terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Falta


Era pra ser apenas algo cômodo, tranquilo, que pudesse me distrair na hora monótona ou me fazer sorrir na hora triste. Eu vivia repetindo que não queria nada sério, mas quem levar a sério essa história de controlar nosso querer não sabe nada dessa vida não, e eu definitivamente não sabia.
E agora sinto falta das coisas que esqueci
Sinto falta daquele par de brincos que se perderam no abismo existente entre o teu colchão e o chão.
Sinto falta dos meus óculos escuros de camelô que esqueci de propósito no porta luvas de seu carro e quebrou, ainda bem, pois sei que ainda está lá perdido, partido, esquecido, mas de alguma forma contigo, sem essa imensa dor.
Sinto falta de minhas sandálias quase sempre encardidas que eu prometia todo dia lavar, quantas promessas!
Sinto falta da minha chícara de café florida de três reais, das tantas vezes que na hora de partir lembrar sempre "de última hora" que ainda teríamos que comprar pão.
Sinto falta do teu colchão de espuma, dos lençois que pareciam se eternizar na cama, dos travesseiros disformes e macios, da tampa do baú que às vezes caía no frenesi das manhãs, tardes e noites quentes.
Sinto falta dos lugares mais variados que você encontrava para comer comida gostosa, de as vezes de improviso, a noite, ir a praia e mergulhar no mar de águas mornas.
Sinto tanta falta, que às vezes dou gargalhadas quando tomo o ônibus e ele se enterra num bueiro ou quando falo baixinho algo em qualquer ouvido.



Sinto falta de todos os poemas e textos lidos, daqueles que nem ainda foram escritos,
Dos presentes ainda não recebidos e de todas às vezes que não viajei contigo.

O fato é que sinto falta, e pensando em tudo isso, às vezes acho que sinto até mesmo falta de você.

by- Adriano Cabral

3 comentários:

  1. Oi Adriano, tempos que não aparecia aqui.
    Deixo então uma pergunta, será mesmo que é possível "escolher" o momento em que se está apto ao envolvimento ou não?
    E se realmente a ausência é sentida, o pensamento é invadido por aquele alguém que tinha consciência que era coisa de momento, por qual razão fugir e não tentar?

    O blog está ótimo como sempre, parabéns!

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  2. Mais uma vez o autor consegue trazer uma historia que tem muito a ver com a realidade, neste caso, a triste constatação que vivemos numa geração de covardes. Percebam que o texto deixa claro que a pessoa em questão ( que parece ser mulher) tenta dá a entender que sente saudades apenas das coisas e dos lugares, mas não admite completamente que sente falta da Pessoa que deixou (ou provocou a separação).
    O medo dita as vidas de muitos, nos deixa escravos da inatividade ou da comodidade. Só que ninguém é feliz parado. Se alguém está te fazendo bem e vc sente uma chance de ser feliz, viva, não se esconda, a vida não é mãe, é madrasta. Parabéns de novo ao autor. O blog ta perfeito.

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  3. É engraçado como o que mais marca são os eventos gigantescos.. mas o que mais sentimos falta são aqueles do cotidiano. Um café da manhã à dois, um passeio à padaria.. Uma camisola qualquer.. Talvez essa seja a essência do amor.. Dar magia às coisas simples.. e nos fazer enxergar num dia comum, o espetáculo do outro.. ;)

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