quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

PIEDADE


Ontem no final da noite principiando a madrugada a moça partiu ou foi partida pela vida? Não sei bem dizer nem mesmo explicar. Só sei que a moça se foi em grande agonia e dor.
Não sei contar a história toda dessa moça. Não sei se brincou de boneca, se sonhou e sofreu por amor, se teve ideais e lutou por eles ou curvou-se diante da realidade.
Mas sei que a vida dela foi tão grande, tão imensa, tão misteriosa, tão particular, tão cheia de idéias.
Sei também que esta moça antes de tudo viveu só, mas rodeada de alunos, alunos-admiradores, alunos-pesquisadores, alunos-professores e principalmente alunos-amigos.
Se ela não contribuíu com o "legado de nossa miséria" através dos filhos, ela deixou um imenso legado profissional, educacional, moral e científico para toda humanidade.
Seca, doce, dura, terna, ácida, bem humorada, guerreira incansável, exemplo de alguém que se casou com o conhecimento e até o último instante tentou compartilhar toda riqueza que o saber pode trazer.
Não sei sua biografia, só sei que há 41 anos licenciou-se em letras e há 101 anos seu grande mestre (nosso mestre) morrera.
Não sei o que dirão seus verdadeiros amigos, não sei o que dirão os completos desconhecidos. Mas tenho quase certeza que essa moça ficaria muito irritada em ver gente chorando copiosamente em seu velório.
Lá se foi aquela moça, magrinha, franzina, invencível... vencida... desapareceu...
desapareceu? nunca, pois cada um dos seus "alunos" é inexoravelmente uma parte dela, e através deles aquela moça será lembrada, ensinada e admirada até não restar mais nenhuma luz no céu. Até não restar mais ninguém no grande delírio que é a existência.
Adeus moça!
até breve

A imagem é uma representação do "delírio" Machadiano de Brás Cubas

By Adriano Cabral

3 comentários:

  1. Eu achei uma síntese sobre a NOSSA PIA. Posso dizer que não tive a chance de recepcionar seus conhecimentos, que eram tantos, mas tive o imenso prazer de poder conhecê-la, de ouvi-la falar e de sentir um pouco dos seus conhecimentos. Fico feliz por este instante inspirador. Belíssimas palavras Adriano, ratifico tudo isso e acrescento que não perdemos uma tutora, uma orientadora no sentido latu da palavra, uma dismistificadora, só ganhamos uma imortalidade em forma de luz e conhecimento que será respeitado e ovacionado para todo o sempre. Que descance em paz a nossa queridíssima e magistral inspiradora.

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  2. Não conheci Piedade, mas seu texto me fez arrepender-me por isso.
    Parabéns pela homenagem.

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  3. Acabei de reler esse texto sobre minha querida Piedade. Excelente texto, elogiado por muitos daqueles que estudam literatura e vivem de analisá-la. À época da publicação dessa homenagem a Pia, não fui capaz de escrever nada sobre elas (a homenagem e Piedade). Agora, sinto-me mais à vontade para dizer que essa "menina" foi para mim o mais perfeito exemplo de retidão e de dedicação à vida acadêmica. Exemplo que Deus colocou em minha vida para que eu pudesse ter uma orientação clara e segura dos passos que deveria trilhar em minha vida profissional. Hoje (23/03), em minhas aulas de Morfologia no doutorado, lembrei mais uma vez dela (como alguém pode esquecê-la?). Pia foi uma pessoa que lutou, com todas as suas forças, pela vida. Ela não desistia nunca. Posso dizer que, como sua discípula, aprendi também a lutar por aquilo que desejo sem nunca desistir. Obrigada, Adriano, por suas palavras tão lindas sobre a minha querida Pia. Obrigada também por ter me ajudado a me tornar a mulher forte que todos dizem que sou.

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