segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mate Alguém, Fique Famoso e Vire Filme



Há um filme que recomendo a todas as pessoas que tiverem paciência para ler este blog:Assassinos por Natureza (Natural Born Killers). Este filme roteirizado pelo até então desconhecido Quentim Tarantino e Dirigido por Oliver Stone, aparentemente pode parecer apenas uma ode a violência gratuita a transformando quase numa "viagem psicodélica". No entanto e expectador atento notará que trata-se de um filme que mostra as vísceras da grande imprensa que vinha desde aquela época transformando a violência num grande espetáculo, consequentemente, tornando assassinos grandes astros. Na película em questão os personagens Mickey(Woody Harrelson) e Mallory(Juliette Lewis)são um casal apaixonado um pelo outro e literalmente loucos pela fama e violência (não necessariamente na mesma ordem). Durante o filme eles matam várias pessoas, sempre tomando o "cuidado" de deixar ao menos um vivo para "contar a história". Neste interim tornam-se astros, principalmente em função de um programa de TV "Maníacos Americanos" ancorado pelo jornalista inescrupuloso Wayne Gale (Robert Downey Jr muito antes de sonhar em ser o homem de ferro). No decorrer desta obra todos tentam tirar "vantagem" dos cruéis criminosos, dentre politicos, policiais, redes de tv e até mesmo o diretor do presídio onde num dado momento eles são confinados. Apesar de exagerada e não raro nauseante,a obra em questão toca na ferida há muito aberta nos Estados Unidos onde, não raro, pessoas tornam-se assassinas para ganhar fama, prestígio, eventualmente dinheiro e poder virar "filme", ser "modelo" para muitos, o maior íncone deles é justamente o assassino Charles Manson que fundou uma seita com adeptos em todo mundo.
O Brasil finalmente esta entrando nesta "moda" com o espetáculo criado em Realengo bairro da cidade Rio de Janeiro. O brutal crime que tirou a vida de várias crianças tornou-se um episódio sinistramente mais monstruoso onde políticos, policiais, "profissionais de saúde mental", especialistas de toda sorte e principalmente boa parte dos meios de comunicação que exploram ao máximo o fato a fim de tirar vantagem de alguma forma. De todos eles a grande imprensa televisiva sem dúvida demonstrou a mais completa falta de compromisso com a informação e sua sede pela audiência, bombardeando seus telespectadores exaustivamente com flashs de parentes chorando, entrevistando sem dó nem piedade as crianças sobreviventes ou pior ainda, indagando aos parentes das vítimas as famosas perguntas de: O que você sente agora ou o que você deseja neste momento...
E a coroação máxima da falta de respeito foi a veiculação da entrevista com o assassino em rede nacional. Não obstante ser de domínio público o nome do meliante não me darei o trabalho de nomeá-lo, afinal, segundo consta de cartas e vídeos desta criatura nefasta, ao cometer o hediondo crime, o mesmo tinha intenção de com isso obter fama, ser ouvido e servir como "modelo". Isso está sendo possível graças a ampla divulgação pela grande imprensa de vídeos e cartas do assassino. E os resultados já vem surgindo, segundo foi noticiado na imprensa (leia a notícia aqui) o assassino de Realengo já está ganhando páginas de apoio nas redes sociais e inúmeros fãs. Enquanto isso o Sargento que no cumprimento de seu dever deteve o criminoso tem pequenas notas na grande imprensa. Se tivesse o mínimo de "sensibilidade" e respeito, bastava noticiar o fato, sem a necessidade de repetição odiosa, onde se renova não só a dor das centenas de pesssoas que conheciam as vitimas, mas também evitando-se criar o clima de histeria coletiva que existe no nomento em boa parte do Brasil sobretudo nas crianças, algumas aterrorizadas e temendo ir a escola. Não há função nem interesse de se saber a história, idéias, vídeos nem tampouco as "razões" insanas que levaram o criminoso a cometer seu ato, até porque este por si só é injustificável.
Nos Estados Unidos, criminosos agora estão sendo proibidos de explorarem economicamente seus crimes através de livros e filmes, inclusive quando há algo neste sentido, o dinheiro em questão vai para as vítimas.
Particularmente não assisto programas policiais e pulo as notícias sobre o assunto quando leio jornais. Todos estamos sujeito ao crime lendo ou não, mas podemos optar em não alimentar essa parte da "imprensa" que explora e vive da miséria alheia.
Espero que o Brasil não se torne um "celeiro" de assassinos em busca de fama e que cada vez mais fiquemos atentos ao que é efetivamente notícia e repudiar a espetacularização da informação.

by Adriano Cabral