provavelmente foi do sonho de voar que se criaram aviões, do sonho de conhecer o mundo que se forjou a internet, mas às vezes os sonhos nada mais são do que a realização de nossos mais íntimos desejos, principalmente os que podemos chamar: Impossíveis. Bem, disto isto vamos ao sonho...

      Lá estava perambulando pelas ruas do Recife Antigo (área cheia de prédios neoclássicos, mas parece uma cópia velhinha das ruas de Paris do Sec.XVIII), era fim de tarde e havia pouquíssimas pessoas nas ruas. O céu estava multicor predominando aquela coloração laranja escuro manchada por nuvens e o céu azul. Olhando o horizonte era difícil diferenciar o mar e o céu... Mas Felipe cessou de observar o espetáculo diário da natureza ao divisar ao longe uma figura pequena, de cabelos longos, pele branca que estava sentada sozinha na amurada, observando o mar... Por um instante ele acreditou que poderia ser alguém que conhecia... Mas logo desviou o olhar e seguiu adiante. No entanto, a idéia que aquela figura feminina poderia ser Ela martelava sua cabeça e a cada pancada ele reduzia seu passo tentado a retornar e certificar-se seu provável engano era efetivamente, um engano. Afinal, não poderia ser Ela, àquela hora estaria há pelo menos 2300 km de distância, e mesmo numa hipótese completamente remota dela estar no Recife provavelmente estaria rodeada do seu tradicional séquito de amigos ou familiares. Mas seu coração acelerava, uma euforia inexplicável foi tomando conta dele enquanto se aproximava da figura feminina. Mais perto, ele pode ver sua pele alva, seu rosto encoberto por uma franja que caía encobrindo seus olhos. Era ela, repetia pra si, era ela.

- Selina?

- Eu!? Sim, eu. Você demorou hein!?

-Como assim, é você mesma Céu?

-Não, sou apenas um sonho. Respondeu ela num sorriso contido, ela parecia triste. Que mania a sua de diminuir meu nome, que já é tão curto, e me chamar de Céu, só você mesma. Completou num sorriso verdadeiro.

-Mas como pode ser você, aqui. Ele mirava fixamente o seu rosto, a franja ainda impedia de ver os olhos, ela pareceu perceber e com um gesto rápido de mãos mostrou todo sua face com seus olhinhos miúdos, mas levemente felizes, não obstante, ainda uma sombra permanecia principalmente em seus olhos, vermelhos, provavelmente havia chorado.

-Mas como você demorou hein?

-Como assim, eu nem sonhava que você estava em Recife, você não me disse nada, como esperaria me encontrar então?

-Ah Felipe, é claro que não iria te avisar, a simples idéia de ti ver me parecia ser ao mesmo tempo encantadora, mas também aterrorizante. Então não avisei e não pretendia te encontrar, no entanto, dei uma chance ao destino. Indagada como funcionaria o destino ela continuou explicando que resolveu ficar sozinha no ponto turístico mais famoso do Recife enquanto seus amigos circulavam pela cidade e se o destino fosse muito generoso provavelmente ela o encontraria exatamente como aconteceu. Só não imaginava que ela teria que esperar quase três horas pra isso.

-Você é louca mesmo!

-Ai, ai! O impressionante é você ter notado isso só agora. Disse ela num breve sorriso convidando-o a sentar ao seu lado. Olha Lipe, aposto que você esta pensando, afinal, se ela queria evitar encontrar-me porque esperou horas e horas sob os cuidados do “destino” só pra me ver. Pois vou te responder...

-Eu não imaginava-a tão falante. Interrompeu ele.

-Ah! Provavelmente é porque sou a garota dos seus sonhos, logo acabo sendo bem melhor que a original, o que acha?

-Uma boa teoria Selina dos meus sonhos, agora explique o que o destino reservou pra mim. Disse ele sorrindo, no entanto, o olhar dela se tornou muito grave, sua voz saiu doída, fraca.

-Estou perdendo as esperanças Lipe! O olhar indagador dele a fez continuar. De certa forma foi você quem me inspirou a arriscar-me a viver e sentir a vida em toda sua plenitude. A parar de pesar, calcular, relativizar e por fim desistir de correr qualquer risco. E guiada por este possível encanto de viver mergulhei no mar da vida, no entanto, poucas vezes pude sentir as águas plácidas e puras, até as sentia, mas por tão pouco tempo, o que predominou foram às procelas e tempestades que, às vezes, me fazia até pensar que iria afogar e desaparecer. Estou com medo, muito medo. Parece que a razão está vindo dentro de mim não só para me salvar de alguma desdita, mas para predominar e mandar em mim. Me ajuda! Dito isto ele pegou sua mão e mergulhou nos olhos dela e ambos ficaram perdidos um no outro, como se comunicassem em silêncio até que este foi quebrado pela voz dele.

