Érika dormia e acordava pensando nele. Sorria nas situações mais improváveis, sentia-se nas nuvens e tinha outras tantas sensações nem sempre apropriadas para algumas ocasiões. A cada momento consultava o telefone para ler alguma nova mensagem ou para reler aquelas palavrinhas que a levavam ao paraíso e tornava-a irritadiça, quase desesperada quando a bateria do celular findava. Estava definitivamente apaixonada e tudo indicava que estava sendo plenamente correspondida. Ela já tinha 26 anos e isso jamais acontecera. Todos os outros eram interessantes até se aproximarem o bastante apenas para demonstrar como eram entediantes, pegajosos e dispensáveis. Logo, ela não tinha dúvidas que agora tinha um grande problema. Para resolvê-lo foi procurar marcar uma consulta ao guru Ágape que apesar dos seus poucos anos era a grande autoridade sobre vida, morte, amor e tudo o mais. Não cobrava nada pelas consultas mas sempre aceitava doações expontâneas. Seis meses depois Érika estava em sua sala.
- Ágape não entendo, já faz um ano e ainda me sinto completamente apaixonada, pior cada dia me sinto mais dele.
-E qual é o problema minha gatinha?
-Por que isso nunca tinha acontecido e definitivamente não entendo... Ele não tem absolutamente nada que idealizei num homem perfeito pra mim. Disse mulher exasperada.
- Você quer entender minha lindinha?
- Sim, não deve ser fácil, mas se existe alguém capaz de me iluminar é o senhor.
- Já disse pra não me chamar de senhor meu anjo! Mas sim, é fácil, mas para você entender precisa responder algumas perguntas honestamente, entendeu flor? Érika assentiu com a cabeça.
- Você me acha inteligente?
-Sim
-Você acha bom meu papo?
-Sim, não há melhor
-Eu te faço rir?
-Claro, quando queres és o ser mais divertido do mundo.
-Você acredita que poderia te proporcionar um bom futuro financeiro?
- O senhor é mais que rico, claro.
-Você me acha bonito e sedutor?
- Sim... Respondeu emrubescendo à face.
- Você é apaixonada por mim?
- Não! Respondeu assustada, logo em seguida ficou olhando o vazio fixamente como se tivesse feito uma grande revelação.
-Entendeu minha deusa de alabastro?
- Sim.
Dois anos se passaram e Érika estava novamente na sala do Guru. Desta vez os olhos dela estavam apagados, olheiras fundas denotavam noites mal dormidas e a mulher que até então sempre se trajva com apuro além de mal vestida estava com os cabelos completamente desgrenhados. Quando o guru entrou na sala Érika se atirou de joelhos diante dele se derramando em lágrimas. Ágape pegou-a docemente pelas mãos e a conduziu ao sofá, limpou-lhe as lágrimas com um lenço perfumado e esperou a tempestado passar sem dizer palavra. Quando o silêncio venceu os soluços ele indagou-lhe o que a transformara num alma desesperada, ela sufocou as lágrimas e respondeu:
- Ele se foi mestre, ele se foi...
- Quem? Não me chame de mestre amorzinho.
- Ele chegou pra mim, sem mais nem menos e disse que queria um tempo. Eu não compreendi, não entendi. Fiz tudo certinho, tenho certeza, fiz tudo corretamente. Carinhosa, atenciosa, fiel, compreenssiva, não fui grudenta, deixei ele com todo espaço necessário a exercer sua individualidade, fiz coisas na cama que jamais imaginei que existissem, sou bem sucedida e admiro muito o trabalho dele. Não sei onde errei, eu não entendo. Eu pedi pra ele explicar e o filho da puta disse que o problema não era eu, era ele. Porra! É claro que o problema sou eu senão ele não queria um tempo... Uma amiga tinha me advertido que tinha visto ele aos beijos com uma dançarina de pagode de 17 anos. Mas não acreditei. Eu preciso entender, preciso saber onde errei, sei que não é um tempo.... Sei que é o fim, preciso saber o que tenho que fazer para consertar, preciso entender porque acabou. Preciso entender o motivo. Eu preciso!
- A resposta é simples.
- Ai que bom, sabendo poderei consertar tudo, poderei tê-lo de volta, qual foi o motivo dele me deixar, me explique mestre.
- Ele te deixou pela mesma razão que te levou a se apaixonar por ele...
Ao ouvir aquela resposta, como alguém que se conforma com o luto, todas as estações ligadas a sensibilidade se desligaram pois ela teve a certeza que era o fim. Ágape envolveu-a num amplexo.
Em algum lugar de seu ser Érika refletiu que algumas questões não devem ser respondidas nem tampouco compreendidas porque podem tirar de você qualquer coisa parecida com a palavra esperança.
by- Adriano Cabral.