-Se isto é um sonho não preciso me conter... Dito isto ele ergueu-a na amurada, tendo apenas agora ambos uma faixa de terra e o imenso mar do Recife, e a beijou, a princípio um beijo suave, terno, como se aos poucos as almas estivessem se misturando, fundindo. Ela estava na ponta dos pés, isto fazia com que o abraço fosse mais estreito, enquanto o beijo ia se tornando intenso, eufórico, delirante e agora as mãos que até então estavam repousadas simplesmente se espalharam pelos corpos, quase em desespero, como se um estivesse se afastando do outro e ambos tentassem segurar-se.

O celular gritava sem parar, foi quando ela lembrou-se que eram seis horas da tarde e os seus amigos estavam chegando. A noite se fez em Recife. Após o beijo eles ficaram mais um longo momento calados fitando-se de frente ao outro, ainda de pé.

-Era isso

-O que?

-Era isso que eu precisava Lipe, era isso, de alguma forma eu sempre soube, era você.

-Você tem que ir embora né?

-Você quer que eu fique, eu fico, basta você pedir, eu faço! Dito isto, sacou o telefone da bolsa. Você quer que eu fique, de verdade?

-Quero!

-Responda direito, porque não quero mais perder tempo. Você quer que eu fique?

-Quero, fica!

Ela deu um largo sorriso. Ele acordou!

by-Adriano Cabral

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mais um Fracasso do Capitalismo de Mentirinha

     
   Dizem às lendas que foi na Grécia antiga que se formou a base da democracia ocidental. Curiosamente a Grécia contemporânea demonstrou ser o grande túmulo do modelo de democracia representativa que impera no ocidente. A idéia da democracia de forma simplificada é que o povo governe, seja diretamente ou indiretamente através de seus representantes. Logo, o Estado deveria ser a "voz do povo", mas este foi completamente ignorado recentemente na votação do parlamento grego que aprovou um pacote de medidas duras de contenção de gastos que era e é rechaçado por mais de 80% da população daquele país. Mais afinal, porque os gregos estavam tão irritados com o tal pacote que a Rede Globo não cansou de dizer que era "essencial" para estabilidade econômica de toda Europa? Por incrível que pareça mais uma vez a resposta é relativamente simples: Bancos europeus por quase dez anos encheram as burras de dinheiro especulando com créditos imobiliários podres advindos de bancos de investimento norte-americanos. Depois de anos de farra, o sistema financeiro "descobriu" em 2008 que os créditos eram podres. Daí a imprensa econômica (que dizem as más línguas são pagas pelo mesmo sistema financeiro) pregou o final dos tempos pra baixo e imploraram a ajuda dos "governos" para atenuar a "crise". Agora você deve estar pensando: Peraí! Se foram os bancos que depois de longos anos de farra que causaram o problema, porque agora os "governos" (ou seja, o setor público) que vai pagar a conta? Mas é assim que funciona o capitalismo de mentirinha, não existe risco para as grandes empresas (principalmente as que compõem o sistema financeiro), e se há grandes perdas, quem paga é o governo. E no caso de uma "crise global" quem paga são OS governos. Foi exatamente o que aconteceu nos anos que se seguiram a quebra da farra imobiliária, várias nações se endividaram (parece surreal) para ajudar umas dúzias de bancos. Agora, pouco mais de três anos após o estouro da "crise", vários governos do mundo, inclusive da Europa (países como Itália, Espanha e Portugal são as bolas da vez), vem tomando medidas que atinge diretamente a população, reduzindo salários, cortando aposentadorias, assistência a saúde, investimentos na educação e por aí vai, tudo pra que mesmo? Ah! Pra pagar aos bancos o dinheiro que esses governos pediram emprestado para ajudar outros tantos bancos.

      A gana da banca anda tão açodada que até mesmo a nação símbolo do capitalismo de mentirinha esta com problemas de pagar o que deve. Afinal, um dia alguém tinha que notar que os Estados Unidos é a nação mais endividada do mundo e tal passivo aumentou bastante após várias guerras da era Bush e finalmente o "auxilio" a bancos e empresas prestadas pelo governo norte-americano nos anos que se seguiram após o estouro da bolha imobiliária em 2008. Em 16 de maio deste ano, o governo dos Estados Unidos alcançou o limite de endividamento, US$ 14,3 trilhões, equivalentes a 92% do Produto Interno Bruto (PIB) de um ano do país e precisa da autorização do congresso para que o teto do endividamento aumente, senão, simplesmente amigos, terá que dar calote nos credores.

    Não é a primeira nem a última vez que os governos pagam a conta do "fracasso" do sistema financeiro (símbolo do capitalismo atual), desde da grande quebra de 1929 vamos nesta mesma toada. Mas sem dúvida é a primeira vez que até mesmo o centro econômico e cultural do ocidente se encontra na iminência de ser humilhado por mais um fracasso deste capitalismo de mentirinha, sem riscos para o setor privado, onde no final das contas, quem paga a conta são os mais pobres com mais impostos e menos investimento social.

By- Adriano Cabral